As ocupações não têm direito a água, esgoto, energia elétrica, posto de saúde ou matrículas para as crianças nas escolas públicas, conforme divulgado na audiência
Participantes da audiência anunciaram que será feita uma marcha ao TJMG nesta quarta (28)

Cohab garante negociação em processo de despejo na Capital

Decisão do TJMG sobre mandado de segurança da região da Isidora pode desalojar mais de oito mil famílias.

27/09/2016 - 14:17 - Atualizado em 27/09/2016 - 15:51

O presidente da Companhia de Habitação do Estado (Cohab), Alessandro Marques, garantiu a moradores de ocupações de Belo Horizonte que será reaberta uma mesa de diálogo sobre os processos de reintegração de posse e despejo de famílias.

O anúncio foi feito na audiência da Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada nesta terça-feira (27/9/16), a pedido da deputada Marília Campos (PT). O encontro teve o objetivo de tratar do processo de reintegração de posse, que pode provocar o despejo de mais de oito mil famílias da região da Isidora, na Capital.

Segundo os representantes das ocupações, nesta quarta-feira (28), o Tribunal de Justiça do Estado (TJMG) julgará um mandado de segurança que garante a permanência das famílias da Isidora, formada por três vilas interligadas (Esperança, Rosa Leão e Vitória), na Região Norte da Capital. Se for indeferido, o despejo poderá ser feito a qualquer momento.

Diante deste cenário, movimentos sociais solicitaram ao Estado que intervenha para que o processo seja suspenso até que se encontre uma solução pacífica para o impasse.

Alessandro Marques garantiu que a próxima reunião será no dia 4 de outubro, independentemente da decisão do TJMG. “O Estado não quer o confronto. Vou me reunir com o advogado-geral do Estado, ainda hoje, para que seja reportada a gravidade do problema ao relator do processo relativo à Isidora”, disse.

Truculência policial nas desocupações

Charlene Egídio, que falou em nome da ocupação Rosa Leão, apresentou um vídeo feito por moradores sobre a ação violenta da polícia contra os manifestantes. A representante da ocupação Esperança, Edna Gonçalves, por sua vez, reforçou que há truculência por parte da Polícia Militar, com agressão de mulheres e crianças. “Eles usam bombas e balas de borracha”, declarou.

Eliene Veloso, da ocupação Vitória, anunciou, ainda, que haverá uma marcha até o TJMG, nesta quarta-feira (28), para pressionar os desembargadores.

O coordenador nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Leonardo Péricles Roque, criticou, também, a redução de recursos para o programa Minha Casa, Minha Vida e a ausência de política habitacional da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). “O déficit passa de 120 mil habitações na cidade. As ocupações não têm direito a água, esgoto, luz elétrica, posto de saúde ou matrículas em escolas públicas”, denunciou.

Frei Gilvander, da Comissão Pastoral da Terra, espera que o TJMG tenha sensibilidade para o problema, que envolve milhares de famílias há quase quatro anos. Ele apresentou um vídeo da retirada das famílias da ocupação Temer Jamais, no Barreiro, neste mês. Sugeriu, então, que o governador desaproprie o terreno onde está a Isidora, para que haja regularização fundiária e urbanística.

Precedente judicial também preocupa

O resultado do julgamento do mandado de segurança relativo à Isidora preocupa educadores e advogados ligados aos movimentos sociais. O membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Thalles Viotti, relatou que a gestão do prefeito Marcio Lacerda não fez regularizações fundiárias na Capital.

O membro da OAB e o advogado do Coletivo Margarida Alves, Bruno Demétrio, alertaram para o fato de que a decisão do TJMG pode abrir precedente para novos despejos de ocupações. “Temos que acabar com a judicialização dos conflitos habitacionais. O tema é social e deve ser tratado na esfera de governo”, ressaltou Thalles.

O professor de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Tiago Castelo Branco, lembrou que as ocupações estão sempre abertas a negociações e que é preciso sensibilidade e discernimento do poder público. “A decisão do TJMG vai afetar toda a cidade, que precisa de uma política habitacional justa. São mais de cinco mil moradias construídas somente naquele local”, cobrou.

Providências – Ao final, a deputada Marília Campos lamentou o déficit habitacional na cidade e a ausência de representante da PBH nas negociações. De acordo com ela, a solução passa pela formação de um cadastro das famílias e a suspensão do julgamento do mandado de segurança, até que a mesa de negociação seja concluída.

A parlamentar apresentou, ainda, requerimentos que serão votados na próxima reunião:

  • Audiência com o governador e os representantes das ocupações para estabelecer o diálogo entre as partes;
  • Pedido para que não se cumpra a reintegração de posse da Isidora, caso o TJMG assim determine, até que haja conclusão das negociações;
  • Envio de ofício ao TJMG para que haja reunião de conciliação e busca pacífica dos conflitos habitacionais no Estado.

Consulte o resultado da reunião.