Modal ferroviário demanda recursos de mais de meio trilhão
Dado, que integra Plano CNT de Transporte e Logística, foi apresentado em audiência da Comissão Pró-Ferrovias Mineiras.
25/04/2019 - 17:45Cerca de R$ 530 bilhões de investimentos para o desenvolvimento de 440 projetos, entre eles a construção de trem de alta velocidade (TAV) e de ferrovias, a eliminação de gargalos, a duplicação e a recuperação de ferrovias. Essas são as necessidades levantadas pelo Plano CNT de Transporte e Logística, publicado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) em 2018, para que o modal ferroviário seja alavancado no Brasil.
O cenário foi apresentado, nesta quinta-feira (25/4/19), pela coordenadora de economia da CNT, Priscila Braga Santiago, em audiência pública da Comissão Pró-Ferrovias Mineiras da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A reunião, solicitada pelos deputados João Leite (PSDB), presidente da comissão, e Coronel Henrique (PSL) e pela deputada Marília Campos (PT) teve a finalidade de expor o Plano CNT.
De acordo com o documento, do volume de investimentos citado, aproximadamente R$ 79 bilhões correspondem a iniciativas relevantes para o modal em Minas Gerais. Entre elas, para a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a construção da Linha 3 do metrô em Belo Horizonte, da Linha 2 do metrô da Capital a Ibirité e de linhas entre Belo Horizonte a Ribeirão das Neves e a Santa Luzia.
Outros projetos são a construção de ferrovia na Serra do Tigre, de Ibiá (Alto Paranaíba) a Sete Lagoas (Região Central), do contorno ferroviário de Divinópolis (Centro-Oeste) e de Montes Claros (Norte de Minas) e a recuperação de ferrovia para operação de trem de passageiros da Capital mineira a Conselheiro Lafaiete (Região Central).
Conforme consta no plano, a malha ferroviária nacional conta atualmente com 29 mil quilômetros. Outro dado apresentado foi o investimento de concessionárias da ordem de R$ 54 bilhões no modal, entre 2007 e 2018. Entre 2010 e 2018, o número de acidentes relativo ao meio de transporte caiu em 38%.
Bitolas - Um dos principais gargalos do modal, conforme apontou Priscila, diz respeito ao tipo de bitolas. Ela explicou que, quando há encontro de trechos que não têm equivalência de bitolas, é preciso fazer procedimentos como o transbordo. “Isso reflete em perda de tempo, de dinheiro e de eficiência”, comentou.
Apesar das dificuldades, a coordenadora da CNT lembrou que o modal ferroviário foi o único que não teve queda de produção com a crise econômica. Em 2018, foram transportadas cerca de 570 milhões de toneladas úteis, um aumento de 37,3% em relação a 2007. O principal produto transportado é o minério.
Plano trata do transporte integrado como um todo
O Plano CNT de Transporte e Logística identificou os principais projetos e os investimentos necessários para a implantação de um sistema de transporte integrado de cargas e de passageiros no Brasil.
Foram elencadas 2.663 obras, que demandam cerca de R$ 1,7 trilhão de investimentos em todos os modais (rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo, além do transporte público urbano). “Se esses investimentos não forem feitos o quanto antes, mais gastos deverão ocorrer posteriormente”, salientou a coordenadora do CNT, Priscila Braga.
A necessidade de recursos exorbitantes, conforme relatou Priscila, decorre de deficiências de infraestrutura que se avolumaram ao longo dos anos. Para se ter uma ideia, o Brasil ficou na 56ª posição no Índice de Performance Logística de 2018 do Banco Mundial. O País está atrás de Vietnã, Índia e Indonésia. A Alemanha ocupa o primeiro lugar.
“Não conseguimos avançar nem em relação a nós mesmos”, afirmou a coordenadora. Ela acrescentou que faltam planejamento e visão sistêmica no setor, uma vez que são implementadas ações de curto prazo que não se relacionam.
Parlamentares destacam importância do modal ferroviário
Segundo o deputado João Leite, o modal ferroviário não anula o rodoviário, eles se complementam. O parlamentar também abordou o Plano CNT, que, em sua opinião, é denso por tratar de diversos modais. “Fiquei muito impressionado com o trabalho cuidadoso”, disse.
A deputada Marília Campos lembrou que 22 cidades da RMBH contam com linhas de trem. Por isso, conforme disse, investimentos nesse modal são importantes. Já a deputada Celise Laviola (MDB) disse que Minas tem o privilégio de contar com ferrovias e que elas devem ser melhor utilizadas.
Mobilidade - A historiadora e mestre em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável, Ana Maria Nogueira Rezende, destacou que o problema da mobilidade urbana vai além das ferrovias. Ela disse que a possível implantação de linha de trem entre a Capital e Brumadinho (RMBH) deve extrapolar a questão do turismo e atender a moradores da região.
O diretor da ONG Trem, André Luis Tenuta, enfatizou a prioridade dada aos modais aéreo e rodoviário no País em detrimento das ferrovias. A questão foi reforçada pelo diretor comercial da empresa Setrans, Silvio Cunha Morais.
Requerimento - Durante a reunião, foi aprovada uma audiência pública em Itabirito (Região Central) para debater a reativação da linha ferroviária que liga Belo Horizonte a Ouro Preto (Região Central). Os autores do requerimento são os deputados João Leite e Gustavo Mitre (PSC), vice-presidente da Comissão Pró-Ferrovias, e a deputada Celise Laviola.