Paulo Henrique Amorim lança livro em audiência na Assembleia
Comissão de Direitos Humanos recebeu o autor de O Quarto Poder - Uma Outra História, uma crítica ao monopólio da mídia.
20/10/2015 - 19:48Os bastidores da maior rede de televisão do Brasil, o seu envolvimento com políticos de envergadura nacional, a troca de interesses, a manipulação da notícia nas grandes empresas de comunicação e o papel do “PIG” (“Partido da Imprensa Golpista”) na construção do cenário político, econômico, social e cultural do País são alguns dos aspectos abordados no livro "O Quarto Poder - Uma Outra História", do jornalista, blogueiro e apresentador de televisão Paulo Henrique Amorim. Com a presença do autor, o livro foi lançado na tarde desta terça-feira (20/10/15), em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Convocada a requerimento do deputado Rogério Correia (PT), líder do Bloco Minas Melhor, a audiência foi transmitida ao vivo pela TV Assembleia e pela TV Afiada, do blog Conversa Afiada, de Paulo Henrique. Sublinhando o discurso com o humor cáustico que caracteriza seus artigos, o jornalista fez críticas à cúpula da Rede Globo de Televisão e aos políticos que não ousam desafiar o poderio das grandes empresas de comunicação. Além de inúmeros parlamentares, estiveram presentes ao lançamento sindicalistas e colegas de profissão do autor, entre eles o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Kerison Lopes.
Autor do requerimento para realização da reunião, Rogério Correia deu as boas-vindas ao convidado e falou da satisfação e da expectativa de todos em recebê-lo no Parlamento mineiro. “Sou leitor assíduo da sua coluna, Conversa Afiada, e posso dizer que nós, aqui na Assembleia de Minas, também durante 12 anos estivemos muito afiados na crítica ao modelo neoliberal colocado em prática pelos governos tucanos”, disse o parlamentar. Rogério destacou também a sua afinidade com o pensamento de Paulo Henrique Amorim no que toca à crítica ao papel hegemônico por parte da TV Globo, lamentando que o ex-governador Leonel Brizola nunca tenha sido ministro das Comunicações para enfrentar o monopólio da mídia.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Cristiano Silveira (PT), ressaltou que a comissão, por longos anos presidida pelo deputado Durval Ângelo (PT), sempre atuou como foco de resistência a todo tipo de violação de direitos, inclusive à censura.
O jornalista, por sua vez, ao tomar a palavra e se dirigir à plateia, saudou a todos com o inevitável “olá, tudo bem?”, sua marca registrada como apresentador. Agradeceu ao deputado Durval Ângelo por ter facilitado o contato com o teólogo Leonardo Boff, a quem entrevistou a propósito da viagem do papa Francisco à América Latina. Ele comentou, também, a atuação, no Parlamento mineiro, do bloco Minas sem Censura. Segundo o joranalista, a expressão, usada nas gestões passadas para nomear a corrente de oposição aos governos Aécio Neves e Anastasia, “dá ideia do obscurantismo que marcou esse período em Minas” em termos de cerceamento da liberdade de expressão.
Jornalista critica intervenção da mídia no processo político
Falando sobre o livro, disse que é resultado de quatro anos de trabalho, aproximadamente, e que a ideia inicial, de contar a história da TV brasileira, evoluiu para uma abordagem de sua experiência como repórter e, daí, para a crítica ao monopólio da comunicação. Para isso, com auxílio de outro jornalista, ele se valeu de seu próprio acervo de notas, guardado em caixas durante anos e que revelam preciosidades, como entrevistas com o ex-presidentes Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves e Fernando Henrique Cardoso.
Para o jornalista, a entrevista com JK, na volta do exílio, é emblemática sobre o poderio exercido pela imprensa no Brasil e foi concedida “na época em que se podia dizer na frente de senhoras que se trabalhava na Veja”, contou, sob risos da plateia.
Criticando a forma como a Rede Globo de Televisão interfere no processo político-eleitoral e na conjuntura nacional, o jornalista defendeu a criação de um Conselho de Comunicação Social, como expresso na Constituição Federal e a exemplo do que já existe em outros países, como França e Inglaterra, “para garantir que a TV aberta seja equânime e imparcial”. Ele lamentou que nunca, no Brasil, nenhum governante tenha tido a coragem de desafiar esse poderio da Globo, “que nasceu de uma trapaça legal de Roberto Marinho com o grupo Time Life”. “Não vamos esperar que a Dilma vá mudar isso, como fez Cristina Kirchner na Argentina. Não vai”, afirmou.
Para ele, as Organizações Globo e, em particular, a Rede Globo de Televisão, trabalha “pela censura, pelo cerceamento, pela interdição, por não deixar que o pobre tenha acesso aos meios de comunicação que pertencem ao povo brasileiro”.
Apesar disso, Paulo Henrique acredita que a hegemonia da Globo está com os dias contados. “Existe um movimento tecnológico inexorável”, disse, que já começa a minar o poderio da Globo, lembrando que a presidenta Dilma anunciou, na Suécia, a introdução, no Brasil, do sistema 5G. Para isso, disse, “vai ter que tirar o sinal analógico, o que vai provocar uma queda na audiência da Globo, que já vem caindo progressivamente. “O segundo maior destino de publicidade hoje é o Google, e as novas tecnologias vão alterar o perfil da Globo e quebrar sua hegemonia”, previu.
Também presente à reunião, o líder da Maioria, deputado Vanderlei Miranda (PMDB), saudou o jornalista como “um dos poucos que têm a coragem de denunciar, ao contrário de outros”, que por conveniência, acabam se moldando às condições impostas pelos meios de comunicação. “Estamos vivendo um tempo muito difícil do ponto de vista de relacionamento com a imprensa. Não temos uma imprensa comprometida com a verdade, mas com a proposta de desestabilizar”, disse Miranda, concluindo que o Brasil precisa de outros jornalistas como Paulo Henrique Amorim.
Em resposta, Paulo Henrique disse que há muitos outros jornalistas que fazem o contraponto, lembrando que alguns estão reunidos no grupo de mídia alternativa Barão de Itararé, do qual faz parte ao lado de colegas como Luiz Carlos Azenha, Altamiro Borges e Rodrigo Vianna. “Felizmente não estou sozinho, somos uma corrente”, disse.
A deputada Marília Campos (PT), e os deputados Doutor Jean Freire e Professor Neivaldo, ambos também do PT, e Geraldo Pimenta (PCdoB) também compareceram à audiência de lançamento do livro de Paulo Henrique Amorim.
Requerimentos – No início da reunião, foram aprovados dois requerimentos. Um, do deputado Rogério Correia, propondo que sejam ouvidos convidados na 19ª Reunião Ordinária, a ser realizada nesta quarta-feira (21/10/15), às 9 horas, sobre o episódio conhecido como Chacina de Unaí, ocorrido em 28 de janeiro de 2004, no qual foram assassinados quatro funcionários do Ministério do Trabalho e Emprego, cujo julgamento está previsto para a próxima quinta-feira.
O outro, do deputado Durval Ângelo, propondo que seja realizada visita da comissão à Justiça Federal para acompanhar o Tribunal do Júri nesta quinta-feira (22/10/15), por ocasião do julgamento do episódio conhecido como Chacina de Unaí.