A companhia Baobá fez uma apresentação durante a reunião sobre a preservação da cultura de matriz africana
Júnia Bertolino (à esquerda) explicou que a premiação surgiu para homenagear os mestres populares de BH
Manifestações da cultura negra são ferramentas de resistência ao racismo

Luta contra o racismo é reforçada na Comissão de Cultura

Em audiência pública, membros da comunidade negra condenam o preconceito e a segregação racial.

29/11/2017 - 19:12 - Atualizado em 19/02/2018 - 12:05

Para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro) e os vencedores da 8ª edição do Prêmio Zumbi de Cultura, a Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) recebeu diversos representantes do movimento negro nesta quarta-feira (29/11/17).

Autor do requerimento para realização da reunião, o deputado Rogério Correia (PT) reforçou que a data é de luta porque o racismo é bastante forte na sociedade brasileira. “Nos envergonham muito os episódios que temos visto na mídia, de pessoas sendo expressamente racistas, sem nenhum pudor. Em vez de inclusão, em pleno século XXI, temos que lidar com preconceitos”, lamentou.

Para ilustrar o problema do racismo, a secretária dos Agentes de Pastoral Negros do Brasil, Sarah Santos, relatou episódio que vivenciou recentemente, ao buscar o seu filho na escola. “Me deparei com uma faixa de comemoração da ‘Consciência Humana’, com crianças brancas usando perucas black power, e o diretor da escola me disse que eu havia ‘ido fantasiada’ para a ‘festa’. Eu não me fantasio de negra, eu sou negra! Fui reclamar e a professora disse que ‘eles não enxergavam’ dessa forma", disse ela, que se sentiu desrespeitada. "A luta é todo dia, em todo lugar, sempre”, desabafou.

Representando a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), Eva Alves Pereira elogiou o Prêmio Zumbi. Promovida pela companhia de dança Baobá Minas, a iniciativa premiou diversas personalidades em solenidade realizada no Sesc Palladium na última quarta-feira (29). “Fomos sequestrados e erguemos este País de graça. Depois da abolição, queriam nos dizimar. Esse prêmio nos torna protagonistas e nos enche de orgulho”, explicou.

Ela também afirmou que o racismo brasileiro sempre foi, historicamente, dissimulado, mas atualmente está cada vez mais escancarado. “Querem tirar nossas cotas, que não são nenhum favor, mas um pagamento do governo brasileiro a uma dívida histórica que o País tem conosco”, completou.

A idealizadora do Prêmio Zumbi e diretora da companhia Baobá, Júnia Bertolino, explicou que a premiação surgiu para homenagear os mestres populares de Belo Horizonte. Segundo ela, trata-se da única premiação para dar visibilidade aos artistas negros da Capital.

“O Dia da Consciência Negra é para refletirmos sobre as políticas públicas para a população negra. Estamos convivendo com intensa intolerância religiosa, preconceito e racismo. Todos precisamos pensar: o que estamos fazendo para melhorar o mundo ao nosso redor?”, questionou.

Ela defendeu que o negro deve usar seu corpo como forma de resistência. “Somos bonitos, nosso cabelo é bonito, nosso biotipo é bonito. Não devemos ter vergonha, mas sim orgulho”, afirmou.

Plano Estadual de Cultura - O presidente da Comissão de Cultura, deputado Bosco (Avante), reforçou que preservar a cultura de matriz africana é preservar a história do Brasil. Ele falou da importância do Plano Estadual de Cultura, que norteará as ações governamentais nessa área pelos próximos dez anos.

“Éramos o único Estado sem esse planejamento de longo prazo. Graças ao esforço conjunto do governo e dos órgãos da cultura, conseguimos aprová-lo, de forma bastante democrática”, comemorou o parlamentar.

Durante a reunião, foi exibido um vídeo da Fundação Municipal de Cultura com um resumo dos principais momentos e celebrando os vencedores do Prêmio Zumbi deste ano. Também foi feita uma apresentação de dança da companhia Baobá.

Consulte o resultado da reunião.