Comissão de Direitos Humanos debateu denúncias de abuso de poder e arbitrariedade que teriam sido cometidos pela Polícia Militar, em Ouro Preto
Deputados autores do requerimento exigiram celeridade nas investigações

Familiares acusam PM de matar jovem em Ouro Preto

Igor Arcanjo Mendes morreu após abordagem policial na última sexta-feira (15).

20/09/2017 - 14:51 - Atualizado em 20/09/2017 - 17:19

Moradores de Ouro Preto (Região Central do Estado) e os familiares do jovem Igor Arcanjo Mendes, acusaram um tenente da Polícia Militar (PM) de ter assassinado o rapaz de 20 anos de idade em abordagem policial realizada na última sexta-feira (15). A denúncia foi feita em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta-feira (20/9/17).

A irmã da vítima, Nayara Mendes, acusou a PM de ser uma instituição que extermina jovens negros e pobres em todo o País. Para ela, o despreparo é geral, tendo em vista que a abordagem teria sido violenta e desastrosa. “Meu irmão ia para um show no carro com amigos. A PM diz que o motorista fugiu, o que não aconteceu. Ele levou um tiro antes mesmo de descer do carro, ainda no banco do passageiro”, relatou.

Segundo Nayara, a alegação da polícia foi de que Igor teria feito um movimento brusco. “Ele foi colocado baleado em um camburão, sem que o Samu sequer fosse acionado. Disseram que tinha droga no carro, mas só afirmaram isso várias horas depois. As testemunhas estão com medo”, denunciou.

O pai de Igor, Adriano Mendes, disse que a violência da polícia continuará acontecendo e que, em Ouro Preto, os jovens têm medo da corporação. “Lá, eles nos humilham, batem, espancam e ainda debocham. O despreparo e a covardia são enormes”, lamentou.

Solidariedade – Os deputados autores do requerimento que motivou o debate, Thiago Cota (PMDB) e Rogério Correia (PT), se disseram sensibilizados com o fato e exigiram celeridade nas investigações.

“Estamos prestando solidariedade à família. Temos que fazer um balanço da atuação da PM em Ouro Preto”, destacou Rogério Correia. O parlamentar lembrou que há outras denúncias de abuso e truculência por parte da corporação.

Os deputados Cristiano Silveira, presidente da comissão, Durval Ângelo (ambos do PT) e Geraldo Pimenta (PCdoB) também se solidarizaram com a família e moradores de Ouro Preto e lamentaram a ação da PM. "A comissão vai acompanhar os desdobramentos e exigir a rigorosa apuração dos fatos", acrescentou Silveira.

PM garante que o caso será investigado

O comandante da 3ª Região da PM, coronel Eucles Honorato Júnior, reconheceu que o fato é triste e teve um desfecho indesejado. Ele salientou que a corporação está adotando todas as providências que o caso requer, seguindo a legislação vigente.

De acordo com o comandante, a cena do crime foi preservada, a apreensão e a perícia da arma foram feitas e o inquérito policial foi prontamente instaurado. “Determinamos que a Corregedoria faça a investigação. Está tudo sendo tratado com isenção e transparência. O tenente envolvido na abordagem foi afastado das suas funções operacionais”, completou.

A coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Defesa dos Direitos Humanos, promotora Nívia Mônica, defendeu que a melhor estratégia, neste momento, deve ser criar mecanismos que evitem outros casos como o de Igor. “O Ministério Público designou três promotores para acompanhar as investigações”, anunciou.

O representante da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, Biel Rocha, também disse que providências serão tomadas. “O que aconteceu em Ouro Preto foi uma execução, e o Igor não será só mais um número nessa estatística”, garantiu.

Deputados ponderam para que não haja julgamento prévio

O deputado Sargento Rodrigues (PDT) afirmou que a PM não é uma corporação exterminadora. Para ele, o caso de Igor é lamentável, mas não se pode generalizar o trabalho da corporação. O parlamentar reforçou que as providências legais estão sendo tomadas e que o inquérito foi instalado. “Desejo que a apuração seja rigorosa e as punições exemplares, mas a Comissão de Direitos Humanos não pode ser tratada como tribunal”, alegou.

O deputado Cabo Júlio (PMDB) concordou com o colega ao dizer que o que está sendo julgado é um ato de um servidor, e não de toda a Polícia Militar. Na opinião dele, é preciso cobrar a apuração correta, conforme determina a lei.

Defesa – O deputado Coronel Piccinini (PSB) fez uma defesa do tenente acusado. Ele disse que o servidor tem experiência e o treinamento necessário para o trabalho policial. “Ele não saiu de casa para matar ninguém, e sim para proteger e socorrer. Mais que isso, está amparado pela legítima defesa legal. A apuração deve ser rigorosa, mas o julgamento não deve ser antecipado”, ponderou.

Comissão cobra providências

A comissão aprovou diversos requerimentos relacionados à morte de Igor, entre eles dois de autoria do deputado Rogério Correia, um deles pedindo a troca do comando do 52º BPM em Ouro Preto, tendo em vista as denúncias feitas na audiência. O outro, assinado também pelo deputado Geraldo Pimenta, pede que o militar envolvido na ocorrência seja afastado de suas funções.

Os dois parlamentares e ainda o deputado Thiago Cota tiveram aprovados requerimentos de pedidos de providências e de envio das notas taquigráficas da audiência aos seguintes órgãos:

  • Secretarias de Estado de Saúde e Municipal de Saúde de Ouro Preto, para que seja prestado acompanhamento psicológico a familiares de Igor e aos jovens que presenciaram a abordagem policial;
  • ao Ministério Público (MP), para que intensifique seu papel como órgão de controle externo das Polícias Civil e Militar;
  • ao comando da PM e à chefia da Polícia Civil, para que elaborem um protocolo conjunto para orientar abordagens policiais;
  • à Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG, ao MP e à Corregedoria da PM, para que investiguem com celeridade as circunstâncias da morte de Igor.