Teste genético pode prevenir câncer de mama
Especialistas presentes em audiência da Comissão de Saúde defendem realização de mapeamento genético pelo SUS.
28/06/2017 - 14:45A realização do mapeamento genético de mulheres com elevado risco de desenvolver câncer de mama pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi defendida por médicos e especialistas nesta quarta-feira (28/6/17). Eles participaram de audiência da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada para debater o Projeto de Lei (PL) 18/15, que obriga a realização, pelo sistema público de saúde, de teste para identificação de mutação no gene BRCA.
O presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (Regional Minas Gerais), Waldeir Almeida Júnior, explicou que a causa hereditária é responsável por 10% dos casos de câncer de mama. Para ele, a realização do teste, evitando que esse grupo de mulheres desenvolva a doença, representaria um avanço enorme.
Waldeir Almeida afirmou que, no caso de resultado positivo, a realização da cirurgia profilática, que é uma das opções de tratamento, pode reduzir em 99% a possibilidade de incidência da doença pela mutação genética. Segundo ele, as mulheres que possuem a mutação no gene têm 85% de chance de desenvolver a doença até os 70 anos de idade.
O especialista ainda trouxe dados sobre a incidência do câncer de mama no Brasil. A expectativa é de que 57 mil novos casos apareçam em 2017, sendo 5 mil em Minas Gerais. Em 2013, 14 mil mulheres faleceram em decorrência da doença.
Histórico familiar - A geneticista Anisse Marques Chami Ferraz explicou que a mutação genética é herdada de um dos pais. Segundo ela, várias gerações com câncer indicam a possibilidade de presença da mutação, sendo que o histórico familiar é sempre avaliado.
Anisse Ferraz lembrou que existem mutações de outros genes que também podem causar o câncer de mama, mas que a alteração no BRCA (1 e 2) é o principal fator de origem hereditária. Ela apontou que, no caso do câncer de ovário, a incidência da doença devido à mutação do gene é maior, representando mais de 20% dos casos.
Estado obriga convênios a realizar exame
O presidente do Comitê de Mastologia da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Henrique Lima Couto, apontou que o Estado obriga os planos de saúde particulares a realizarem o exame, mas não disponibiliza o teste para a população. Segundo ele, para realizar o exame pelos convênios, é necessário que a mulher tenha o pedido feito por um geneticista.
Ele trouxe ainda sugestões de alterações no texto do PL 18/15. Henrique Couto defendeu que sejam inseridos dispositivos que tratem, por exemplo, da obrigatoriedade de cobertura pelo SUS da ressonância magnética para rastreamento do câncer, da oferta da medicação profilática, da realização das cirurgias preventivas de retirada da mama e dos ovários e do acompanhamento psicológico.
O médico também sugeriu que seja acrescentado dispositivo garantindo aos homens o direito à realização do teste. Segundo ele, a alteração no gene BRCA pode causar o câncer de próstata, por exemplo.
Custo – A geneticista Alessandra Lopes Starling apontou que atualmente o custo do exame é de cerca de US$ 200 para a primeira pessoa da família que for testada, sendo que, se houver mutação, o valor é reduzido para o restante dos familiares que forem realizar o procedimento.
Ela destacou que o preço do teste vem caindo a cada ano. Para Alessandra Starling, a antecipação do diagnóstico pode ajudar a diminuir os custos para o SUS, já que o tratamento após a ocorrência da doença pode ser mais caro.
Diagnóstico precoce garante tranquilidade para as mulheres
Os deputados presentes na audiência destacaram que o diagnóstico precoce, através da realização do exame, pode trazer tranquilidade para as mulheres. Eles também apontaram que o custo final é menor para o Estado, caso a doença seja evitada antes do seu desenvolvimento.
Para o vice-presidente da comissão e autor do requerimento para a audiência e do PL 18/15, deputado Doutor Wilson Batista (PSD), o teste é de grande importância, pois pode trazer conforto psicológico para as mulheres que possuem alto risco de desenvolver a doença. Ele ponderou que o seu custo é elevado, o que torna sua realização inviável para a população em geral, sendo importante a sua disponibilização pelo SUS.
O deputado Antônio Jorge (PPS) defendeu a realização do exame e considerou que o diagnóstico antes do início da doença ajuda na redução do custo final para o Estado. Já o presidente da comissão, deputado Carlos Pimenta (PDT), afirmou que o governo sabe que é importante, mas infelizemente não realiza o exame.
Mamografia - A representante da ONG Pérolas de Minas e do Movimento Todos Juntos contra o Câncer, Maria Luiza de Oliveira, falou sobre a demora na realização das mamografias. Para ela, as mulheres estão tendo dificuldade de acesso a exames preventivos. “Quando você tem câncer de mama, sua família adoece também”, lamentou.
A audiência contou com a participação de Larissa Gonçalves da Silva, que fez um relato da sua experiência. Ela perdeu para a doença a mãe, a irmã e outros familiares.