O alerta foi feito pelo pesquisador do Ipea e mestre em Engenharia de Transportes pela UFRJ, Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho
Segundo Ribeiro de Carvalho, desde 1997, o número de motociclistas mortos no trânsito brasileiro cresce a uma taxa de 20% ao ano
Parlamentares destacaram a importância dos temas em pauta no ciclo de debates

País precisa mudar lógica da mobilidade, diz especialista

Prioridade ao transporte particular tende a piorar ainda mais o trânsito nos centros urbanos.

13/06/2013 - 12:34 - Atualizado em 13/06/2013 - 16:39

Para quem acha que a situação do trânsito nas grandes cidades está caótica, uma notícia nada alentadora: pode piorar e muito, caso governo e sociedade mantenham o comportamento atual, priorizando o transporte individual em detrimento do coletivo. O alerta foi feito pelo pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho, mestre em Engenharia de Transportes pela Coordenação de Programas em Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele proferiu, na manhã desta quinta-feira (13/6/13), a palestra magna do Ciclo de Debates Mobilidade Urbana – Construindo Cidades Inteligentes, que a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) promove durante dois dias no Plenário.

Além dos debates na Capital mineira, estão previstos encontros regionais no Vale do Aço, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, no Triângulo e no Norte de Minas ainda neste mês de junho. Esses encontros e debates precedem o Fórum Técnico Mobilidade Urbana - Construindo Cidades Inteligentes, que acontecerá no segundo semestre. O evento pretende sensibilizar os agentes públicos, sociedade civil, trabalhadores do setor de transportes e população em geral para a necessidade de construção, até 2015, dos planos municipais de mobilidade, em atendimento à Lei Federal 12.587, de 2012, que instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana.

Ribeiro de Carvalho apresentou dados estatísticos que mostram grande perspectiva de crescimento no número de veículos no Brasil, potencializada pelas políticas públicas de incentivo à aquisição e uso de automóveis. Segundo ele, o País registra uma taxa de 15 veículos para cada grupo de 100 habitantes. Nos Estados Unidos e na Europa, esse índice varia entre 60 e 80. Não por acaso, explicou, a produção automobilística no Brasil cresceu entre três e quatro vezes nos últimos 15 anos.

O estímulo governamental ao uso de automóveis também está explícito nos números oficiais. Segundo dados do IBGE, entre 2002 e 2012, a inflação medida pelo IPCA foi de 77%, enquanto o preço dos veículos novos subiu 4%, o das motocicletas aumentou 3% e o da gasolina, 41%. No mesmo período, as passagens de ônibus subiram 111% e as de metrô, 94%. Ou seja, ficou mais caro usar transporte público e mais barato andar de carro, o que explica o crescimento médio anual de 7% na frota de automóveis e de 12% no número de motos no Brasil entre 1998 e 2008.

Mais congestionamentos, poluição e acidentes fatais

O pesquisador fez questão de deixar claro que, do ponto de vista do bem-estar social, não há nada errado em ter um carro. O problema é o impacto que isso provoca na vida da população como um todo. Além do aumento dos congestionamentos e da poluição, há o drama dos acidentes fatais, que hoje atingem majoritariamente ocupantes de motos.

Desde 1997, afirmou Ribeiro de Carvalho, o número de motociclistas mortos no trânsito brasileiro cresce a uma taxa de 20% ao ano. Em 2011, eles representavam 27% das mortes, contra 23% de ocupantes de automóveis e 21% de pedestres. Outro dado preocupante: no Brasil, a taxa de mortes no trânsito para cada 100 mil habitantes é de 21,5, maior que a média mundial, que é de 18. Nos países desenvolvidos, o índice é de nove mortes para cada 100 mil habitantes.

Em termos financeiros, o pesquisador afirmou que o custo de um acidente com morte custa R$ 560 mil nas rodovias e R$ 219 mil nos aglomerados urbanos. O cálculo leva em conta a perda de produção da vítima ao longo do que poderia ser o restante de sua vida, gastos com internação, transporte e outros aspectos. Os constantes e crescentes engarrafamentos também são cada vez mais sentidos pela população. De acordo com o pesquisador, a cada ano gasta-se em média mais tempo para se chegar ao destino. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, 10,6% das pessoas gastavam mais de uma hora para chegar ao trabalho em 1992. Em 2009 esse percentual passou para 15%.

O caminho para se alcançar um sistema de mobilidade urbana sustentável, segundo Ribeiro de Carvalho, passa pela inversão da prioridade, privilegiando o transporte público em detrimento do privado. Para isso, ele sugere que o poder público provoque o aumento dos custos para aquisição e uso de veículos particulares, como taxação dos combustíveis e aumento da cobrança pelo estacionamento, por exemplo. Ao mesmo tempo, o pesquisador defende a adoção de políticas de estímulo ao transporte público, como ampliação do financiamento para o barateamento das passagens.

Ciclo é o primeiro de uma série de eventos sobre a mobilidade

Na abertura do encontro, o presidente da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da ALMG, deputado Paulo Lamac (PT), lembrou que esse é o pontapé inicial de um debate complexo, que afeta a vida de todos, com problemas de difícil resolução e que não têm um caminho único. Segundo ele, esse ciclo inicial irá situar a discussão sobre o tema no País e no Estado, indo a regiões metropolitanas e a macrorregiões de Minas Gerais. “A intenção aqui é destrincharmos a problemática para que nos fóruns no interior possamos lançar um olhar mais específico para as regiões”, afirmou.

Na opinião do presidente da ALMG, deputado Dinis Pinheiro (PSDB), o ciclo de debates, reunindo especialistas e público especializado, vai ofertar para a sociedade algo de positivo em torno do assunto.

A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, deputada Liza Prado (PSB), também destacou a importância dos temas em debate neste evento que podem transformar a vida da população.

Programação - A programação do ciclo de debates continua durante esta quinta-feira (13) e na manhã desta sexta (14), no Plenário da ALMG.