Ponte Nova quer rede integrada de combate às drogas
Audiência realizada no município nesta terça-feira (19) tratou do avanço do crack na região.
19/11/2013 - 14:07A vereadora de Ponte Nova (Zona da Mata), Patrícia Castanheira, pediu a autoridades e à Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e Outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) apoio para que seja criada uma rede de atenção, que envolva saúde, assistência social, educação, segurança e Poder Judiciário no combate ao avanço das drogas na região. O apelo da parlamentar foi feito na audiência pública realizada na cidade nesta terça-feira (19/11/13), que atendeu a requerimento do deputado Paulo Lamac (PT).
A vereadora defendeu que é preciso união de forças entre poder público e população e lamentou que o silêncio de muitos anos é a causa da epidemia do crack na região. As palavras dela foram confirmadas pelo delegado regional de Polícia Civil de Ponte Nova, João Otacílio da Silva Neto, que relatou que o aumento do consumo da droga é evidente. Segundo ele, em 2012, foram apreendidas 1.471 pedras e, em 2013, o número chegou a 4.126 pedras. “Os dados são alarmantes e sugerem a necessidade de um aumento da repressão aos traficantes na região”, disse o delegado.
O prefeito de Ponte Nova, Paulo Augusto Malta, reforçou as palavras da vereadora e do delegado e disse que o crack deve ser tratado como questão de saúde pública. Ele anunciou que a prefeitura vai criar um conselho de defesa social, que pretende dialogar com as instituições para combater o avanço das drogas, em parceria com as escolas públicas.
Autoridades cobram mais investimentos federais
O subsecretário de Estado de Políticas sobre Drogas, Cloves Benevides, entende que faltam investimentos em um sistema de inteligência policial para combater a criminalidade como um todo. De acordo com ele, são 370 mil usuários de crack nas capitais brasileiras, e eles gastam cerca de R$ 120 por dia para manter seu vício. “É preciso transformar o diálogo em soluções práticas, tais como a mudança da legislação federal e a articulação local, diretamente nos municípios”, alertou.
O subsecretário disse, ainda, que a indústria brasileira é perversa e valoriza a disseminação de produtos ilícitos. “Os investimentos anuais deste segmento superam R$ 1 bilhão em publicidade e patrocínio a grandes eventos. As leis federais a esse respeito precisam ser mais severas, assim como foi feito com o tabaco”, sugeriu.
O comandante da 21ª Cia. Independente da Polícia Militar (PM), capitão Luiz Faustino Marinho, citou o caso a política de “tolerância zero”, adotada em Nova York, que ficou mundialmente conhecida pelo seu bom resultado. Na oportunidade, de acordo com ele, foi feita uma intervenção nacional, que culminou em mudanças na legislação, investimentos em sistemas de inteligência e repressão policial nas fronteiras. Assim, o comandante sugeriu à comissão que haja empenho na sensibilização do Governo Federal.
Em resposta ao representante da PM, o deputado Paulo Lamac (PT) faz um histórico do trabalho da comissão e destacou que, após um diagnóstico feito em todo o Estado, os parlamentares têm procurado sinalizar aos governos estadual e federal os caminhos para o enfrentamento das drogas. “O crack, hoje, é uma epidemia de saúde, tendo em vista que o número de pessoas que experimentam e se tornam dependentes no País aumenta muito. A consequência disso é um Poder Judiciário sobrecarregado, um sistema prisional superlotado e um custo alto para o Estado”, concluiu.
Família é apontada como caminho para a prevenção
O promotor Sérgio de Castro Santos destacou que as soluções devem ser integradas e em todos os níveis de poder, mas alertou que a assistência e a sensibilização da família são fundamentais para que se reduza o número de usuários. Para ele, tudo o que o Estado faz hoje é pouco, tendo em vista que durante um longo tempo a sociedade se omitiu e fechou os olhos para o problema. “A prevenção passa pela educação, e a educação passa pela família”, salientou.
A defensora pública Fernanda de Souza Saraiva Possato também lamentou o aumento da quantidade de usuários nos últimos anos. Segundo ela, desde 2012, somente em Ponte Nova, foram feitas 50 internações compulsórias. Ela também defendeu a estruturação das famílias como peça fundamental para o combate às drogas, assim como o acompanhamento multidisciplinar dos dependentes químicos.
Finalmente, o presidente da Confederação Nacional das Comunidades Terapêuticas, pastor Wellington Vieira , disse que os resultados apresentados pelo Estado ainda são tímidos, tendo em vista que oferece uma política de atenção às drogas fragmentada. Para ele, a sociedade precisa se organizar e parar de transferir as responsabilidades. “Em Ponte Nova são 5.700 dependentes de álcool e 570 usuários de crack, o que impacta 15.000 familiares. O tráfico é organizado e a sociedade, não. Se isso não mudar, nada irá acontecer”, alertou.