Moradores de casas de saúde cobram ação do Estado
Comissão de Segurança Pública recebe denúncias de crimes dentro das instituições que recebem hansenianos.
11/07/2017 - 12:32 - Atualizado em 11/07/2017 - 15:17Uma ação mais firme do Estado no combate aos crimes que estão sendo cometidos nas casas de saúde que recebem hansenianos foi cobrada por moradores dessas instituições. Eles participaram de audiência da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (11/7/17), e apresentaram denúncias de exploração sexual, violência e tráfico de drogas.
Internado há mais de 50 anos na Casa de Saúde Padre Damião, em Ubá (Zona da Mata), José Eduardo, denunciou que a violência vem crescendo na instituição. “Nos últimos meses, tivemos quatro assassinatos, a prisão de dois traficantes e os adolescentes estão andando armados. O tráfico tomou conta do nosso espaço”, afirmou.
Ele também falou sobre a situação dos idosos, que estariam passando necessidade, apesar da indenização paga pelo Estado. José Eduardo contou que eles são vítimas de golpes, em que pessoas de má-fé, como alguns curadores, ficam com o dinheiro dos aposentados.
Omissão - A representante da Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais (Asthemg), Mônica Fernandes Abreu, afirmou que o Governo do Estado se omite diante das denúncias dos crimes que estariam sendo cometidos nas casas de saúde e, além disso, vem perseguindo as pessoas que denunciam esse problema.
Ela cobrou uma posição mais firme da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), responsável pelas casas de saúde, no combate aos problemas relatados.
Outros moradores das casas de saúde também apresentaram denúncias. As moradoras das Casas de Saúde Santa Fé, em Três Corações (Sul de Minas), e São Francisco de Assis, em Bambuí (Centro-Oeste de Minas), Michele Regina e Dalva Gomes, respectivamente, afirmaram serem vítimas de perseguição e pediram a garantia dos direitos das pessoas internadas nas instituições.
Fhemig vai receber os moradores
Representantes da Fhemig e das Polícias Civil e Militar destacaram que as instituições estão abertas para receber as denúncias e procurar uma solução para os problemas relatados. O presidente da Fhemig, Tarcisio Dayrell Neiva, sugeriu marcar uma reunião com os representantes dos moradores para discutir a situação.
Ele explicou que assumiu a coordenação do órgão há cerca de 30 dias e pretende visitar todas as casas de saúde. Tarcísio Neiva afirmou que vai buscar parcerias com os órgãos de segurança pública para tentar solucionar o problema de violência e tráfico de drogas dentro das instituições.
“Vamos receber formalmente essas denúncias para que a Fhemig dê um encaminhamento e busque uma solução. O nosso interesse é tentar resolver, dentro do que for possível”, afirmou.
Polícia - Já o delegado assistente da Chefia da Polícia Civil, Antônio Carlos de Alvarenga, afirmou que os fatos devem ser encaminhados para a polícia para que sejam investigados. Ele disse que ouviu atentamente os relatos e que a Polícia Civil já está investigando esses casos, após provocação da Comissão de Segurança Pública.
O subchefe do Centro Integrado de Informação e Defesa Social da Polícia Militar, major Walter Soares dos Santos, também reforçou a necessidade de que a PM tenha conhecimento formal do que vem ocorrendo para traçar estratégias de combate ao crime. “Estamos abertos para receber os moradores e contribuir para o trabalho preventivo nas casas de saúde”, disse.
Fornecimento da cesta básica foi suspenso
Outra denúncia apresentada na audiência foi relacionada ao corte no fornecimento da cesta básica. Segundo Mônica Abreu, o Governo do Estado chegou a deixar de fornecer alimento aos hansenianos durante seis meses, mas voltou atrás após a resistência dos moradores das casas de saúde da Fhemig.
Ela explicou que, antes de a atual administração estadual assumir, comissões da Assembleia percorreram as casas de saúde, com representantes de outras instituições, e foi elaborado um projeto para cada instituição.
Entretanto, conforme acrescentou, o governo não quis conhecer o projeto e trouxe uma série de propostas prontas, sem conversar com as comunidades. Mônica Abreu explicou que, entre as propostas, estava o fim da cesta básica para pessoas com hanseníase e a transferência da administração das casas de saúde para os municípios.
Agradecimento – No início da audiência, uma das moradoras das casas de saúde, Rosilene Souza, leu um texto de agradecimento à Comissão de Segurança Pública, em especial aos autores do requerimento para a reunião, os deputados Sargento Rodrigues (PDT) e João Leite (PSDB), por terem ajudado a resolver um caso de prostituição.
De acordo com ela, após denúncia feita na comissão sobre exploração sexual de adolescentes, o problema foi solucionado. O deputado Sargento Rodrigues disse que a comissão, da qual é presidente, está aberta para ouvir os moradores e contribuir para a melhoria da situação.
O parlamentar também criticou o descaso com que as famílias são tratadas e apontou que os problemas enfrentados pelos moradores ainda são, em grande parte, fruto da discriminação contra os hansenianos.