Ao procurar a instituição de ensino para obter esclarecimentos sobre a situação do filho, a mãe era informada que os machucados teriam sido causados por quedas
Patrícia Cunha disse que os monitores da escola envolvidos no caso foram substituídos

Vídeos flagram agressões contra criança autista em escola

Violência teria sido praticada por cuidador responsável pela vítima em escola municipal de BH.

22/08/2017 - 14:38 - Atualizado em 23/08/2017 - 11:54

Uma série de fotos e vídeos, apresentados aos deputados da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), demonstram que uma criança autista estaria sendo agredida, desde o final do ano passado, por seu cuidador, dentro da Escola Municipal Eliza Buzelin, em Belo Horizonte. O fato motivou uma audiência pública nesta terça-feira (22/8/17), que contou com a presença de representantes da Secretaria Municipal de Educação.

De acordo com Katia Alves Dourado, que é a mãe da criança agredida, hematomas, dentes quebrados e outros ferimentos foram observados na vítima desde o último mês de dezembro. Ao procurar a escola, ela tinha como resposta que os machucados eram causados por quedas.

Com a piora da situação, ela buscou ajuda na Superintendência Regional responsável pela instituição, onde teria tido garantia de providências. “Nunca tive respostas. Só consegui saber que havia maus-tratos por meio dos vídeos gravados dentro da escola", disse. Em agosto, Katia teve acesso aos vídeos, que confirmam as agressões.

O advogado da mãe da criança, Fabrício Costa, afirmou que os vídeos apontam que o fato seria corriqueiro na escola. Ele lembrou, ainda, que o primeiro boletim de ocorrência foi registrado em dezembro e, de lá para cá, as lesões teriam aumentado.

"Ao que parece, a criança sofria tortura física e psicológica. A escola é referência em termos de inclusão, mas talvez falte capacitação de alguns profissionais que trabalham lá", ponderou. O advogado crê que houve omissão e defende que o caso seja usado como prevenção para novas ocorrências.

Da mesma forma, o também advogado da mãe da vítima, Rafael Filipi Amaral Cunha, disse que houve crueldade contra uma criança com autismo e que é preciso dar uma resposta firme à sociedade.

Funcionários foram afastados após as denúncias

A gerente da Inclusão da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, Patrícia Cunha, relatou aos parlamentares que tomou conhecimento da denúncia no dia 7 de agosto. Segundo ela, as providências adotadas foram envio de agentes à escola, registro de boletim de ocorrência, notificação da família e dos funcionários acusados de agressão ou omissão.

"Todos os envolvidos foram afastados ou demitidos por justa causa. Encaminhamos, ainda, o relatório à Corregedoria do Município para investigação administrativa e fizemos a substituição dos monitores", garantiu. Ainda de acordo com a gestora, a família da criança foi encaminhada para acolhimento psicológico.

"A indignação foi geral. A secretaria entende que a escola deve exercer uma função de amparo, inclusão e garantia de desenvolvimento e dignidade. Por isso, estamos realizando estudos para aprimorar a contratação a e capacitação dos monitores", anunciou. Patrícia Cunha disse esperar que tudo seja devidamente esclarecido e investigado para que sejam tomadas as medidas mais acertadas.

A técnica consultiva da Secretaria Municipal de Educação, Natália Araújo, apesar de considerar o fato como isolado, entende que a questão é grave e precisa ser tratada de forma eficiente. "O projeto de inclusão não é fácil. Existem três escolas na Capital especializadas em inclusão e a política não é negligenciada", assegurou.

Deputados querem providências

Os deputados defenderam que, além do processo penal, sejam tomadas outras providências por parte da prefeitura. O presidente da comissão e autor do requerimento que motivou o debate, deputado Duarte Bechir (PSD), espera que o caso seja isolado, mas demonstrou preocupação com as imagens registradas em vídeo.

"As crianças e as próprias pessoas que fizeram as imagens parecem passivas ao que ocorria. É preciso uma conscientização geral para que esse absurdo não volte a acontecer", afirmou.

O deputado Tito Torres (PSDB) reforçou as palavras do colega e, ao lamentar as agressões, disse que espera uma intervenção mais efetiva do poder público. Para ele, é preciso que os os gestores da educação aprendam com o que está dando errado.

"Acredito que outras pessoas da escola sabiam do problema. Temos que sensibilizar não somente os profissionais, mas as crianças que presenciam essa violência e a repetem com naturalidade", alertou Tito Torres.

Requerimento – Ao final, a comissão aprovou a realização de uma audiência pública, nesta quarta-feira (23), para debater o Decreto 47.180, de 2017, que altera o regulamento do ICMS e estaria dificultando a aquisição de veículos por pessoas com deficiência.

Consulte o resultado da reunião.