ALMG vai pedir mediação do governo na Usiminas
Requerimento da Comissão de Desenvolvimento Econômico busca solucionar conflito e garantir funcionamento da empresa.
15/03/2016 - 20:10A Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) vai solicitar ao governador Fernando Pimentel que interceda junto aos grupos controladores da Usiminas para solucionar o conflito societário e garantir as operações e os empregos na empresa. Requerimento nesse sentido, de autoria do deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB), foi aprovado nesta terça-feira (15/3/16), em audiência da comissão que discutiu a situação da empresa e seu reflexo na economia mineira.
“Já fui prefeito. Às vezes temos que ser juiz, mediador. O problema não é de Ipatinga, mas de todo o Estado e do Brasil”, justificou Antônio Carlos Arantes, que preside a comissão. O requerimento apresentado pelo parlamentar se justifica porque, entre as razões para a crise na empresa, apresentadas na audiência, está a disputa pela sua presidência, travada por seus grupos controladores, o ítalo-argentino Ternium/Techint e o japonês Nippon Steel. Mas, além disso, há dívidas, sucessivos prejuízos e falta de caixa na siderúrgica de Ipatinga, no Vale do Aço, que já foi uma das maiores pagadores de impostos do Estado.
Além de Antônio Carlos Arantes, os deputados Celinho do Sinttrocel (PCdoB) e João Leite (PSDB) solicitaram a audiência. Celinho do Sinttrocel lembrou que a empresa teve prejuízo de R$ 1,6 bilhão no 4º trimestre de 2015 e que, diante das ameaças de recuperação judicial, a Nippon cogita aportar R$ 1 bilhão na empresa. “Temos esperança em um acordo”, salientou, acrescentando que o governo tem dado apoio, por meio da Codemig e do BDMG. Segundo o parlamentar, o quadro em Ipatinga é mais favorável do que em Cubatão (SP), onde as demissões já começaram. “Mas a empresa tem uma cadeia importante no Estado, o que torna a situação preocupante”, ponderou.
João Leite apontou que grande parte de Minas Gerais depende da Usiminas, que não é a única empresa atingida pela “política desastrosa do governo federal”. Ele criticou os investimentos da União em Cuba e Venezuela. Para o parlamentar, os recursos deveriam ser investidos no Brasil, em obras como a BR-381, onde o aço da Usiminas poderia ser usado. “Cadê o dinheiro para investir? Está na OAS, na Odebrecht”, criticou, referindo-se às empreiteiras investigadas na operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Prejuízos – O deputado Agostinho Patrus Filho (PV) apresentou dados que dão a dimensão da crise na Usiminas. “Foram R$ 3,6 bilhões de prejuízo no ano passado, o maior da história. Após o desentendimento dos sócios, a dívida, que era de R$ 6,7 bi em setembro de 2014, passou para R$ 8,1 bi em dezembro de 2015. O valor da ação caiu de R$ 14,14 para R$ 0,86”, exemplificou.
Segundo ele, há duas soluções possíveis: a venda das ações de uma controladora para a outra ou a cisão da empresa, com divisão dos ativos. “Não vemos situação semelhante em outras empresas do setor. Só consigo achar a explicação nos desentendimentos dos sócios”, disse.
Convidados criticam condução da política econômica
Convidados da audiência, porém, culparam a política econômica dos governos Lula e Dilma Rousseff. “Em 2010, a empresa respondia por 10 milhões de toneladas de aço. Então fez um investimento de R$ 14 bilhões de reais, acreditando na política do Brasil. Com cinco anos, se viu destruída”, afirmou o ex-deputado e vice-presidente da Força Sindical de Minas Gerais, Luiz Carlos Miranda, salientando que o País consumiu, em média, os mesmos 10 milhões toneladas de aço/ano nos últimos seis anos. O sindicalista conta que procurou o então presidente Lula para se queixar da invasão da China no mercado de aço no Brasil, e que “muito pouco foi feito”. O aço asiático, segundo ele, é 30% mais barato.
Luiz Carlos criticou também o governador Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior no governo Dilma. “Ele não fez nada contra os chineses. Como um governo deixa alguém vir e causar um caos social no País, sem fazer nada?", questionou. “O alinhamento ideológico do Brasil com outros países fez com que chegássemos a essa situação”, reforçou também Elias Caetano Ferreira, vice-presidente da associação que representa metalúrgicos aposentados e pensionistas, vários deles presentes à audiência.
Impostos – O vereador Jadson Heleno Moura, de Ipatinga, salientou o aumento da carga tributária promovido pelo governo também piora a situação. “Temos mais de 28 empresas fechadas só na principal rua de Ipatinga”, alertou. O deputado Carlos Pimenta (PDT) fez coro às críticas. “É desastrosa a administração do Estado, que não sabe segurar nosso maior tesouro, que é a indústria de transformação”, afirmou.
Crise dificulta investimentos, diz deputado
O deputado Felipe Attiê (PP), vice-presidente da comissão, salientou a diferença cultural entre japoneses e, do outro lado, argentinos e italianos, e defendeu a mediação. “Se tivéssemos um governo com tempo para mediar, haveria solução. Mas hoje eles só têm tempo para pensar se vão ou não ser presos”, criticou. O deputado lembrou, ainda, que não há recursos públicos para investimento. Temos um modelo econômico esgotado, uma crise profunda, com problemas estruturais que a troca de presidente no País não resolverá”, completou.
A deputada Rosângela Reis (Pros) também citou a “decadência” do Vale do Aço, com desemprego e lojas fechadas, além das dificuldades vividas pelas prefeituras, com a redução do Fundo de Participação dos Municípios. “Precisamos juntar reforços”, afirmou, afirmando que esteve com a direção da empresa e com representantes da prefeitura de Ipatinga. “Não quero apontar culpados, esse ou aquele governo, porque os anteriores também têm culpa. É uma crise geral”, definiu.
Na fase de debates, participantes da audiência também criticaram o governo federal, lembraram a responsabilidade social e ambiental da Usiminas, desde sua implantação, e a relação afetuosa dos funcionários e aposentados com a empresa. Eles também pediram a ajuda da ALMG para solucionar a crise na organização, que pode atingir outros setores da economia da cidade. Antônio Carlos Arantes se comprometeu a agendar reunião com outros parlamentares para dar prosseguimento às discussões.
Requerimentos – A comissão também aprovou outros dois requerimentos na reunião. Do deputado Antônio Carlos Arantes, para realização de audiência pública destinada a discutir o descumprimento de prestação de serviços, do pagamento de fornecedores e das obrigações trabalhistas por parte da empresa Asolar Energy, que presta serviços à Cemig. “A empresa chega no interior, não paga os honorários e ainda recebe da Cemig. A Asolar deu um calote violento na região de Paracatu e de Unaí”, afirma o parlamentar.
Já o deputado Carlos Pimenta teve aprovado requerimento de audiência pública em Nanuque (Vale do Mucuri) para debater os problemas no desenvolvimento econômico regional, que estão desestimulando o setor agropecuário, bem como questões relativas à saúde, à educação, à segurança e ao transporte, em especial o estado de conservação da BR-418. “As empresas sucroalcooleiras estão fechando; frigoríficos não aguentam mais os impostos. E a BR-418, a Estrada do Boi, está o caos no trecho entre Teófilo Otoni e Nanuque”, justificou o deputado.