Convivência com animais silvestres é desafio nas cidades
Ambientalistas explicam como gerenciar conflitos com a fauna em centros urbanos.
03/08/2017 - 19:17 - Atualizado em 04/08/2017 - 11:07As vantagens e desvantagens do convívio humano com a fauna silvestre em centros urbanos, bem como os procedimentos gerais para uma convivência mais harmônica nas cidades, minimizando riscos para todos, foi o tema debatido nesta quinta-feira (3/8/17) pela Comissão Extraordinária de Proteção dos Animais da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
O convidado especial da reunião, o analista ambiental Daniel Ambrózio da Rocha Vilela, do Ibama, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, enfatizou que a solução para os conflitos decorrentes da convivência desses animais com os humanos não está no extermínio nem na devolução dos animais à natureza, mas na harmonia e no respeito.
Daniel apontou os benefícios que esse convívio traz para os humanos, como a redução do estresse, pelo contato com a natureza, o benefício estético, com a composição da paisagem, e o equilíbrio ambiental. “Até quase metade do século passado quase 90% da população mundial vivia no meio rural e, até 2030, 70% a 80% vão viver nas cidades”, disse.
Segundo o especialista, a urbanização afeta de forma negativa os animais silvestres, criando um ambiente muito desafiador, mas não impede a permanência deles nas cidades. Com o avanço dos centros urbanos, esses animais saíram das áreas verdes e passaram a ocupar as urbanizadas. "Não foram eles que invadiram nossos espaços; ao contrário, nós é que invadimos o espaço deles”, explicou.
Cartilha educativa explica como gerenciar conflitos
Durante a reunião, foi apresentada a cartilha Gestão de Conflitos com Animais Silvestres em Centros Urbanos, organizada em conjunto pelo Grupo Especial de Defesa da Fauna do Ministério Público do Estado (Gedef-MPE) e Ibama, com a colaboração da ALMG. Ela está sendo distribuída em todos os municípios mineiros para subsidiar as prefeituras.
A publicação ressalta que a retirada dos indivíduos de um determinado local não produzirá os efeitos desejados se os fatores ambientais que favorecem o aparecimento da fauna não forem alterados. Por isso, apresenta as seguintes soluções:
- Remoção de fontes de alimentos - não alimentar intencionalmente os animais silvestres nem deixar os alimentos dos animais domésticos disponíveis em locais abertos, principalmente à noite.
- Remoção dos abrigos – vedar aberturas nos telhados ou outros pontos que favoreçam ocupação e nidificação (formação de ninhos); manter a vegetação rasteira baixa; reduzir ou eliminar pontos com entulhos ou depósitos de lixos.
- Proteção dos animais domésticos – manter animais como galinhas, patos e pássaros em locais protegidos durante a noite para reduzir a predação por animais silvestres, como raposas, felinos, gaviões, corujas e quatis.
- Respeito ao animal – evitar aproximar-se de ninhos de animais em reprodução, especialmente gaviões e corujas, bem como de filhotes recém-saídos dos ninhos quando os pais ainda estiverem por perto.
Samylla Moll, pesquisadora e autora de livros sobre o tema, afirmou que é preciso repensar a convivência do homem com o animal silvestre, lembrando que “é um direito deles estar aqui” e um dever constitucional dos humanos conviver harmônica e respeitosamente com eles.
Marcos de Mourão Motta, da ONG Asas e Amigos, insistiu que educação ambiental é fundamental. O mesmo foi defendido pela analista ambiental do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Erika Procópio Tostes Teixeira; pela presidente do Movimento Mineiro pelos Direitos dos Animais, Adriana Araújo; e pela veterinária Flávia Quadros.
Para a gestão de conflitos, como, por exemplo, presença de animais silvestres em áreas domésticas, Daniel explicou que o cidadão deve acionar o próprio Ibama, pelo telefone (31) 3555-6179. Para situações de emergências, como ocorrência de animais feridos ou obstruindo rodovias, deve-se acionar a polícia ambiental.
Júlio Augusto dos Santos Silva, analista ambiental do Ibama, relatou que os municípios, cada vez mais, estão entendendo que cabe a eles a gestão dos conflitos com os animais silvestres em áreas urbanas. Ele apontou o caso das capivaras na orla da Lagoa da Pampulha e disse que esses problemas existem em toda grande cidade.
Deputados também defendem educação ambiental
Além do presidente da comissão, deputado Noraldino Júnior (PSC), os demais parlamentares presentes à reunião – Leandro Genaro (PSD) e Geraldo Pimenta (PCdoB) – também destacaram a importância da educação ambiental para a conscientização da sociedade.
Noraldino Júnior ressaltou a necessidade de que o Estado utilize a estrutura da educação pública para disseminar informações e instruir crianças e jovens sobre como tratar a fauna silvestre, enquanto Leandro Genaro disse que não é uma opção do ser humano viver harmoniosamente com os animais, mas uma obrigação, bem como um dever dos parlamentares lutarem pela causa.
Geraldo Pimenta, por sua vez, afirmou que os conflitos entre as espécies podem ser resolvidos por meio de corredores ecológicos e campanhas de informação da sociedade.