Professoras lotaram o Auditório da Assembleia, pediram mais reconhecimento à categoria e criticaram a postura da administração municipal
Maria da Conceição falou sobre as dificuldade de negociar com a prefeitura
Parlamentares defenderam a legitimidade do movimento grevista da educação

Unificação de carreiras é demanda de professores em greve

Parados há 46 dias, educadores da rede infantil denunciam intransigência da prefeitura e corte de salários.

08/06/2018 - 13:50

A diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte, Maria da Conceição Oliveira Silva, afirmou que o mínimo que a categoria pode aceitar é o atendimento de 80% das reivindicações feitas, conforme proposta que a prefeitura já apresentou e depois retirou, segundo ela.

A declaração foi dada durante audiência pública na manhã desta sexta-feira (8/6/18) que tratou da greve dos professores das Unidades Municipais de Educação Infantil (Umei), que já dura 46 dias. "Não aceitamos menos do que isso. Não somos moleques, somos trabalhadoras", disse Maria da Conceição.

A reunião foi realizada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A ausência de representantes da prefeitura foi criticada por todos os presentes, que ressaltaram que o prefeito, Alexandre Kalil, fechou todas as negociações.

Uma das principais reivindicações da categoria é a unificação com a carreira de professores do ensino fundamental. As educadoras do ensino infantil têm salário inicial de R$ 1.450, enquanto as do ensino fundamental começam a carreira com R$ 2.220, ambos valores brutos.

A dificuldade em se negociar com a prefeitura começou, segundo a diretora do sindicato, desde a apresentação das reivindicações. Ela afirmou que quase 15 dias antes do início da greve as demandas foram entregues ao prefeito e nenhuma resposta foi oferecida.

Ela ressaltou, ainda, que algumas propostas chegaram a ser oferecidas pela prefeitura, mas todas foram retiradas. As professoras, já que mulheres são maioria na categoria, que lotaram o Auditório da ALMG durante a reunião demonstraram insatisfação com a postura da administração municipal.

Outro ponto salientado pelos convidados foi a truculência com que o movimento foi recebido em frente à prefeitura da Capital no primeiro dia da greve, 23 de abril.

“Sou militante desde a década de 1970 e me lembro que, em 1979, o governo da Ditadura colocou a polícia para bater em professores. Elas apanharam, receberam bombas de gás e jatos d’água. Isso ficou na memória dos professores mineiros. E nós, no mês passado, fomos tratados exatamente do mesmo jeito”, disse Maria da Conceição. Ela acusou o prefeito Kalil e o governador Fernando Pimentel de ordenarem os ataques.

Reconhecimento - A busca pela dignidade da profissão também pautou a manifestação da professora Maria Antonieta Viana. “Não queremos aumento de salário, queremos reconhecimento”, disse, ao ressaltar que a proposta atual, que oferece ganho salarial para parte da categoria, não as contempla, já que o que elas querem é a unificação da carreira com a dos professores do Ensino Fundamental.

Segundo Maria Antonieta, as Umeis contam com cerca de 4.700 educadoras e a proposta de aumento é só para aquelas que cursaram pedagogia ou escola normal (magistério), não para todas as que completaram curso de graduação.

Outra preocupação apresentada pela professora foi o corte de parte dos salários das professoras que estão em greve. “Ontem uma professora da Umei Baleia veio a mim no acampamento pedindo pelo amor de Deus para ganhar uma cesta básica. Isso não é aceitável”, disse. O movimento grevista está fazendo uma campanha para arrecadar essas cestas e distribuir entre as que tiveram cortes salariais. Ela se emocionou e disse que o sucateamento do salário da categoria começou há cerca de 14 anos.

O representante do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE/MG), Paulo Henrique Fonseca, manifestou o apoio ao movimento dos educadores municipais. Disse, ainda, que os professores estaduais também devem entrar em greve a partir da próxima segunda-feira (11) para pedir o fim dos parcelamentos dos salários.

Deputados apoiam a greve e falam do cenário nacional

O deputado Rogério Correia (PT), autor do requerimento que deu origem à audiência pública, criticou a prefeitura por não negociar e pelos cortes nos salários de quem está em greve. Ele ressaltou que a luta por direitos é legítima.

O parlamentar disse, ainda, que a luta pela educação é ampla e lembrou de perdas nacionais, especialmente a PEC do teto, que congelou os investimentos em educação, e a venda do direito de exploração do pré-sal a multinacionais.

“Na época da Dilma, o dinheiro do pré-sal seria usado para saúde e educação, agora foi vendido. Isso diz sim respeito à educação”, afirmou.

Em coro com o autor do requerimento, o deputado Cristiano Silveira (PT) repudiou as ações do governo federal e apoiou a greve dos professores municipais. “Todos os direitos que temos hoje vieram com luta e resistência”, disse. Já o deputado Fred Costa (Patri) disse que não se posicionaria sobre as políticas nacionais, mas sobre a greve também manifestou apoio. Ele repudiou, ainda, as agressões aos professores.

Encaminhamentos – Os parlamentares afirmaram que vão fazer uma mobilização na Casa para convidar os deputados a irem juntos até o prefeito na próxima segunda-feira (11) para entregar, ao lado de repesentantes do movimento dos professores, um pedido para que sejam reabertas as negociações. Eles também afirmaram que trabalharão junto aos órgãos responsáveis para que as investigações sobre a atuação policial no dia 23 de abril avancem.

Consulte o resultado da reunião.