Audiência da Comissão de Participação Popular foi realizada, nesta quinta (3), na Escola Estadual Helena Guerra

Estudantes da RMBH questionam reforma do ensino médio

Alunos de escolas ocupadas afirmam, em reunião em Contagem, que objetivo do governo é desestimular pensamento crítico.

03/11/2016 - 21:50 - Atualizado em 04/11/2016 - 11:17

Professores, especialistas, representantes sindicais e alunos de escolas públicas ocupadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) criticaram a proposta de reforma do ensino médio e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/16, que limita o crescimento dos gastos públicos federais, em audiência pública da Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O debate, solicitado pela presidente da comissão, deputada Marília Campos (PT), aconteceu na noite desta quinta-feira (3/11/16), na Escola Estadual Helena Guerra, em Contagem (RMBH).

A aluna do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Monte Sinai, de Esmeraldas (RMBH), Isabella Giulia Nogueira Berto, questionou a reformulação do ensino médio proposta pelo Governo Federal, que tiraria do currículo escolar disciplinas como sociologia, filosofia, educação física e artes. Na opinião dela, as medidas têm o objetivo de acabar com o estímulo ao senso crítico dos estudantes. “É preciso aumentar o investimento na educação, e não congelar os gastos para o setor. Nós, estudantes, temos que nos mobilizar contra esse movimento”, disse.

O aluno do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Helena Guerra, Gabriel Vinícius Silva Duarte, também criticou as propostas apresentadas pelo Governo Federal, que poderiam acarretar, segundo ele, a suspensão de programas educacionais e de combate ao analfabetismo. O estudante criticou, ainda, o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sob a justificativa das ocupações das escolas. “Querem jogar um estudante contra o outro. As eleições transcorreram normalmente nas escolas ocupadas. Por que o Enem não pode ser feito?”, questionou. Gabriel destacou, ainda, que o texto da reforma do ensino médio é mal feito e não retrata a realidade e as necessidades dos estudantes.

O professor de História da Escola Estadual João de Almeida Neves, em Contagem, César Andrade, reforçou as palavras dos alunos e acusou o Governo Federal de trabalhar apenas em benefício do setor financeiro privado e do capital estrangeiro. Para ele, o objetivo da reforma do ensino médio e da PEC 55 é provocar a falência da educação pública no Brasil. “Essas iniciativas são oriundas de projetos desenvolvidos no regime militar e têm a intenção de centralizar o poder nas mãos do presidente da República”, explicou.

Educadores defendem as ocupações das escolas

A vice-diretora da Escola Estadual Helena Guerra, Grazielle Pontel, destacou que as ocupações representam uma causa de toda a comunidade escolar. Na opinião dela, as medidas do governo vão cortar direitos de alunos e professores de hoje e das próximas gerações. A educadora lamentou, ainda, que a situação do ensino público seja precária e ainda pode piorar com o congelamento dos gastos públicos, na sua opinião.

Na mesma linha, a diretora da escola, Neide Machado, afirmou que é preciso encorajar os jovens a enfrentar tudo o que atinge os direitos dos estudantes e das classes menos favorecidas. Ela relatou que a escola está ocupada há uma semana e que todo o processo foi acordado com os manifestantes. “As aulas estão acontecendo normalmente. Temos três mil alunos matriculados atualmente. O movimento é pacífico e não traz transtornos para o estabelecimento, portanto, somos a favor das ocupações”, afirmou.

A mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cláudia Ocelli Costa, explicou que a base nacional curricular comum e a flexibilização das disciplinas propostas pelo governo por meio da reforma do ensino médio são perversas e prejudiciais à comunidade escolar. Para ela, há uma tentativa de tornar a educação cada vez mais hierarquizada e menos horizontal e crítica. A educadora alertou que o governo passa a impressão de que propõe uma educação integral, mas não oferece estrutura e investimento para um ensino de qualidade. “São as elites que estão elaborando a reforma, que vai contra toda a discussão feita pelos educadores. Temos que valorizar a força da juventude”, defendeu.

Interiorização – Ao final, a deputada Marília Campos disse que pretende interiorizar o debate para promover a conscientização e a mobilização de alunos e pais sobre as mudançana educação que estão em discussão no Congresso Nacional. A parlamentar também criticou a PEC 55, que, segundo ela, vai congelar os gastos públicos com saúde e educação por 20 anos. Para ela, é preciso sensibilizar os deputados federais e senadores para que ouçam educadores e estudantes antes da aprovação da reforma do ensino médio e da limitação do aumento dos gastos públicos. “Os maiores interessados não foram ouvidos, e são essas pessoas que sabem o que deve ser feito para que se tenha uma educação inclusiva e de qualidade”, concluiu.

Consulte o resultado da reunião.