Movimentos sociais de prontidão em acampamento de BH
Comissão de Direitos Humanos visitou manifestantes, que denunciam golpe ao Estado Democrático de Direito.
09/05/2016 - 19:17 - Atualizado em 10/05/2016 - 11:03Deputados e manifestantes presentes ao Acampamento pela Democracia, em Belo Horizonte, foram enfáticos em afirmar que as mobilizações sociais contra o processo de impeachment sofrido pela presidente da República, Dilma Rousseff, continuarão. A garantia foi dada em reunião realizada nesta segunda-feira (9/5/16), pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), durante visita à Praça da Liberdade, onde representantes de diversos movimentos sociais encontram-se acampados.
Presidente da comissão e autor do requerimento para a visita, o deputado Cristiano Silveira (PT) afirmou que o momento que o País vive é de instabilidade política e que estão em risco direitos democráticos construídos a duras penas por todos os que lutaram contra a ditadura militar. “Nada está definido ainda. Temos de ir para as ruas e manifestar nossa insatisfação. Todos os acampados aqui sabem o que está em jogo, os direitos que podemos perder. Agora é a hora de nos manifestarmos, mais do que nunca”, afirmou.
Também autor do requerimento, o deputado Rogério Correia (PT) elogiou a "garra" daqueles acampados num espaço que, até recentemente, havia sido tomado por manifestantes a favor do impeachment. “Reconhecemos a resistência de vocês contra o golpe e a luta pela democracia desse acampamento. A população está acordando. Esse novo governo que quer o poder não respeitará os trabalhadores. Se resistirmos, esse golpe não passará. A mobilização social precisa ser maior que nunca”, destacou.
O deputado Durval Ângelo (PT) afirmou que, por mais que o atual governo tenha cometido erros, a oposição o quer fora do poder pelos acertos, especialmente as políticas públicas de apoio às camadas mais pobres da população. “Esse episódio de hoje (referindo-se à anulação da sessão de admissibilidade do impeachment pelo presidente interino da Câmara dos Deputados) só mostra que a vontade das ruas está viva. O enredo do golpe é um só: o encerramento das liberdades democráticas e o fim de qualquer administração aliada aos trabalhadores. Nossa resistência ditará os acontecimentos dos próximos dias”, alertou.
O professor e analista político Juarez Guimarães frisou que os atuais acontecimentos não são isolados do cenário internacional, tendo em vista a ascensão política da extrema direita na França e o crescimento da candidatura de Donald Trump nos Estados Unidos. “Temos que entender melhor o inimigo que estamos enfrentando. A América Latina está sofrendo derrotas importantes por meio da retirada das forças progressivas do poder. O PSDB está se transformando num partido de extrema direita, aliado a fascistas. Toda a velha intelectualidade da legenda está rompendo com Fernando Henrique Cardoso”, criticou.
O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Marcelino Rocha, falou da grande responsabilidade do movimento contra o impeachment perante as gerações passadas e futuras. “Nossas diferenças precisam ficar secundarizadas nesse momento. Muito sangue foi derramado e vidas perdidas para que tivéssemos nossa democracia de volta. O sacrifício dessas pessoas não pode ser em vão. E temos que nos esforçar para que forças progressistas vençam as próximas eleições municipais”, disse.
O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Ênio Bohnenberger, declarou que todos os atos da entidade serão, a partir de agora, contra o impeachment, incluindo a ocupação de suposta fazenda do vice-presidente Michel Temer. “Os companheiros estão mobilizados desde abril. Ontem permaneceram acampados aqui, nem foram ver suas mães no dia delas. Agora é a hora de resistir mais do que nunca. E pensar que tudo isso está acontecendo por falta de firmeza do Supremo Tribunal Federal, que permitiu que esse processo seja conduzido por alguém como Eduardo Cunha, réu em diversos processos”, lamentou.
A presidente da Central Única dos Trabalhadores em Minas Gerais (CUT/MG), Beatriz Cerqueira, disse que a decisão tomada pelo presidente interino da Câmara dos Deputados, deputado federal Waldir Maranhão (PP-MA), não muda nada nas paralisações marcadas para a rede estadual de educação a partir desta terça-feira (10), em protesto contra o impedimento de Dilma Rousseff. “O que aconteceu hoje só mostra que temos de intensificar nossas ações ou não venceremos o golpe. O Plano Temer é a privatização de tudo o que for possível em nosso País. A Petrobras e os bancos públicos estão sob ataque, o objetivo da Lava Jato sempre foi colocar essas instituições em descrédito, paralisar a economia do País”, pontuou.
Na fase de debates, pessoas presentes à reunião falaram da importância de se boicotar alguns veículos de imprensa que eles consideram claramente parciais na cobertura do processo de impeachment, como a Rede Globo de Televisão e a Folha de São Paulo.