Apesar da provável solução para este ano, manutenção do museu dependeria da regularização dos repasses de forma definitiva
Custo anual para a manutenção do espaço é de R$ 400 mil, segundo Bernardo Vianna

Lei Rouanet garantirá recursos para Casa de Juscelino em 2019

Em audiência, representante do Executivo disse que projeto aprovado, por meio da norma, permitirá obter financiamento.

24/04/2019 - 20:15 - Atualizado em 25/04/2019 - 11:59

Fechada desde janeiro de 2019, por falta de repasses do Estado, a Casa de Juscelino, no Centro Histórico de Diamantina (Central), poderá ser reaberta graças a projeto aprovado por meio da Lei Rouanet. A captação do valor previsto, na proposta, será realizada junto à Cemig. O anúncio foi feito pela representante do Executivo, Solanda Steckelberg Silva, em audiência pública da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta-feira (24/4/19).

A medida garante os recursos necessários para retomar as atividades do museu em 2019, mas a servidora da Secretaria de Cultura reconhece que ainda é preciso regularizar os repasses de forma definitiva.

Ela lembrou que a edificação, onde o ex-presidente do Brasil Juscelino Kubitschek viveu sua infância e adolescência, pertence ao Estado. “Precisamos cuidar do patrimônio e do que ele representa. A preservação da nossa cultura é a base do desenvolvimento humano, econômico e social”, ressalta Solanda Silva.

A construção de mais de 150 anos feita de pau a pique, técnica construtiva típica do século XVIII, abriga biblioteca, objetos pessoais, fotos e os violões usados pelo político para participar das serestas, também consideradas referências culturais de Diamantina. Apesar de sua relevância, o museu não recebeu, no ano de 2017, os recursos, assegurados pela Lei 9.722, de 1988. A norma autoriza o Executivo a conceder ajuda financeira anual à Casa de Juscelino.

“Começa aí a recente derrocada do museu”, afirma o conselheiro da Casa de Juscelino e advogado, Bernardo Franco Vianna. Ele explica que, em julho de 2018, foram destinados à casa cerca de R$ 140 mil. No entanto, o custo anual para a manutenção do espaço é de R$ 400 mil. “Sem esses recursos, não haverá sustentação das atividades”, alerta o advogado.

Para Bernardo Vianna, a estabilidade do museu passa pelo pagamento do montante referente a 2017 e pelo repasse regular e integral do valor. “Cobramos o cumprimento da lei aprovada pela própria Assembleia”. 

Embora, haja previsão legal para custear o funcionamento da casa, o conselheiro diz que o repasse depende da assinatura de convênio, que deve ser realizada anualmente. Segundo ele, o museu poderia acionar o Poder Judiciário para cobrar os recursos devidos, mas há o entendimento de que o impasse deva ser resolvido por meio de negociações e diálogo; ele espera assim que o termo relativo a 2019/2020 seja assinado.

Lei Rouanet – O projeto, pelo qual a Casa de Juscelino conseguirá reabrir suas portas, foi apresentado pela Empresa Nó de Rosa Produções. De acordo com a sua diretora, Márcia Ribeiro, a proposta já havia sido aprovada pela lei federal de incentivo à cultura. O passo seguinte contou com a intermediação de Solanda Silva, que abordou a Cemig a fim de que a empresa destinasse os recursos ao museu. “A captação resolve o problema da casa apenas para 2019”, lembra Márcia.

A obtenção de financiamentos para eventos e bens culturais funciona da seguinte maneira:

  • primeiro o proponente inscreve o projeto durante o prazo estabelecido por edital do Ministério da Cultura. A inscrição exige detalhes do plano de execução e a contrapartida para o público, além de documentação. O órgão analisa as propostas e aprova aquelas que cumprirem os requisitos.
  • com o documento de aprovação, os interessados podem visitar empresas em busca de doações ou patrocínios. A empresa que concordar em financiar a proposta, em vez de repassar o dinheiro para o governo (em forma de imposto), o concede ao projeto. Empresas patrocinadoras deixam de contabilizar, no IR, 30% do valor cedido. Empresas doadoras, 40%. Com os recursos em mãos, passa-se à fase de execução.

Participantes da reunião destacam importância histórica de JK

Além de presidente do Brasil entre 1956 e 1961, Juscelino Kubitschek foi também governador de Minas e prefeito de Belo Horizonte. Serafim Melo Jardim, presidente do Museu Casa de Juscelino, resgatou a história da edificação, inaugurada em 12 de setembro de 1985, e também do estadista que pediu a Serafim, pessoalmente, que cuidasse da casa.

Ele contou que o pedido foi feito em 9 de agosto de 1976, 13 dias antes do acidente sofrido por JK, que culminou na morte dele. Desde então, o administrador do museu trabalha para manter de pé a casa e a memória histórica e afetiva que a construção carrega. “É o local mais visitado de Diamantina, me entristece notar que JK não seja devidamente lembrado”, lamenta Serafim.

Também para o deputado Duarte Bechir (PSD), a reabertura da casa é fundamental para que se dê acesso aos mineiros e visitantes de muitos países à histórica trajetória política de JK. Para o deputado Professor Cleiton (DC), o político foi o maior estadista do País, o mineiro mais importante do Estado: “Como mestre em História do Brasil, faço essa afirmação com muita tranquilidade, porque ele, de fato, foi o homem que desenvolveu o país 50 anos em 5”.

Os parlamentares Marquinhos Lemos (PT) e Bosco (Avante) ressaltaram ainda a necessidade de se preservar o passado e aprender com os exemplos de JK. Também para o prefeito de Diamantina, Juscelino Brasiliano Roque, não construímos o futuro sem história. Mas, por fim, alertou que o museu não pode ficar totalmente na dependência dos recursos do Estado.

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