O evento, realizado pela ALMG, busca contribuições da sociedade para a construção do plano estadual
Marques Neto disse que um dos meios para democratizar o acesso aos livros é ampliar o acesso às bibliotecas
Mayer afirmou que existem hoje no Brasil mais de 400 bibliotecas comunitárias
Torelli informou que Minas Gerais tem o melhor índice de habitantes por biblioteca no Brasil

Analfabetos funcionais representam um quarto dos brasileiros

Dado foi apresentado pelo coordenador do Plano Nacional do Livro e da Leitura na etapa final do Fórum Semeando Letras.

22/11/2017 - 20:15 - Atualizado em 23/11/2017 - 11:33

Um quarto da população brasileira (mais de 50 milhões de pessoas) é formada por analfabetos funcionais. E três quartos dos jovens do País, um contingente de 78 milhões, não vão concluir o ensino médio. É nesse cenário difícil que se busca a aprovação do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), iniciado em 2006.

As informações foram transmitidas por José Castilho Marques Neto, secretário-executivo do PNLL, que participou do Fórum Técnico Semeando Letras, na tarde desta quarta-feira (22/11/17), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

O fórum busca contribuições da sociedade para a construção do Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas. O plano nacional tem a participação dos Ministérios da Cultura e da Educação (MinC e MEC) e tem como objetivo principal unir sociedade e poder público na busca da formação de novos leitores.

“Um dos graves problemas que temos que enfrentar é esse do Brasil que lê, mas não entende o que está lendo”, afirmou Marques Neto. “Formar leitores significa formar cidadãos com habilidade para debater, com noção de direitos e deveres, capacidade crítica e de construção de alternativas imaginativas e racionais”, disse.

Para atingir essa meta, o dirigente informou que o PNLL baseou sua estratégia em vários eixos: democratização do acesso; existência dos mediadores de leitura; valorização da leitura e da comunicação; e desenvolvimento da economia do livro, para que o Brasil não perca autonomia no mercado editorial.

Um dos meios previstos para democratizar o acesso aos livros, segundo Marques Neto, é tentar ampliar o acesso às bibliotecas. Ele valorizou o esforço feito pelas administrações anteriores de ampliar recursos para o MinC, o que possibilitou o aumento de bibliotecas no País.

Em 2006, o Ministério da Cultura tinha apenas R$ 6 milhões de orçamento e, em 2009, o valor saltou para R$ 95 milhões, com a implantação de 1.656 novas bibliotecas.

Arte permite a livre expressão da palavra

A doutora em letras Maria Antonieta Antunes Cunha citou a frase de Paulo Freire - “A leitura do mundo precede a leitura escrita” - para explicar que a palavra ajuda a construir a imagem que se tem do mundo. “Estamos irremediavelmente atrelados à palavra, por isso, somos humanos”, disse.

Ela acredita ainda que, em bibliotecas e salas de aula, convivem obrigatoriamente tipos de leitura: o instrucional, que é o conhecimento objetivo e formal; e o expressivo, que permite análise, interpretação e discussão, de modo a formar crenças, opiniões, gostos e atitudes. “Nesse último tipo, entra a arte; só ela possibilita que nos posicionemos livremente”, concluiu.

Bibliotecas comunitárias - Bel Santos Mayer, coordenadora do Programa de Direitos Humanos do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac), falou da contribuição das bibliotecas comunitárias para a formação de leitores. Ela informou que, no Brasil, hoje há três redes de bibliotecas comunitárias, englobando mais de 400 unidades.

Mayer disse que essa rede busca formar leitores sustentáveis, por intermédio dos mediadores de leitura. Eles propõem eventos que possibilitam exposição contínua a histórias, livros e autores, além de compartilhamentos literários e ainda, tempo para ler, escrever e conversar sobre as leituras e os registros elaborados.

Talles Azigon, mediador de leituras, poeta e contador de histórias, falou sobre o papel dos mediadores da leitura e defendeu que o PNLL conte com esses profissionais.

Apenas 15% das cidades brasileiras têm livrarias

O presidente da Câmara Brasileira do Livro, Luís Antônio Torelli, trouxe dados sobre a realidade do mercado editorial brasileiro. Ele lembrou que apenas 15% dos municípios têm livrarias, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Por outro lado, Minas Gerais tem o melhor índice de habitantes por biblioteca, de 23 mil pessoas. Belo Horizonte apresenta também um índice positivo na relação habitantes por livraria: são 13.848 por livraria, o que não está distante do ideal previsto pela Unesco, de uma loja para cada 10 mil pessoas.

Outra boa notícia trazida por Torelli foi a de que o PNLL já foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. De acordo com ele, a previsão é de que o projeto seja aprovado em 2018.

Festivais - Rosana de Mont’alverne, presidente da Câmara Mineira do Livro, destacou os festivais literários como eventos importantes para aproximar profissionais do livro e leitores.

Ela lamentou que várias editoras antigas de pequeno porte foram fechadas e algumas resistem arduamente. Por isso, defendeu outras ações para ampliar o público leitor, como capacitar educadores e mediadores.

Raquel Menezes, presidente da Liga Brasileira de Editoras (Libre), falou sobre o desafio das pequenas e médias editoras de remunerar adequadamente os envolvidos na criação de um livro. Ela defendeu a criação de uma rede de apoio ao pequeno editor e a toda a cadeia produtiva.

Livro nacional - Nesse sentido, Rodrigo Ricardo, presidente do Instituto Cultural Colofão de Literatura Independente, destacou que, dos 20 livros mais vendidos no Brasil em 2017, apenas oito são brasileiros e, destes, nenhum do gênero ficção. Ele pregou a necessidade de despertar o interesse do leitor pelo conteúdo nacional, destacando esses livros nas lojas.