Deputados discutiram ideia de transformar linha férrea federal localizada entre bairros de Nova Lima e BH em uma avenida com seis pistas
Para Vítor Penido, uma parceria entre as prefeituras e os governos estadual e federal pode viabilizar o projeto
Luciano Caetano falou de dificuldades em relação à alienação do imóvel

Via estruturante entre Belo Horizonte e Nova Lima é polêmica

Para alguns participantes de reunião, projeto melhoraria o trânsito; para outros, resulta de especulação imobiliária.

01/08/2017 - 14:20

A polêmica em torno da proposta de um novo acesso viário entre Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e a Capital marcou audiência pública da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta terça-feira (1º/8/17).

A intenção é de transformar a linha férrea da extinta Rede Ferroviária Federal, no limite entre os bairros Vila da Serra (Nova Lima) e Belvedere (BH), em uma avenida com seis pistas que ajudaria a desafogar o trânsito entre as duas cidades.

A Via Estruturante Sul contaria, na sua totalidade, com cerca de 14 quilômetros de extensão, ligando o Centro de Nova Lima à BR-356, na altura do Anel Rodoviário, na região do Barreiro.

Embora grande parte dos participantes da audiência apoiem a iniciativa, representantes de associação de moradores da região se mostraram contrários ao projeto e pediram que eles sejam ouvidos na construção dessa ideia.

Defesa - O secretário de Planejamento de Nova Lima, André Rocha, explicou o projeto que está em estudo. “A primeira fase usa a linha férrea, que tem 80 metros de largura, o que possibilita a implantação de vias, além de ciclovia e espaço para futuras possibilidades”.

Essa primeira etapa teria cinco quilômetros de extensão e custaria cerca de R$ 50 milhões. A segunda fase passa ao lado das instalações da empresa Vale e segue até o centro de Nova Lima, conforme contou o secretário.

O prefeito de Nova Lima, Vítor Penido, manifestou apoio ao aproveitamento da malha ferroviária naquele trecho para a construção de uma via que ligue o município a Belo Horizonte. Ele falou que isso pode ser viabilizado por uma parceria entre as prefeituras das duas cidades e os governos estadual e federal.

Transporte coletivo - O arquiteto da Secretaria de Serviços Urbanos de Belo Horizonte, Thiago Esteves, ressaltou que o projeto não pode desconsiderar a questão do transporte público coletivo. “Temos um plano de mobilidade que prevê a utilização de linhas férreas”, comentou.

Parlamentares defendem melhorias na mobilidade

Segundo o deputado Fábio Cherem (PSD), que preside a comissão e solicitou que o debate fosse feito, a mobilidade urbana ocupa grande parte da vida das pessoas. “Precisamos buscar soluções para que o deslocamento seja a menor parte do dia da população”, afirmou.

O deputado federal Diego Andrade (PSD-MG), que pediu a Cherem que o assunto fosse discutido na ALMG, ressaltou que o trecho ferroviário abandonado e sujeito a invasões pode ter melhor aproveitamento pela coletividade. Ele falou que é relevante viabilizar a cessão do imóvel pela Superintendência de Patrimônio da União (SPU).

Também defendeu a iniciativa o deputado Gustavo Corrêa (DEM), que mora na região. “Não podemos parar o desenvolvimento”, disse. Na opinião do deputado Anselmo José Domingos (PTC), é importante criar alternativas para a mobilidade urbana entre as cidades, posicionamento ratificado pelo deputado Antonio Carlos Arantes (PSDB).

Empresas – O presidente da Associação dos Empreendedores do Vale do Sereno e Vila da Serra, Gilmar Dias Santos, disse que a via estruturante é uma solução definitiva para a região.

Superintendente da SPU relata entraves

O superintendente da SPU, Luciano Caetano Couto, disse que a superintendência está receptiva às propostas, mas relatou dificuldades em relação à alienação do imóvel, que integra o Fundo de Contingente da União desde a extinção da rede ferroviária federal em 2007. Por causa disso, como disse, a SPU não tem competência para ceder o terreno às cidades.

Luciano Couto destacou que uma alternativa é a venda do imóvel. Ele comentou que o espaço vale, atualmente, cerca de R$ 300 milhões. “O local tem um problema sério de documentação. Estamos providenciando as soluções”, acrescentou.

Representantes de moradores são contra proposta

De acordo com o presidente da Associação dos Amigos do Bairro Vila da Serra (Amavise), Sérgio Americano Mendes, o problema de trânsito na região é evidente, mas a entidade não apoia esse projeto. Ele enfatizou que a primeira etapa não chegaria até o centro de Nova Lima, pois há terrenos particulares no caminho.

“Vai ligar a BR-356 até condomínios que não têm outras vias de escoamento. Isso vai causar uma verticalização da região, trazer milhares de novos moradores que vão novamente utilizar a rodovia. Não vai desafogar o trânsito. Visa unicamente a favorecer proprietários de terrenos desses loteamentos da região”, enfatizou. Para ele, a ideia não pode ser defendida apenas por empreiteiros e empresários.

O diretor da Amavise, Felipe da Mata, destacou que não ficou claro o impacto ambiental do projeto para a cidade de Nova Lima. “Não sou contra o desenvolvimento. Mas, haverá um impacto grande no município. E falar de uma via estruturante sem ter o plano diretor é fazer puxadinho. Para que vai servir esse projeto?”, questionou.

O deputado João Vítor Xavier (PSDB), que também mora na região, falou que Nova Lima se transformou, na última década, no paraíso dos empresários. “Nada contra os empresários, mas é um crime o que tem sido feito na cidade; crime contra o meio ambiente, contra a mobilidade urbana, contra a população. A cada dia, novos empreendimentos são aprovados”, afirmou.

Consulte o resultado da reunião.