A Polícia Militar não enviou representante para a audiência da Comissão de Segurança Pública
Roberta Sodré pediu que as pessoas registrem os boletins de ocorrência

Deputados colocam em dúvida dados sobre redução da violência

Morosidade da ação policial estaria provocando queda no número de ocorrências e consequente falha nas estatísticas.

29/08/2017 - 14:27 - Atualizado em 29/08/2017 - 18:47

O presidente da ONG Em Nome de Minas, Celso Máximo de Oliveira, afirmou a deputados que os moradores da Pampulha e de Venda Nova não têm mais acionado as Polícias Civil e Militar para combater a criminalidade nas duas regiões de Belo Horizonte. A razão, segundo ele, é a morosidade e a falta de resposta efetiva às ocorrências.

A questão pontuou a audiência pública realizada pela Comissão de Segurança Pública, nesta terça-feira (29/8/17), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Celso acusou a Polícia Militar (PM) de omissão, o que estaria deixando os cidadãos em situação de abandono. Para ele, será um desafio recuperar a credibilidade das instituições. "Há uma indústria do crime na região. O número de roubos e assaltos é crescente e as pessoas sequer acionam as polícias porque não acreditam que haverá resposta efetiva", disse.

Outra problema apresentado à comissão é a subnotificação de crimes de maior gravidade. O promotor do Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais e de Execução Penal, Henrique Nogueira Macedo, relatou um caso vivido por ele após ter o carro roubado por bandidos armados em Belo Horizonte na última quarta-feira (23).

Segundo ele, o boletim de ocorrência foi registrado pela PM como tentativa de furto (crime no qual não há violência porque não houve contato com a vítima). De acordo com o promotor, o policial teria tomado essa decisão para "mascarar" a gravidade das estatísticas.

Para o presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PDT), essa denúncia é grave e deve ser apurada. Ele criticou a ausência da PM na audiência e disse que vai agendar nova reunião com representantes do comando da corporação para tratar desse problema.

O parlamentar frisou que, apesar de o governo apontar números de queda na violência, a realidade estaria demonstrando o contrário. "As estatísticas são maquiadas, até pelo fato de as pessoas deixarem de registrar o boletim de ocorrência", ponderou. Ele acredita que o aumento no desemprego e a redução do investimento em segurança são as causas do problema.

O deputado Cabo Júlio (PMDB) concordou que a criminalidade é crescente e que é preocupante o fato de o planejamento das polícias ser feito com base em dados nem sempre confiáveis. "O cidadão está indefeso e é preciso repensar a segurança. Faltam efetivo e estrutura para que o serviço seja prestado como deveria", salientou.

Ainda sobre a contradição estatística, o deputado Antonio Carlos Arantes (PSDB) citou números que comprovariam, por exemplo, o aumento no número de assassinatos em diversas cidades mineiras. Para o parlamentar, o modelo de segurança está falido e a reestruturação passa pela revisão do Código Penal.

Polícia Civil garante ações preventivas

A titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil de Venda Nova, Roberta Sodré, afirmou que, a despeito da falta de confiança atribuída à instituição, o objetivo é estar ao lado da comunidade e das associações de bairro, com quem busca estabelecer contato.

Ela pediu que as pessoas registrem os boletins de ocorrência, mesmo que sem o atendimento imediato. "Fazemos operações de combate à prostituição, ao tráfico de drogas, aos furtos e roubos nas ruas e residências. Estamos trabalhando com o máximo que nossa estrutura permite", frisou.

O delegado regional de Polícia Civil de Venda Nova, César Cerne, afirmou que há uma progressão geométrica do tráfico de drogas e da violência na cidade.

Também defendeu que as estatísticas nem sempre demonstram a realidade e que a situação precisa ser tratada por todo o sistema de segurança. "É importante lembrar, no entanto, que quem alimenta a criminalidade é a própria sociedade. O tráfico é gerado por quem compra as drogas, que são nossos filhos, amigos e parentes", ponderou.

Integração – O representante da Guarda Municipal de Belo Horizonte, Marcelo Paes, também disse que são feitas ações preventivas nas regiões da Pampulha e de Venda Nova e que, em razão dos recursos serem escassos, sugeriu que sejam feitas mais ações conjuntas com as Polícias Civil e Militar.

Revisão do Código de Execução Penal

O promotor Henrique Nogueira Macedo defendeu uma mudança estrutural no Código de Execução Penal. Para ele, enquanto a legislação federal não for mais rígida, não há como combater a criminalidade com eficiência.

"O sistema prisional é caótico e não traz resultados. Além disso, vivemos uma crise econômica que faz com que o desemprego potencialize ainda mais a violência", ressaltou.

O promotor relatou aos deputados que o Ministério Público tem criado grupos estratégicos para agilizar a tramitação de inquéritos policiais, em especial nas áreas de homicídios e de roubos.

Em relação à sensibilização do Congresso Nacional para uma mudança geral na legislação de execução penal, o delegado César Cerne reforçou que a medida é fundamental para a atuação das polícias. “Estamos cansados de prender a mesma pessoa várias vezes. A certeza da impunidade também aumenta a violência”, reforçou.

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