Distribuição de lucros, fim da precarização e da terceirização e adoção de novas políticas de saúde e segurança foram alguns dos pontos reivindicados
Silva leu carta que será encaminhada ao governo, com as principais reivindicação da categoria
Parlamentares reforçaram o compromisso da comissão como parceira no processo de negociação

Comissão ouve reivindicações de trabalhadores da Cemig

Categoria, que está em greve há 15 dias, deve se reunir nesta quinta (10) com representante do Governo e da empresa.

09/12/2015 - 15:44 - Atualizado em 09/12/2015 - 16:53

Diante de dezenas de trabalhadores da Cemig, que estão em greve há 15 dias, o deputado Rogério Correia (PT) anunciou que, nesta quinta-feira (10/12/15), um representante do Governo do Estado e o presidente da Cemig vão se reunir com uma comissão do Sindicato dos Eletricitários do Estado de Minas Gerais (Sindeletro-MG) para debater a pauta de reivindicações apresentada pelos trabalhadores da empresa. A iniciativa é um esforço de iniciar uma negociação direta do Executivo com a categoria, que alega insensibilidade da empresa com o movimento grevista.

As reivindicações dos trabalhadores, que passam pela distribuição de lucros da empresa, o fim da precarização e da terceirização, a adoção de novas políticas de saúde e segurança, e, ainda, a valorização profissional, foram debatidos nesta quarta-feira (9) em reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

O coordenador-geral do Sindeletro, Jefferson Leandro Teixeira da Silva, disse que a greve é fruto de exaustivas tentativas que a categoria tem feito desde fevereiro para negociar com a empresa, que, segundo ele, tem se mostrado incompetente e insensível diante das reivindicações apresentadas. Ele questionou se o atual governo vai manter a mesma política do anterior ou se vai adotar uma nova postura de negociação, rompendo com a iniciativa privada e garantindo a distribuição de renda e a valorização em cada posto de trabalho. “As mesmas pessoas que sucatearam a empresa permanecem na mesa de negociação”, protestou.

O representante do Sindeletro leu ainda uma carta que será encaminhada ao governo em que aponta os principais pontos de reivindicação da categoria. Entre elas estão ainda a contratação imediata de 1.500 eletricistas do concurso público em aberto, um novo plano de cargos e remunerações, promoção dos aprovados na seleção interna e aumento real. Sobre isso, Silva lembrou que somente este ano cinco trabalhadores terceirizados morreram a serviço da Cemig.

A carta ratifica o repúdio da categoria diante das dificuldades de negociação com a empresa, mencionando que os trabalhadores foram surpreendidos com propostas de redução na remuneração e cortes de conquistas e direitos. Segundo o documento, a Cemig estaria propondo a redução de até 80% do capital do seguro de vida em grupo e o adiamento do pagamento da verba de promoção profissional, além da redução do tíquete refeição.

No documento, o Sindeletro aponta que a Cemig propõe uma redução de 50% do montante de Participação nos Lucros e Resultados (PLR), apesar da empresa apresentar um lucro superior a R$ 2 bilhões, o que corresponderia a 8% a mais do que o lucro no mesmo período do ano passado. Ainda de acordo com a carta, no esforço de viabilizar as negociações e “entendendo as dificuldades do primeiro ano de mandato”, a categoria aceitou reduzir o montante do PLR. Entretanto, para proteger os menores salários, os trabalhadores reivindicam que a distribuição seja linear, ou seja, ocorra de forma igual para todos.

Por fim, Silva repudiou o assédio que alguns trabalhadores têm sofrido de gerentes e diretores da empresa por quererem manifestar e garantir seu direito de aderir ao movimento grevista.

CUT - A presidente da Central Única dos Trabalhadores em Minas Gerais (CUT-MG), Beatriz Cerqueira, ressaltou a importância da Comissão de Direitos Humanos em acolher e não colocar empecilhos em receber os trabalhadores. Ela lembrou que a greve é um exercício de luta e paciência e que, por isso, precisa ter a atenção necessária. Beatriz também disse que já passou da hora de o Governo do Estado escolher se a sua base social será composta pelos servidores da administração, que fazem o enfrentamento no Estado, ou se será a mesma do governo anterior, baseada em alianças com empreiteiras e mineradoras.

Por fim, Beatriz Cerqueira, referindo-se à conjuntura política nacional, manifestou-se contrária ao que chamou de uma tentativa de golpe. “Tenho críticas à presidente, mas um erro dela não pode justificar um golpe, porque impeachment sem crime é golpe. A democracia é fundamental para a conquista e a manutenção de direitos”, defendeu.

Afirmando haver "continuidade da perversidade dentro da Cemig", vários grevistas criticaram a postura da direção da empresa, e também do Governo do Estado, sobretudo com relação à falta de negociação e de uma contraproposta justa às reivindicações dos grevistas. Entre as críticas feitas pelos trabalhadores estão o que eles chamaram de “concentração de renda” dentro da empresa e a terceirização dos serviços.

Mateus Alves Vaz Melo, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), destacou que a luta dos trabalhadores é pela vida, pela dignidade e contra a retirada de direitos. Ele também lamentou a falta de resposta por parte do Governo do Estado. “A Cemig tem lucros bilionários e não repassa em qualidade nos serviços prestados ou em direitos aos trabalhadores. Esta é a mesma lógica que levou ao desastre em Mariana. Por isto, esta é uma luta pela vida, pela soberania, para que o lucro que geramos não vá apenas aumentar a riqueza de acionistas, e sim seja também revertido para melhorar as condições de vida da população, da classe trabalhadora. E é uma vergonha, com 15 dias de greve, o Governo não apresentar uma proposta”, concluiu.

Deputados apoiam reivindicações da categoria

O deputado Rogério Coreia, que solicitou que os representantes do Sindeletro fossem ouvidos nesta quarta (9), disse que tem acompanhado a pauta de reivindicações da categoria. Ele lembrou que questões como a primarização do serviço, em contraponto ao modelo de terceirização, e a distribuição equitativa de lucros, sem privilégio de cargos, são alguns dos pontos que compõem uma pauta antiga e justa da categoria.

“Ela (pauta) foi um compromisso feito pelo governador e a expectativa dos trabalhadores é que o governo cumpra e comece uma nova gestão com a Cemig, com diálogo aberto, além do atendimento das reivindicações”, disse. Ao reconhecer que as negociações entre a empresa e os trabalhadores não têm caminhado, ele defendeu que é preciso dar um sinal claro de que a Cemig vai, de fato, mudar.

O deputado Cristiano Silveira (PT) reforçou o compromisso da comissão como parceira no processo de negociação. Já a deputada Marília Campos (PT) lembrou que esteve na Cemig em março deste ano, quando o novo presidente teria feito uma série de comprometimentos, como o de estabelecer um calendário para colocar fim à prática da terceirização na companhia. "Esta greve tem legitimidade porque vem cobrar compromissos assumidos. Estes deputados que aqui estão têm se empenhado em intermediar as negociações e cobrar da direção da empresa, e do Governo do Estado, que cumpram esses compromissos”, declarou a parlamentar.

Requerimentos – A comissão aprovou, ainda, requerimento de Rogério Correia para realização de uma audiência pública. O objetivo é fazer um balanço de um ano da nova gestão da Cemig. “Vamos discutir o que avançou e o que foi prometido pelo atual governo e que ainda não foi cumprido de fato”, afirmou. Outro requerimento, do deputado Durval Ângelo (PT), é para a realização de uma visita ao Ceresp de Ipatinga (Vale do Aço), para debater denúncias de possíveis irregularidades.