A Comissão de Direitos Humanos quer que, na impossibilidade de designar um juiz para a cidade, o crime seja julgado em outra comarca.
Prima da vítima, Rogéria de Souza, critica atitude do suspeito, que não quis saber como o jovem está

Audiência pede julgamento de denúncia em Jequitinhonha

Vereador da cidade é acusado de sequestrar e torturar jovem de 16 anos. Caso foi discutido na ALMG nesta quarta (28).

28/10/2015 - 13:25 - Atualizado em 28/10/2015 - 18:45

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) quer saber o motivo pelo qual a cidade de Jequitinhonha (Vale do Jequitinhonha) não possui um juiz. O pedido foi motivado, nesta quarta-feira (28/10/15), após denúncias de crimes de sequestro e de tortura contra um jovem de 16 anos, que teriam sido cometidos por um vereador de Jequitinhonha (Vale do Jequitinhonha), Adalberto José Pereira, o Beka, e seu irmão, Antônio José Pereira. A comissão também quer que, na impossibilidade de designar um juiz para a cidade, o crime seja julgado em outra comarca. Os pedidos feitos, em forma de requerimentos, são de autorida do deputado Cristiano Silveira (PT), presidente da comissão.

Para a advogada da Organização Brigadas Populares, Isabela Corby, “a impunidade penal no Brasil é seletiva, principalmente quando está em jogo um agente público”. “Quando quer punir pobre, de periferia, o Estado encarcera, mas quando é um agente público, com todo o seu poder econômico, a gente só vê os fiscalizadores da lei se esquivando de sua legitimidade, de fazer uma denúncia dessa”, acusou.

Os integrantes do Movimento Social Meninos do Bem – Jequitinhonha/MG, João Pedro Lopes Fernandes e Jussara Maria de Jesus Gomes, disseram que tentaram que a Câmara Municipal investigasse a quebra de decoro parlamentar por parte do vereador Beka, mas que, no legislativo municipal, eles não tiveram sequer oportunidade de falar. “Fizeram a blindagem do silêncio. Nossa cidade vive a lei do silêncio por quem tem mais poder”, disse Jussara.

De acordo com Jussara, o jovem teria sido torturado, no mês de junho, por duas horas e depois foi deixado em casa. “Acharam que ficaria por isso mesmo, mas não ficamos em silêncio”, disse. Ela criticou a ausência de um juiz na cidade e da "blindagem" dos vereadores para supostamente beneficiar o colega. Ela pediu que a comissão interfira por eles, já que, até o momento, não recebeu resposta de nenhuma instância pública.

A prima da vítima, Rogéria Marques de Souza, mostrou fotos do jovem agredido, com edemas e escoriações. Segundo ela, disseram que ele recebeu “apenas tapas e tapinhas”. Ela também criticou a atitude do suspeito, que não quis saber como o jovem está, principalmente porque o agredido faz uso de medicamentos controlados.

Deputados lamentam ausências de convidados

Além do pedido ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para designar juiz em Jequitinhonha, o deputado Cristiano Silveira também solicitou que o Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça e de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério Público tenha ciência do caso, já que não enviou representante à audiência.

O presidente da Comissão também lamentou essa e outras ausências na reunião e disse que o caso está parado porque não há juiz na comarca, já que o inquérito foi concluído. “Em momento algum a comissão deixará de citar esses fatos e lembrar do caso, até que o processo jurídico seja instaurado. Seremos vigilantes dos desdobramentos dos fatos apresentados por vocês”, prometeu o parlamentar.

O deputado Doutor Jean Freire (PT) disse que as fotos mostram as agressões que o jovem sofreu, com edemas e escoriações. Para ele, a polícia e a Justiça precisam dar uma resposta a essa agressão. “Eu me envergonho de quem se calou ser um agente público, político”, disse, ao criticar a ausência do contraponto à denúncia.

Presente na reunião, Duarte Bechir (PSD) também lamentou a ausência de contraponto e de outros atores relativos à denúncia. “É uma denúncia grave, que não podemos deixar sem resposta. Nós, que exercemos o mandato, devemos ser exemplo. E isso é um péssimo exemplo”, afirmou Bechir.

Professor Neivaldo (PT) também reforçou que o caso é algo para se indignar, principalmente com o envolvimento de um vereador.

Audiência - A comissão aprovou ainda requerimento do deputado João Alberto (PMDB) para que seja ouvido o jornalista Sérgio Vasconcelos, da Gazeta de Araçuaí (Norte). O jornalista alega que foi ameaçado de morte por empresários da cidade, no dia 25 de outubro, em virtude de reportagem publicada no jornal contendo denúncias de crimes cometidas por eles.

Consulte o resultado da reunião.