Deputados destacaram a importância do pensamento e da obra de Freire e de seu modelo de educação
Wallace Santos abordou a representação negativa dos negros na grande mídia
Legislativo celebra a obra de Paulo Freire

Audiência lembra luta de Paulo Freire pela educação crítica

Em semana de homenagens ao pedagogo brasileiro, participantes pregam a democratização dos meios de comunicação.

19/09/2018 - 19:38

Com críticas à grande mídia, acusada de não formar o cidadão e, ao contrário, de reforçar sua alienação, participantes de audiência realizada na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG) celebraram, nesta quarta-feira (19/9/18), a 21ª Semana Paulo Freire.

O filósofo e pedagogo Freire, patrono da educação brasileira, foi um dos pensadores da pedagogia crítica e pregava uma didática inovadora, que transforma o estudante em protagonista do aprendizado, em contraposição a um processo de educação massiva. A semana, realizada há mais de duas décadas, tem reconhecimento legal em Belo Horizonte desde 2007, por meio da Lei 9.313.

A audiência ocorreu no âmbito da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da ALMG, a requerimento do deputado Rogério Correia (PT), que reforçou a importância do pensamento e da obra de Freire em todo o mundo e sua defesa de uma “escola pelo conhecimento, pela vida, não pela treva”.

“Ele sempre quis inserir as pessoas no debate político, que não tem que ser partidário, de construção da sociedade”, salientou o parlamentar. Ele citou texto de Freire sobre a esperança e defendeu a educação crítica e inclusiva como um dos direitos humanos. “Esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”, diz o trecho.

O deputado Cristiano Silveira (PT) também ponderou que a educação é sempre lembrada como solução para os problemas da sociedade, mas ela deve ser voltada para a formação do sujeito, de sua consciência crítica. “Sempre tivemos a lógica do mercado, não da vida. Discutir Paulo Freire é importante para pensarmos o modelo de educação que queremos para o futuro”, reforçou”

Comunicação deve emancipar o cidadão

“Quem liberta o oprimido é ele mesmo, a partir da leitura crítica da opressão”. A pedagoga do Setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Matilde Oliveira de Araújo Lima, citou Freire para demonstrar a importância de uma “comunicação libertadora”.

“A realidade que está aí não vai mudar por acaso. Precisamos recriar os meios, que se dizem de comunicação, mas nos alienam e nos tiram a capacidade de decidir”, reforçou. Segundo Matilde, Freire tinha uma crítica profunda ao sistema de exploração de minorias sobre maiorias e à “coisificação” das pessoas.

Ela pontua que o educador ousou ter uma prática diferente e, por isso, foi perseguido e exilado pela Ditadura Militar, mas continuou agindo por onde viveu. Matilde reforçou que vários direitos no Brasil vieram da luta de Paulo Freire e de seus contemporâneos. “A esperança deve nos manter vivos e organizados”, pregou.

O jornalista Wallace Oliveira dos Santos, do Jornal Brasil de Fato, trouxe o foco para os diversos tipos de violência que atingem a população negra. Para ele, trata-se de uma marca do período de escravidão que nunca foi superada.

“Uma das violências é a negações do direito de falar e de ser ouvido”, citou, afirmando que o Brasil de Fato, construído de forma associativa, busca dar espaço a essa fala e se contrapor à representação negativa ou restrita dos negros na grande mídia. “Paulo Freire dizia que é impossível ser livre sozinho”, frisou.

Para o jornalista, o combate à violência pela mídia passa pela redemocratização da própria mídia, pelo combate à criminalização das rádios comunitárias e pela redistribuição das verbas públicas destinadas à publicidade. “Os grandes meios nos influenciam de forma unilateral. Temos que ser educados para receber isso de forma crítica”, pontuou.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), William Santos, reforçou que os grandes meios de comunicação no Brasil nunca foram instrumentos de emancipação do povo.

“Esse debate é um contraponto ao que estamos vendo na sociedade”, afirmou, citando as críticas de internautas que negaram a existência do Holocausto, em postagem feita pela Embaixada da Alemanha nas redes sociais. “Paulo Freire estava certo. A escola tem que fazer a formação crítica”, pontuou.

MST – Com o tema “Ação Cultural para a Liberdade”, nome de uma das obras do educador, a Semana Paulo Freire contou com várias atividades em Belo Horizonte. Falta ainda a homenagem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que será nesta sexta-feira (21), às 19 horas, no Armazém do Campo, também na Capital.

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