Queijo meia-cura da região da Serra da Canastra é único no mundo

Infográfico

Uma cidade do queijo no paraíso da Canastra

Já está em vigor a Lei 20.549, que ajuda produtores como os de São Roque de Minas a se legalizarem e expandirem negócio.

Por Arlan França
15/02/2013 - 11:58

Quem sai aos seus não degenera. O ditado popular serve bem para ilustrar a importância da preservação dos queijos artesanais de Minas, uma tradição que sobrevive a duras penas nos rincões do Estado, em fazendas como as de São Roque de Minas. Esse pequeno município de pouco mais de seis mil habitantes, no Centro-Oeste mineiro, ao pé da Serra da Canastra, tem entre seus maiores orgulhos o domínio da arte de fazer queijos.

O queijo canastra produzido em São Roque de Minas e nos municípios vizinhos, do tipo conhecido como meia-cura, não encontra paralelo em nenhum outro local do mundo. Mas para que a riqueza deste patrimônio histórico, cultural e econômico ganhe o devido reconhecimento, e se reverta em fama e fortuna para a cidade e seus moradores, ainda há um longo caminho a percorrer.

Os primeiros passos dessa caminhada já foram dados. Um deles graças a uma proposição aprovada no final do ano passado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais e transformada em lei recentemente pelo Executivo. A Lei 20.549, de 2012 dispõe sobre a produção e a comercialização dos queijos artesanais de Minas Gerais, abrindo a possibilidade para que milhares de produtores pelo interior mineiro saiam da ilegalidade e possam finalmente sonhar com voos mais altos.

"Profissionalização" – Falar do exemplo francês, com seus queijos artesanais cada vez mais valorizados ao redor do mundo, é complicado quando se conhece de perto as precárias queijarias pelo interior mineiro. Por aqui, o primeiro passo é regularizar a queijaria, o que foi facilitado pela nova lei, e “profissionalizar” a produção, agregando valor ao produto.

Mas essa “profissionalização” não significa perda de identidade. É que, curiosamente, o principal obstáculo para expansão da atividade é justamente o que faz o queijo artesanal mineiro ser tão especial - e que também levou o cineasta Helvécio Ratton a produzir o documentário “O Mineiro e o Queijo”. O fato de ser produzido com leite cru, não pasteurizado, do mesmo jeito que são produzidos os famosos queijos franceses, limita sua comercialização fora das fronteiras do Estado em virtude das normas sanitárias federais.

Por isso, o objetivo principal da nova lei, mais do que a simples valorização do queijo artesanal mineiro, é estabelecer um novo marco legal para a expansão do negócio, inclusive com a instituição de políticas públicas que permitam o repasse de recursos. Quem já reformou ou construiu uma queijaria, se antecipando à nova lei, já sente a diferença no bolso. Entre os produtores de São Roque de Minas, por exemplo, é possível quase triplicar o preço de venda. O primeiro passo para isso deve ser o cadastro formal no Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), conforme estabelece a nova lei.

Minas sai na frente – Originada do Projeto de Lei (PL) 1.702/11, de autoria do deputado Antônio Carlos Arantes (PSC), a nova lei manteve Minas Gerais na vanguarda do assunto. “Queremos o fim da clandestinidade, o reforço ao comércio formal, com nota fiscal e controle sanitário, que garanta mais renda ao produtor e saúde para quem consome”, destaca o parlamentar.

Dez anos antes, o Parlamento mineiro já havia aprovado uma lei (Lei 14.185, de 2002, revogada pela nova lei) contemplando o queijo tipo minas, que é curado – com um tempo de maturação maior. Agora, na prática, o alcance da legislação foi ampliado para outros tipos de queijo artesanal, como o meia-cura, um campeão de vendas, o cabacinha e o requeijão artesanal, abrindo a possibilidade ainda para que outros, que podem ou não ser produzidos com leite de vaca, sejam reconhecidos no futuro.

No fim das contas, bons ventos estão soprando a favor dos produtores mineiros de queijo artesanal. Seguindo o exemplo dado pela Assembleia, o Estado acaba de anunciar a instalação de três centros de maturação para estimular o comércio de queijo. Um deles será justamente na Serra da Canastra. Nessa região será implantado ainda o Museu do Queijo, no município de Medeiros, um merecido reconhecimento a uma das maiores tradições mineiras.