Deputados querem que Dilma garanta fábrica de amônia
Petrobras decidiu interromper a obra em Uberaba, prejudicando também planos mineiros para construção de gasoduto.
14/07/2015 - 18:53 - Atualizado em 14/07/2015 - 19:03Minas Gerais pode perder sua melhor oportunidade de desenvolvimento econômico, desde a instalação da montadora de automóveis Fiat, na década de 70, e só a presidente Dilma Rousseff pode evitar esse desastre. Essa conclusão, durante reunião realizada nesta terça-feira (14/7/15) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), levou os deputados mineiros a criar um grupo suprapartidário para buscar, sob a liderança do governador Fernando Pimentel, uma decisão política da presidente da República que garanta a construção, em Uberaba (Triângulo Mineiro), de um grande complexo de produção de amônia e derivados, obra que foi paralisada pela Petrobras.
A reunião da ALMG reuniu as Comissões de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo; de Política Agropecuária e Agroindustrial; e de Minas e Energia. Também participaram o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Altamir de Araújo Rôso; o presidente da Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig), Eduardo Ferreira; além de representantes da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), prefeitos e vereadores.
A amônia e seus derivados, como a ureia, são fertilizantes importados em grande volume pelo setor agrícola brasileiro. De acordo com o prefeito de Uberaba, o ex-deputado Paulo Piau, o Brasil importa hoje quase 70% do fertilizante usado no País. A fábrica de Uberaba poderia reverter esse quadro, mas a obra foi paralisada pela Petrobras, em decorrência da crise que vive a empresa. “A Petrobras disse que a obra está em hibernação”, afirmou Piau, apesar de já terem sido investidos cerca de R$ 1,2 bilhão no projeto, principalmente com equipamentos. Na verdade, a Petrobras decidiu reverter os investimentos nessa área de fertilizantes e outras e vender até mesmo a fábrica de amônia de Três Lagoas (Mato Grosso do Sul), que já está 80% concluída.
Sem a fábrica de Uberaba, o Governo do Estado considera inviável outro grande projeto que vinha entusiasmando prefeitos das regiões Central, Centro-Oeste e Triângulo: o gasoduto ligando Queluzito (Região Central) a Uberaba. A expectativa era de que 50% do volume de gás transportado seria consumido pela unidade de produção de amônia. “O investimento do gasoduto só se viabiliza com a planta de amônia”, ressaltou o secretário Altamir Rôso. O presidente da Gasmig, Eduardo Ferreira, garantiu que o projeto de implantação do gasoduto está em dia e não é a causa da decisão da Petrobras de interromper seus investimentos. “O gasoduto é um empreendimento que muda o patamar de desenvolvimento de nossas cidades”, afirmou o prefeito de Divinópolis (Centro-Oeste), Vladimir Azevedo, alarmado com o possível fim do projeto.
Para tentar reverter a decisão da Petrobras, deputados das três comissões aprovaram um requerimento para criação de um grupo de trabalho integrado também por representantes empresariais, do Governo do Estado e dos municípios interessados. A ideia, além de buscar soluções para a manutenção dos investimentos, é buscar a liderança do governador Fernando Pimentel no movimento, que incluirá o agendamento de audiências com ministros e com a presidente da República.
Volume morto - Com relação à Petrobras, os participantes da reunião concluíram que não há esperança de uma mudança de posicionamento. “Essa fábrica nunca foi prioridade da Petrobras. Vamos bater em uma porta que não tem condições de dar nenhuma resposta. A Petrobras está no volume morto”, afirmou o ex-deputado Anderson Adauto, que era prefeito de Uberaba quando se iniciou o projeto da fábrica de amônia.
Mesmo naquela época, segundo ele, o projeto só se concretizou por uma decisão política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, numa época em que a influência do governo nas decisões de sua maior estatal era bem maior. A intenção era reduzir a dependência brasileira em um recurso estratégico, que poderia paralisar o setor agrícola.
Deputados se mobilizam pela fábrica de amônia
O deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB) fez um forte apelo pela mobilização política. “A vaca já foi para o brejo, mas ainda não morreu. Ainda dá para tirá-la de lá. A ação política é o caminho. Minas elegeu Dilma, e é esse o troco que ela dá? Temos que acordar”, cobrou.
O deputado Bosco (PTdoB) afirmou que a Petrobras está em dívida com Minas, pois já deixou de instalar no Estado um polo acrílico, que foi transferido para a Bahia. Assim como os deputados Gil Pereira (PP) e Fabiano Tolentino (PPS), ele destacou que o assunto une grande número de deputados de diversos partidos, o que em si é uma demonstração de força.
O deputado Iran Barbosa (PMDB) defendeu que se busquem outros investidores para a fábrica de amônia, mesmo que Minas tenha que incentivar o empreendimento para atrair o setor privado. O deputado Tony Carlos (PMDB), no entanto, lembrou que mesmo a Vale já anunciou que pretende se desfazer de seu segmento de fertilizantes. Os deputados Professor Neivaldo (PT) e Geraldo Pimenta (PCdoB) destacaram a importância do gasoduto para os municípios de Uberlândia (Triângulo) e Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte), respectivamente. O deputado Felipe Attiê (PP), por sua vez, disse que a fábrica de amônia em Uberaba é um projeto importante para todo o País.
As três comissões ainda aprovaram um requerimento do deputado Antônio Lerin (PSB) para que a questão da fábrica de amônia e do gasoduto seja discutida em reunião com o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Mangabeira Unger.
Também participaram da mesa de debates os prefeitos de Itaúna (Centro-Oeste), Osmando Pereira, e de Pirajuba (Triângulo), Rui Ramos.