Na reunião, pacientes com bexiga neurogênica, usuários ou ex-usuários do cateter convencional, relataram a ocorrência de dores e risco de infecção urinária
Pacientes se queixaram da quantidade e da qualidade do material fornecido pelo SUS para tratamento
Cateterismo foi defendido por Gisela, mas procedimento não seria livre de complicações
Uso de sonda especial pode trazer mais conforto para quem tem bexiga neurogênica

Protocolo poderá viabilizar uso de cateter hidrofílico

Grupo de trabalho vai propor distribuição, pelo SUS, de sondas mais flexíveis para pacientes com bexiga neurogênica.

11/06/2018 - 19:38

A criação de um grupo de trabalho destinado a elaborar um protocolo capaz de viabilizar, na esfera pública de saúde, a oferta de cateter hidrofílico para pessoas com retenção urinária crônica foi a principal deliberação da audiência pública conjunta das Comissões de Saúde e de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada nesta segunda-feira (11/6/18).

A audiência teve por objetivo debater as formas e as condições de tratamento oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às pessoas com deficiência que apresentam bexiga neurogênica, uma disfunção do órgão que pode estar associada a alguma doença, incidente ou a algum problema congênito, como em pessoas que usam cadeiras de rodas.

A princípio, o grupo de trabalho será formado por oito integrantes e a primeira reunião já foi marcada. Será na terça-feira (19/6/18), às 16 horas, no âmbito da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da ALMG.

O grupo será formado por integrantes dessa comissão e também da comissão equivalente da Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais (OAB-MG), reunindo ainda representantes da Defensoria Pública do Estado, do grupo de mães de crianças com disfunção, da Secretaria de Estado de Saúde e da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, além de dois usuários de cateter.

Durante a audiência, convocada a requerimento do deputado Duarte Bechir (PSD), pacientes com bexiga neurogênica, usuários ou ex-usuários do cateter convencional, relataram a ocorrência de dores atrozes, risco de infecção urinária, lesões na uretra e dificuldade de higienização, sobretudo nos banheiros públicos.

Por isso, defenderam a substituição do cateter rígido, fornecido atualmente pelo SUS, por sondas hidrofílicas, flexíveis, que permitem um procedimento menos agressivo e mais eficiente.

Reutilização - Eles se queixaram ainda que o material fornecido pelo SUS não é limitador apenas do ponto de vista da qualidade, mas também da quantidade, já que o número de kits ofertados por mês mal dá para uma semana.

O SUS recomenda que eles reutilizem a sonda, após lavá-la, procedimento que consideram arriscado. Diante disso, muitos recorrem à justiça para conseguir atendimento adequado.

Thiago Helton Miranda Ribeiro é membro da comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da OAB-MG e usuário de cateter há nove anos. Segundo ele, quando se demanda judicialmente, a Procuradoria-Geral do Estado sustenta a tese de reutilização. “Não se pode pensar em política pública sem autonomia do paciente”, protesta.

Cejusc - Maurício Pinto Ferreira, juiz auxiliar da 3ª Vice-Presidência do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG), afirmou que a judicialização não é a saída mais adequada. Ele apontou a criação do Centro Judicial de Solução de Conflitos e Cidadania, o Cejusc, como uma alternativa viável. E lembrou que já está avançada a proposta de implantação de uma unidade na ALMG.

O Cejusc é um projeto do TJMG), que conta com 125 unidades espalhadas em Minas Gerais. “É um centro de mediação e conciliação, que dispensa a judicialização e tem sido bem sucedido. Só no ano passado alcançamos 180 mil acordos pré-consensuais”, disse o juiz. “Esperamos que a gente possa concluir rapidamente também a implantação da unidade na Assembleia”, concluiu.

Especialista aponta avanços e recomenda uso da sonda hidrofílica

A coordenadora do Ambulatório de Disfunções Miccionais do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, enfermeira Gisela Maria Assis, afirmou que os avanços obtidos com o uso do cateter hidrofílico são significativos.

Segundo explicou, com funcionamento normal, a bexiga é coordenada pelo cérebro, através da medula espinhal, um processo complexo que é prejudicado quando há uma lesão na medula.

Quando isso ocorre, a pessoa perde o controle da bexiga, ocasionando dois comportamentos: bexiga hipoativa, quando há incapacidade de se contrair e pode haver retenção da urina; ou hiperativa, quando a bexiga é flácida e esvaziada por reflexos incontroláveis.

“Em caso de disfunção, a bexiga não esvazia completamente na micção e o líquido parado transforma-se em ambiente propício à multiplicação de micro-organismos, porque a bexiga enche muito e só transborda, não esvazia, podendo causar danos renais graves, com risco de infecção urinária. A solução, então, é o cateterismo. Mas o procedimento não é livre de complicações”, explicou, defendendo, por isso, o uso da sonda hidrofílica, mais flexível e de utilização mais simples.

Simone Palmer Caldeira, da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, também defendeu o uso do material hidrofílico e propôs a elaboração de um protocolo para viabilizar a oferta do material, comprometendo-se a fazer um relatório a respeito à Secretaria.

O presidente da comissão, deputado Duarte Bechir, se entusiasmou com a ideia e sugeriu a composição do grupo de trabalho para estudar a proposta.

Consulte o resultado da reunião.