A audiência pública da Comissão de Saúde foi motivada pela campanha Novembro Azul, que visa à conscientização sobre a saúde masculina
Otto Chaves disse que a ingestão de gordura em excesso e o tabagismo elevam os riscos de câncer de próstata
Mayla Sousa sugeriu ampliar os horários de atendimento dos postos de saúde

Médicos defendem atenção integral à saúde do homem

Para especialistas, medidas preventivas são mais eficientes que exames periódicos para combater o câncer de próstata.

22/11/2017 - 13:06

A importância da atenção integral à saúde do homem foi destacada pelos participantes da reunião realizada pela Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta-feira (22/11/17). A audiência, que contou com a participação de médicos e especialistas, foi motivada pelo Novembro Azul, campanha de conscientização sobre a saúde masculina, especialmente o câncer de próstata.

“Não se usa mais fazer rastreamento de câncer de próstata. O dinheiro necessário para isso é maior que o benefício que pode vir do diagnóstico desses pacientes”, afirmou o médico Otto Henrique Torres Chaves, chefe do Departamento Nacional de Andrologia da Sociedade Brasileira de Andrologia (SBA). Os convidados da reunião concordaram com o médico.

Otto Chaves explicou que a doença tem uma evolução muito lenta e o tumor às vezes demora cerca de 15 anos para crescer 1 cm³. Em muitos desses casos, a indicação seria acompanhamento, e não cirurgia, segundo o médico. Ele explicou que a maioria dos homens, com o envelhecimento, vai apresentar um quadro da doença, mas pode nunca ter sintomas ou complicações.

Por isso, não seria recomendado, de acordo com o urologista, o chamado rastreamento, ou seja, o exame periódico em todos os homens. Por outro lado, o médico orienta que pessoas com mais propensão a desenvolver a enfermidade, como aqueles com histórico familiar ou hábitos relacionado à doença, façam os exames necessários, já que a enfermidade tem muitos riscos.

Segundo o médico, cerca de 60% das mortes por câncer em homens decorrem de tumores na próstata. Ingestão de gordura em excesso e tabagismo estão entre os hábitos que elevam os riscos de os homens desenvolverem o câncer de próstata, de acordo com Otto Chaves. Alto consumo de frutas, saladas e legumes, especialmente tomate, reduziriam o risco, ainda segundo o urologista.

O médico Cesar Miranda dos Santos, do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, concordou com o colega e disse que é preciso evitar o ciclo de investigação e exames desnecessários e focar na conversa com o paciente para identificar seus hábitos nocivos e orientá-lo a mudar certas rotinas.

Toque – Um dos receios masculinos está relacionado ao popularmente conhecido exame do toque, uma das formas de diagnóstico do câncer de próstata. O médico Otto Chaves fez questão de salientar que esse tipo de exame é pouco eficiente, uma vez que só identifica os casos mais avançados. Segundo ele, há outras maneiras mais eficientes de se identificar a doença em seus estágios iniciais.

O deputado Doutor Wilson Batista (PSD) salientou a importância de desfazer os mitos sobre o câncer de próstata.

Saúde preventiva é desafio

Se o rastreamento do câncer de próstata não é adequado, a busca da saúde preventiva deve ser prioridade. A representante da Secretaria de Estado de Saúde, Mayla Magalhães Sousa, explicou a importância de se enfatizar ações rotineiras nas equipes de saúde, em consonância com a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem.

“A prioridade é garantir que o homem entre no serviços de saúde pela atenção básica, e não quando sua saúde já está deteriorada”, disse. Ela ressaltou que os homens estão menos habituados a procurar atendimentos médicos periódicos, por isso é necessário fazer ações de captação desse público e favorecer seu acesso à rede pública.

Uma das possibilidades apresentadas por ela é a ampliação dos horários de atendimento dos postos de saúde, já que é menos provável, para ela, que homens apresentem em seus empregos atestados médicos por consultas regulares, como as mulheres fazem.

Mayla Sousa também disse que têm sido oferecidos treinamentos às equipes de saúde regionais e municipais para identificar as necessidades do público masculino e atendê-las adequadamente. Os principais instrumentos que, de acordo com ela, têm sido usados nesses treinamentos são duas cartilhas produzidas pelo governo federal: o Guia de Saúde do Homem para o Agente Comunitário de Saúde e o Guia do Prénatal do Parceiro para Profissionais de Saúde.

Gênero – Mayla Sousa ressaltou, por fim, que é necessário garantir que os profissionais de saúde não tratem de forma preconceituosa as pessoas que procuram os serviços por causa do seu gênero. Ela afirmou que é importante respeitar as identidades de gênero e garantir atenção à saúde a todos.

Deputados destacam falta de investimento público

Para o presidente da comissão, deputado Carlos Pimenta (PDT), tão importante quanto conscientizar a população é oferecer atendimento adequado. “Nosso sistema de saúde hoje desestimula as pessoas a procurá-lo”, disse. Ele salientou que os investimentos são baixos e afirmou que o Governo do Estado está atrasado no repasse de recursos para a área da saúde nos municípios.

O deputado Geraldo Pimenta (PCdoB), por sua vez, disse que as decisões que o governo federal tomou em 2017 serão prejudiciais para a área, especialmente o congelamento de gastos públicos por 20 anos e a retirada da vinculação de recursos do pré-sal para uso na saúde e na educação.

Consulte o resultado da reunião.