A importância do serviço social gratuito foi exaltada por participantes
Integrantes da Missão Onda, de Esmeraldas, contaram um pouco da experiência da organização
Janete Azevedo trouxe o relato da Comunidade Terapêutica Mães e Filhos de Itaúna
Audiência ouviu várias pessoas que se dedicam à recuperação de dependentes químicos.

Participantes de audiência defendem rede de voluntariado

União entre instituições e pessoas que fazem trabalhos gratuitos pode ampliar a oferta dos serviços sociais.

02/05/2018 - 19:53 - Atualizado em 03/05/2018 - 11:25

A criação de uma rede de voluntariado para expandir e fortalecer o trabalho feito por instituições e pessoas em diferentes áreas sociais foi sugerida em audiência pública realizada nesta quarta-feira (2/5/18) pela Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

A ideia foi apresentada por Heliomar Pereira Santos, líder da Trupe da Arte Missão Onda, organização que utiliza a arte circense para trabalhar a prevenção às drogas com crianças de escolas públicas em Esmeraldas (Região Metropolitana de Belo Horizonte).

Para ele, a união entre todos os voluntários pode facilitar o trabalho individual de cada um, tanto no custeio quanto na troca de informações dos serviços oferecidos.

Heliomar justificou que, numa rede, as informações são disponíveis para todos. “Sozinhos somos muito bons, mas, juntos, somos imbatíveis”, disse. A Missão Onda já atendeu mais de quatro mil alunos da rede pública de Esmeraldas, por meio de 30 voluntários diretos e entre 100 e 120 indiretos.

O presidente da comissão, deputado Antônio Jorge (PPS), sugeriu um novo encontro entre os participantes da audiência para dar encaminhamento à proposta. Em sua opinião, além do fortalecimento do trabalho voluntário, uma rede pode articular conjuntamente as ações dispersas entre várias pessoas e comunidades.

O deputado apresentou sugestões a serem debatidas no encontro sugerido, como a realização de uma feira de voluntários e a elaboração de um censo destinado a levantar o número de voluntários e comunidades no Estado.

Ele defendeu ainda maior participação do poder público, afirmando que o Estado tem que ajudar a financiar as ações do terceiro setor. “Voluntariado tem que ser com profissionalismo, pois não existe causa sem recursos”, justificou.

O pastor Jonas Ângelo, que há seis anos desenvolve trabalho voluntário com moradores em situação de rua, também mostrou entusiasmo com a proposta. Ele disse que muitas vezes encontra pessoas com dependência química que gostariam de ser tratadas por alguma comunidade terapêutica e ele não sabe para onde encaminhá-las.

“A maioria das comunidades cobram pelo serviço e um morador de rua não tem como pagar”, exemplificou.

Trabalho voluntário é imprescindível

Para o deputado Antônio Jorge, há trabalhos sociais que são mais bem executados por voluntários do que por governos, devido à desburocratização do serviço e à proximidade entre quem doa e quem recebe o benefício. “O voluntariado é um marco civilizatório. Quanto mais fortalecido numa sociedade, mais avançada ela é”, afirmou.

A presidente do Conselho Municipal de Políticas sobre Álcool e outras Drogas de Contagem (RMBH), Soraya Romina, também considera que o voluntariado alcança lugares aonde muitas vezes o poder público tem dificuldade de chegar. “Trabalhamos de madrugada, à noite, final de semana, feriado, sem ganhar absolutamente nada. No poder público, nem sempre isso é possível”, afirmou.

Ela defendeu maior integração entre quem faz voluntariado e as redes oficiais de atenção social. “Muitas pessoas que precisam do serviço não sabem nem a quem recorrer”, disse.

Exemplos de sucesso e superação

Exemplos desse trabalho voluntário foram descritos pelos participantes da audiência pública. Ana Martins Godoy Pimenta, presidente da Federação Nacional das Comunidades Terapêuticas Católicas e Instituições Afins, de Governador Valadares (Vale do Rio Doce), iniciou o trabalho assistencial após se deparar com a dependência química do filho adolescente, em 2001. Nove anos depois, tornou-se coordenadora nacional da Pastoral da Sobriedade.

A instituição conta com 40 mil voluntários em todos os estados, exceto Roraima. Desde 2012 já atendeu cerca de oito milhões de pessoas – entre dependentes e familiares. “A busca do voluntário é para continuar a própria recuperação ou retribuir o que recebeu de graça”, ilustrou Ana.

Tio Flávio, criador do Tio Flávio Cultural, contou que o movimento voluntário desenvolve 23 projetos oferecidos a prostitutas, presidiários, moradores de asilos, abrigos e albergues, além de estudantes de escolas públicas. São programas culturais, palestras, visitas, brincadeiras e incentivo ao empreendedorismo.

Voluntária há 22 anos, quando também superou a dependência química, Janete Azevedo é a presidente da Comunidade Terapêutica Mães e Filhos de Itaúna (Centro-Oeste de Minas).

Há cinco anos ela direciona os trabalhos para mulheres, gestantes ou mães de crianças de até três anos que sofram com dependência química.

Criado pelo empresário Marcos Calmon, o Projeto Banho de Amor oferece cuidados higiênicos para pessoas em situação de rua de Belo Horizonte. Em desenvolvimento há pouco mais de um ano, o projeto já conta com 1,6 mil voluntários. São oferecidos serviços médico, odontológico, enfermagem, psicologia, manicure, cabeleireiro, barba, reiki, além de encaminhamento para empregos.

Outro projeto de sucesso é a Missão Batista da Cristolândia, que, segundo seu coordenador estadual, Otílio Moraes de Castro, possui 43 unidades em oito estados. Em 2017, atendeu 139 mil usuários de drogas.

O assessor da Secretaria Municipal de Defesa Social de Contagem, Fabiano Augusto dos Reis, é outro exemplo de trabalho voluntário. Ex-usuário de drogas, desenvolve o assistencialismo em diferentes projetos, desde que se recuperou da dependência, em 2000.

Consulte resultado da reunião.