Deputados da Comissão de Segurança Pública ouviram depoimentos de representantes de transportadoras e distribuidoras
Medrado cobrou ações para a integração das polícias e a sensibilização da sociedade
Almeida defendeu uma legislação mais rigorosa para esse tipo de crime

Minas Gerais é o terceiro estado em roubo de cargas no País

Crime, que afeta principalmente o setor de medicamentos, provocou prejuízo de R$ 218 milhões no Estado em 2016.

12/09/2017 - 14:23 - Atualizado em 12/09/2017 - 15:00

O diretor técnico da Federação das Empresas de Transporte de Cargas (Fetcemg), Luciano Medrado, afirmou, aos deputados da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que o Estado é o terceiro em casos de furto e roubo de cargas, o que representa 10% das incidências desse crime em todo o País.

Os dados foram divulgados em audiência pública nesta terça-feira (12/9/17), a pedido do presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PDT), e do deputado Felipe Attiê (PTB).

Medrado salientou que o problema é grave e não vem recebendo a devida atenção. A Polícia Militar, segundo ele, passou a tratar de roubo de cargas em 2016, por meio do Programa Carga Segura. "Medicamento é o terceiro item mais roubado. No ano passado, foram R$ 218 milhões em cargas roubadas no Estado", completou.

Ele explicou ainda que a federação tem um departamento especializado em segurança patrimonial, com o objetivo de promover a integração entre as forças de segurança, além de gerar um banco de dados de ocorrências. “De janeiro a agosto deste ano, foram 31 casos em Minas. O número, no entanto, não tem base científica porque as polícias têm dificuldade em efetuar o registro real”, lamentou.

Legislação branda – Medrado alertou que a Polícia Civil não consegue manter os ladrões de cargas presos, já que o crime é considerado brando. Ele relatou, por exemplo, que uma mesma pessoa foi presa seis vezes somente no ano passado. “É preciso dar prioridade ao tema, além da integração das polícias e da sensibilização da sociedade”, pediu.

O assessor de Segurança da Fetcemg, Ivanildo Santos, disse que até 15% da receita das empresas é direcionado à segurança e que, por muito se falar no Rio de Janeiro como local de maior incidência, as quadrilhas estariam migrando para Minas Gerais e Espírito Santo.

A gestora de Risco Corporativo da Profarma Distribuidora de Produtos Farmacêuticos, Byanca Faria Lima, reforçou que o prejuízo é maior em Minas, apesar do número de casos ser maior no Rio. “Somente neste ano, são 12 casos. Apesar de todo o investimento em tecnologia, as quadrilhas parecem estar um passo à frente”, lamentou.

Roubos elevam custos com seguro das cargas

O proprietário da 3G Log Transportes, Luiz Antônio Rosa, afirmou que a categoria está com medo e pode ser obrigada a paralisar o trabalho. De acordo com ele, nos últimos oito meses, a empresa foi assaltada 17 vezes e ninguém foi preso. O diretor executivo da mesma empresa, Edson Zanata, explicou que os custos estão ficando mais altos, já que as seguradoras dificultam a liberação das apólices de seguro. 

A coordenadora administrativa da DNG Transportes, Bruna Vieira do Nascimento, relatou que os roubos geraram mais R$ 100 mil de prejuízo para a empresa desde janeiro deste ano, em 11 casos registrados. “As seguradoras exigem cada vez mais. Há investimento em tecnologia de segurança, mas não temos apoio do poder público”, lamentou.

Polícia Civil reconhece que estrutura está defasada

O titular da 2ª Delegacia Especializada de Repressão às Organizações Criminosas, Gustavo de Almeida, reconheceu que o problema é grave e que os quadros da Polícia Civil estão defasados.

Segundo Almeida, até 2015, a delegacia contava com dois delegados e 16 investigadores. Hoje, não há nenhum delegado titular e são apenas 11 investigadores. Ele também defendeu uma legislação mais rigorosa para esse tipo de crime. 

O subinspetor de Polícia Wanderson Silva destacou a realização de ações de prevenção e repressão. “Isso já promoveu uma redução de 45% dos roubos entre julho de 2016 e o mesmo mês deste ano. Em números absolutos, ano passado foram registrados 1.521 furtos e roubos e, neste ano, até julho, foram 852.

Parlamentares lamentam ausência da Polícia Militar

O deputado Sargento Rodrigues concordou que a situação é grave, uma vez que as empresas sofrem prejuízos, os profissionais de transporte de cargas correm riscos e a sociedade paga a conta.

"A Polícia Militar e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) mais uma vez estão ausentes no debate. Temos que tratar com eles a questão do roubo de cargas, assim como da subnotificação dos crimes, que estaria mascarando os números da violência no Estado", criticou. O deputado Antonio Carlos Arantes (PSDB) lamentou que os números estejam conflitantes, pois considera a situação pior do que se fala. 

Os deputados Cabo Júlio (PMDB) e João Leite (PSDB) destacaram, também, que as transportadoras ainda encontram dificuldade com seguradoras e que o desafio é a falta de efetivo policial. Mais que isso, alertaram que o roubo de cargas gera queda no PIB e na arrecadação de impostos.

O deputado Felipe Attiê relatou que o segmento está em desespero, pois enfrenta quadrilhas especializadas. “O número de incidentes é alto e a categoria já ameaçou parar. Para piorar, as seguradoras estão resistentes em atender as empresas do setor, o que impacta diretamente o preço dos remédios para o consumidor”, disse.

Requerimentos – Ao final, foram aprovadas solicitações de audiências públicas e visitas sobre temas diversos. O deputado Arlen Santiago (PTB) quer reunião sobre o programa Leite pela Vida.

O deputado Sargento Rodrigues pediu visita à Superintendência Regional da PRF para cobrar empenho na participação em audiências da comissão; audiência sobre suposto abuso de autoridade cometido por policial militar; e visita ao Centro Socioeducativo de Governador Valadares (Vale do Rio Doce) para verificar as instalações do local e apurar denúncias.

Consulte o resultado da reunião.