O nióbio é um mineral de alto valor no mercado e Araxá responde por 75% da produção mundial
Estado pode ter deixado de receber até R$5 bilhões a que tinha direito na exploração de nióbio

Codemig quer que CBMM reconheça teores do nióbio em Araxá

Companhia afirma que está próximo acordo em torno da extração do mineral, de forma a eliminar divergências societárias.

15/05/2019 - 19:41

A chamada reconciliação técnica, realizada por auditoria externa, para mostrar o perfil da mina, com números da extração no passado e perspectivas futuras, de modo a detectar os teores reais de nióbio em Araxá (Alto Paranaíba). Essa é a principal medida defendida pela Companhia de Desenvolvimento Econômico do Estado (Codemig) no acordo que negocia com a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), relativo à exploração do mineral.

A Codemig tenta a conciliação com a CBMM para que esta reconheça os volumes e teores do mineral nas duas lavras – uma da CBMM e outra pertencente à estatal mineira. A Companhia Mineradora do Pirocloro de Araxá (Comipa), joint venture entre as duas instituições, apenas gerencia as jazidas, cabendo à CBMM a exploração.

Ao participar de audiência da Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (15/5/19), o presidente da Codemig e da Comipa, Dante de Matos, falou sobre a negociação.

De acordo com Dante, o teor de nióbio nunca foi considerado para atender ao preceito de lavras igualitárias, contido na escritura pública entre as partes, firmada em 1972 e com vigência até 2032.

Essa falha, segundo o dirigente, é o que gera a divergência entre os acionistas da Comipa. “Com base na diferença desses teores de nióbio e na paridade que fundamenta o contrato, não se pode considerar apenas o volume de minério para se atender a esse preceito, é fundamental ponderar os teores contidos”, reforçou.

Reservas - O nióbio é hoje um mineral de alto valor no mercado mundial, por ser usado como liga na produção de aços especiais. É um dos mais resistentes à corrosão e a temperaturas extremas, com aplicações em automóveis, turbinas de avião, gasodutos e indústrias aeroespacial, bélica e nuclear. Araxá responde por 75% da produção mundial de nióbio. As reservas mineiras ainda podem ser exploradas por mais de 400 anos.

O contrato firmado entre as duas companhias prevê o controle compartilhado da Comipa, a extração paritária de minério em ambas as minas e o repasse de 25% dos lucros para a estatal mineira.

Dante de Matos destacou que as reservas da Codemig são 43% menores em massa de minério e 18% mais ricas em teor de nióbio do que as da CBMM. Para se ter uma ideia, o teor de nióbio da mina estatal é de 2,62% enquanto que o da empresa privada é de 2,22%. Conforme Dante, quatro pareceres jurídicos de escritórios conceituados sustentam a interpretação da Codemig.

Nessa perspectiva, Dante disse que, na negociação, busca-se uma solução definitiva e de longo prazo entre os acionistas, de modo a preservar os dois aspectos contidos na escritura - paridade e lavra igualitária -, eliminando a possibilidade de futuras divergências societárias. Outro objetivo perseguido na negociação é restabelecer e aperfeiçoar a governança cooperativa da Comipa.

Reconciliação técnica deve terminar em três meses

Questionado pelo deputado Ulysses Gomes (PT), que requereu a reunião, sobre o prazo para conclusão das negociações, o dirigente previu que, para o reconhecimento da reconciliação técnica no contrato, a expectativa é de cerca de três meses.

Sobre a governança, Dante afirmou que o processo está em fase final, com previsão para o fim de maio. E acrescentou que está sendo criado um comitê de gestão, para garantir que a CBMM reconheça, a partir de agora, a paridade e o teor de nióbio. Esse último ponto havia sido levantado pelo ex-presidente da Codemig, Marco Antônio Castelo Branco, presente à reunião.

No dia 17 de abril deste ano, Marco Antônio apresentou à comissão questionamentos sobre a gestão do nióbio, alegando que a Comipa é apenas um instrumento nas mãos da CBMM. Também apontou irregularidades nos relatórios de lavra elaborados pela empresa e ressaltou que são retiradas toneladas a mais de nióbio da mina, o que não é considerado.

A CBMM, por sua vez, afirma que não há irregularidade na administração do nióbio e que a empresa segue o que foi acordado no contrato. O presidente da comissão, deputado Repórter Rafael Martins (PSD), informou que, na próxima semana, deverão ser ouvidos representantes da CBMM em audiência pública.

Perda para o Estado é de cerca de R$ 5,5 bilhões

De 2003 até agora, a perda para o Estado devido ao cálculo incorreto é de cerca de R$ 5,5 bilhões, segundo o deputado Ulysses Gomes. Ele elogiou a postura dos dois presidentes da empresa, que, segundo ele, se mostram movidos pelo interesse público, “sobretudo diante do momento econômico grave que vivemos em Minas Gerais”.

O deputado Repórter Rafael Martins perguntou a Dante de Matos se, feita a reconciliação, a CBMM estaria disposta a fazer o ressarcimento dos valores não pagos desde o início. “Não seria adequado eu responder pela CBMM”, respondeu Dante, completando que seu sentimento é de que há uma predisposição da empresa, mas que “não será fácil”.

O deputado Guilherme da Cunha (Novo) perguntou se seria verdadeira a suspeita de que o governo não teria acesso às informações detalhadas por parte da CBMM. O executivo respondeu que isso não acontece mais. “No passado recente, houve dificuldades. Mas hoje a cooperação da CBMM tem sido a mais ampla e amigável possível. São apresentados dados sobre orçamento e outros”, afirmou.

O deputado Virgílio Guimarães (PT) defendeu que a Codemig pode ter um papel de destaque nesse momento de crise da mineração. “Acho que a empresa pode contribuir para a retomada da mineração de forma equilibrada, moderna, segura e rentável”, apontou. Por fim, o deputado Bosco (Avante) elogiou a audiência, afirmando que ela pode apontar soluções para “uma das piores crises enfrentadas pelo Estado”.

Consulte o resultado da reunião.