O anúncio foi feito na sede do 12º Departamento de Polícia Civil de Ipatinga, durante visita da Comissão de Direitos Humanos

Comissão e ministra querem que PF investigue assassinato

Polícia Federal será convidada a atuar nas investigações sobre caso do jornalista Rodrigo Neto, assassinado em Ipatinga.

19/03/2013 - 20:56

Entidades de defesa dos direitos humanos vão solicitar ao Ministério da Justiça a colaboração da Polícia Federal na apuração do assassinato do jornalista mineiro Rodrigo Neto Faria, morto em Ipatinga (Vale do Aço) no último dia 8. O anúncio foi feito na tarde desta terça-feira (19/3/13), na sede do 12º Departamento de Polícia Civil no município, durante visita da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

A proposta foi levantada pelo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinicius Furtado Coêlho, e pelo presidente da OAB regional, Luís Claudio Chaves, e apoiada pela ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, e pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, deputado Durval Ângelo (PT), entre outros.

Bacharel em Direito e jornalista investigativo, Rodrigo Neto foi morto após ter feito uma série de denúncias que vinha apurando sobre o envolvimento de policiais da região com o crime organizado. O assassinato chocou a comunidade de Ipatinga e todo o Vale do Aço, bem como seus colegas jornalistas que, após o episódio, criaram o Comitê Rodrigo Neto, clamando pela apuração dos fatos e pela punição dos culpados. O comitê já conta com a adesão de cerca de mil pessoas e entidades, entre elas o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, segundo informou uma das diretoras do órgão, Vilma Tomaz Ribeiro, que pediu a federalização das investigações.

Contudo, tanto os representantes da OAB quanto a ministra Maria do Rosário e o deputado Durval Ângelo afirmaram que não seria conveniente a federalização, o que exigiria mudança de competência do Estado para a União. Além disso, explicou a ministra, a alteração interromperia as investigações que já estão em andamento. Ela manifestou inteira confiança na competência da polícia mineira para apurar os fatos e levar as investigações a bom termo, e prometeu que o crime não ficará impune.

O mesmo afirmaram os representantes da OAB e o deputado Durval Ângelo. Todos, porém, destacaram a importância de que a Polícia Federal seja convocada para colaborar nas investigações. Segundo eles, a presença dos agentes federais seria valiosa na apuração do crime. Todos concordaram, também, que o assassinato do jornalista não é apenas um crime contra a pessoa humana, mas também contra a liberdade de expressão e os direitos fundamentais garantidos na Constituição e contra o estado democrático de direito.

Ministra e deputado querem apuração de crimes denunciados

Depois de participarem de uma audiência aberta, no auditório da Polícia Civil, Maria do Rosário, Durval Ângelo e os representantes da OAB foram unânimes em afirmar que mais do que apurar o assassinato do jornalista, é necessário apurar, também, os crimes que ele, há anos, vinha denunciando.

O deputado Durval Ângelo lembrou que o Vale do Aço há mais de dez anos vem sofrendo com esse tipo de violência, envolvendo policiais. O parlamentar lembrou, inclusive, que o seu próprio nome já teria circulado em uma lista de marcados para morrer, segundo confessou um pistoleiro preso, Adriano Pitt Bull. Entretanto, disse, o mandante até hoje continua impune.

Depois de receberem a imprensa e manifestantes no auditório do 12º Departamento de Polícia Civil, as autoridades se reuniram a portas fechadas, para tratar do assunto reservadamente, já que as investigações correm sob sigilo.

A ministra Maria do Rosário estava acompanhada de membros do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e integrantes do recém-formado grupo de estudos destinado a acompanhar as violações de direitos e atentados contra profissionais da comunicação. Integraram a comitiva da ministra os deputados federais Nilmário Miranda (PT-MG) e Gabriel Guimarães (PT-MG) e o coordenador do grupo, Tarcísio Dal Maso.

Manifestação – De luto, portando fitas pretas nos pulsos e camisetas pretas com os dizeres “Rodrigo Neto – sua voz não vai se calar” e “Chega de impunidade!”. Foi assim que colegas do jornalista assassinado, muitos participando da cobertura do evento, compareceram ao 12º Departamento de Polícia Civil, marcando o seu protesto contra a execução do colega. Os manifestantes aplaudiram a ministra quando ela anunciou que a morte do jornalista não ficará impune. Ela reconheceu que as circunstâncias da morte de Rodrigo são passíveis de serem identificadas como crime de extermínio e prometeu  que o governo não permitirá impunemente ocorrências dessa natureza.