Prefeitos e moradores temem prejuízos para o turismo e impacto para a saúde e o meio ambiente
Anderson de Oliveira disse que a obra tem 33 impactos previstos, sendo 28 negativos
Deputados cobram informações sobre impactos de linha de transmissão de Belo Monte

Autoridades pedem novos estudos sobre linha de transmissão

Empreendedor minimiza impactos da instalação de eletrodos do Sistema Xingu-Rio no Sul de Minas.

17/04/2018 - 20:25 - Atualizado em 18/04/2018 - 11:29

Representantes do Ministério Público se uniram a deputados da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para reivindicar novos estudos sobre os impactos da instalação de equipamentos de transmissão de energia no Sul de Minas. Moradores e prefeitos temem, sobretudo, prejuízos à saúde, ao turismo e ao meio ambiente.

O debate ocorreu nesta terça-feira (17/4/18), em audiência das Comissões de Minas e Energia e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. A Xingu-Rio Transmissora de Energia (XRTE), empresa responsável pelo empreendimento, minimizou seus impactos. Mas como o local da obra já foi modificado duas vezes, autoridades apontam a falta de estudos específicos e de esclarecimentos à população.

O sistema de transmissão Xingu-Rio trará energia excedente da Usina de Belo Monte, no Pará, para o Rio de Janeiro, percorrendo ainda Tocantins, Goiás e Minas Gerais. Com mais de 2.500 quilômetros de extensão, a linha demandará a instalação de eletrodos terrestres para ter estabilidade. E é esse equipamento o principal alvo de preocupação no Sul de Minas.

O chamado eletrodo é um conjunto de cabos enterrados no solo. Sua instalação atende a inúmeras especificidades técnicas, entre as quais características geomorfológicas de terreno. Segundo o diretor da XRTE Anselmo Leal, essa foi a razão da troca de local, inicialmente em Andrelândia, depois em São Vicente de Minas e, agora, em Minduri, todos no Sul do Estado.

MP aponta prejuízo na participação popular

O promotor Alex Fernandes ponderou, contudo, que as populações dessas cidades não foram informadas a tempo sobre o projeto e suas alterações.

“Na segunda audiência sobre a obra em Andrelândia, houve a mudança para São Vicente, sem que os moradores dessa cidade estivessem lá”, exemplificou.

Ainda de acordo com o promotor, o estudo de impacto ambiental está incompleto e não diz, sequer, se haverá o aproveitamento de linhas de transmissão já existentes.

A procuradora da República Ludmila Duarte acrescentou que o formato do eletrodo também mudou, de horizontal para vertical, sem o esclarecimento de possíveis implicações dessa mudança.

“O Ministério Público já recomendou ao Ibama a realização de nova audiência em Minduri”, afirmou a procuradora, referindo-se ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

Requerimentos – Esse foi também o teor de um dos requerimentos do deputado Cabo Júlio (PMDB), aprovados ao final da audiência. O parlamentar foi também o autor da proposta de realização do debate.

Já o deputado Antonio Carlos Arantes (PSDB) teve aprovado, entre outros, requerimento em que solicita ao Ministério de Minas e Energia (MME) e à XRTE que estudem a possibilidade de adotar alternativas tecnológicas à implantação do eletrodo.

Arantes ainda solicitou ao Ibama que a emissão da licença de operação da obra seja precedida de amplos estudos sobre todos os possíveis impactos. “Isso é fundamental para que depois não sejamos culpados por negligência em relação à saúde da população”, ponderou.

Impactos inevitáveis serão compensados, diz XRTE

O coordenador de estudos ambientais do projeto, Anderson de Oliveira, detalhou todo o trabalho e disse que a obra tem 33 impactos previstos, sendo 28 negativos e cinco positivos, entre os quais a geração de emprego e o aumento de arrecadação.

Segundo ele, os danos que não puderem ser evitados ou corrigidos serão compensados. É o caso, por exemplo, da supressão de vegetação, que atinge, segundo a empresa, 0,5 hectare. A proposta é de reposição florestal de 40 hectares, além de resgate de sementes e mudas e acompanhamento de fauna.

Anselmo Leal, da XRTE, acrescentou que todas as 32 condicionantes da licença prévia foram atendidas. Com base na experiência de outros eletrodos instalados no Brasil e no mundo, ele afirmou que não há risco de choque para quem andar na área nem de aquecimento ou ressecamento do solo.

A obra também não afetaria, segundo ele, transformadores ou linhas telefônicas. “Temos dez eletrodos no Brasil. Em Araraquara (SP), há produção de cana em volta do eletrodo e benfeitoria a 930 metros. O de Itaipu opera há 30 anos”, exemplificou.

Antenas preocupam deputados

O deputado Cabo Júlio salientou que, além da obra do eletrodo, a própria linha de transmissão também preocupa. “São 5 mil torres. Para o turismo isso é um desastre. Por onde vão passar? Atingirão benfeitorias?”, questionou.

Anselmo Leal afirmou que a XRTE já entregou ao Ibama a lista das propriedades afetadas, algumas delas inviabilizadas pela instalação das antenas, que devem estar no mínimo a 150 metros de habitações.

Para o deputado Fabiano Tolentino (PPS), a maior parte dos questionamentos feitos à empresa e aos órgãos reguladores federais ficou sem resposta. “A empresa mostrou seu ‘canto da sereia’, como se fosse uma maravilha, mas não é assim”, criticou. Prefeitos presentes também se posicionaram contra a obra.

Já os representantes do MME, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) salientaram a necessidade da obra para atender ao aumento de demanda no Sudeste e classificaram os impactos como gerenciáveis.

“Belo Monte não tem reservatório, e o sistema Xingu-Rio é necessário para transmitir o excedente de energia gerada na usina, sob pena de termos que acionar termoelétricas para atender à demanda, com impactos ainda maiores para a população”, sintetizou Fernando José Carvalho, do ONS.

Consulte o resultado da reunião.