Procons temem que a limitação de coberturas dos planos de saúde traga prejuízo para os consumidores
Apesar de reconhecer falhas no projeto, Mônica acredita que ele traria maior segurança jurídica para todos
Procons pedem suspensão da análise de mudanças em regras de planos de saúde.

Projeto que muda regras de plano de saúde provoca polêmica

Uma das dúvidas sobre o PL federal é a possibilidade de retirar a exigência de os planos obedecerem às regras do CDC.

09/05/2018 - 19:59

Em reunião na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o Projeto de Lei Federal 7.419/06, que altera as regras dos planos e seguros de saúde privados, foi objeto de críticas e também de alguns elogios. Nesta quarta-feira (9/5/18), a Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte reuniu representantes de Procons, planos de saúde e outros envolvidos para debater a proposta.

As principais ressalvas dizem respeito às dúvidas sobre a possibilidade de o PL retirar a exigência de os planos de saúde obedecerem às regras do Código de Defesa do Consumidor (CDC) e com relação às regras de cobertura do atendimento de urgência e emergência.

O assessor jurídico do Procon Estadual, Ricardo Amorim, demostrou sua preocupação ao afirmar que a saúde não deve ser tratada como produto. Disse que à proposição foram anexados 140 projetos, o que o tornou confuso. “É como se víssemos a implosão do sistema privado de saúde. Minha proposta é de que parem este projeto e façam outro”, sugeriu.

Rariucha Braga, do Fórum dos Procons Mineiros, alertou que, se o CDC for excluído como norma a ser observada, os Procons serão afetados. “O projeto considera que o atendimento dos planos de saúde não caracteriza relação de consumo”, afirmou.

Procons - O representante do Procon BH, Afrânio Lima, considerou que a limitação de coberturas dos planos de saúde traria prejuízo para os consumidores e, em consequência, impactaria o Judiciário e os Procons.

Marcelo Barbosa, coordenador do Procon Assembleia, ponderou ainda que, se a restrição ao CDC vigorar, os valores das multas para empresas cairão muito, incentivando as operadoras a descumprirem suas obrigações. O Código prevê a aplicação de multas de até R$ 7 milhões e o projeto, de, no máximo, R$ 1 milhão.

Planos de saúde veem avanço na legislação

Na avaliação de Mônica Figueiredo, da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde/RJ), o novo projeto traz maior segurança jurídica para todos. O que não pode continuar, em sua opinião, é a situação atual, em que planos de saúde e usuários convivem com regras que, muitas vezes, não têm coerência entre si, provocando incertezas.

Apesar de reconhecer falhas no PL, Mônica o defendeu ao dizer que ele tem sido amplamente discutido. “Temos compromisso de contribuir neste debate, com transparência e responsabilidade, conciliando o bom atendimento dos consumidores com a sustentabilidade do sistema”.

Sobre o rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que, segundo os Procons, deverá ser reduzido com a nova lei, Mônica acredita que ele trará maior segurança. “Esse rol prevê mais de 3.300 procedimentos e mais de 90% já é previsto pela Associação Médica Brasileira”, apontou. E acrescentou que, para incorporação de novas tecnologias e procedimentos, o projeto prevê a necessidade de estudo prévio de custo e efetividade.

Ela lembrou ainda que, hoje, os principais balizadores do atendimento da saúde suplementar são duas normas de 1998, muitas vezes em conflito: a Lei Federal 9.656 e a Resolução nº 13 da ANS. A primeira trata dos planos e seguros privados de assistência à saúde e a segunda, do atendimento de urgência e emergência.

Prazos - Uma contradição entre as duas normas foi apontada por Carlos Muzzi de Oliveira, da Unimed de Uberlândia (Triângulo). Segundo ele, a lei federal estabelece o prazo de 24 horas para que o paciente seja atendido na urgência e emergência até ser transferido para o Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto a resolução prevê 12 horas. Mesmo observando problemas no projeto, Carlos defende sua aprovação.

Ricardo Morishita, presidente do Instituto de Pesquisas Jurídicas e Sociais de Brasília (DF), considerou o projeto muito complexo, mas necessário. Por outro lado, opinou que é fundamental o amplo debate da matéria por toda a sociedade. “O desafio não é discutir apenas a saúde suplementar, mas a saúde do cidadão brasileiro”.

Quanto à retirada da sujeição dos planos de saúde ao Código de Defesa do Consumidor, Ricardo informou que esse ponto foi excluído do relatório final.

Ausência de representante da ANS é criticada

O presidente da comissão, deputado Felipe Attiê (PTB), que requereu a reunião, lamentou a ausência de representante da ANS. Ele enfatizou que o PL 7.419/06, que tramita em regime de urgência, mexe com a vida de milhões de brasileiros.

“O sistema de saúde complementar tornou-se de grande importância para a população brasileira e também para o governo, que sente alívio na pressão por atendimento na saúde pública”, declarou. E completou que melhor seria se o projeto fosse apresentado pelo Executivo federal, depois de ouvir todos os envolvidos.

O deputado João Leite (PSDB) fez algumas sugestões de encaminhamento, acatadas por Attiê. Ele propôs a criação de uma mesa permanente para discutir a pertinência de incluir na cobertura dos planos avanços em tecnologias e procedimentos médicos.

João Leite também sugeriu que as notas taquigráficas da reunião sejam encaminhadas ao Congresso Nacional. E que a Consultoria da ALMG faça estudos para verificar como a Casa poderia legislar de maneira concorrente nesse tema.

Consulte o resultado da reunião.