Combate à indisciplina previne violência escolar

Ainda para professor da Ufop, esse tipo de violência está sendo superestimado

04/10/2011 - 19:30

Para o doutor em Educação pela UFMG e professor adjunto do Departamento de Educação da Universidade Federal de Ouro Preto, Luciano Campos Silva, há uma tendência a se superestimar a violência nas escolas. “O risco de negar a violência é grande, mas o risco de inflamar a discussão, culpando a escola pública, é muito maior. Reconhecer que a escola pública tem problemas não significa dizer que ela só tem problemas”, afirmou.

Luciano Silva destacou que suas pesquisas vem focando num tema que, apesar de ser um dos responsáveis pelo aumento da violência escolar, não desperta muito interesse: a indisciplina nesse ambiente. Na avaliação dele, não se pode confundir indisciplina com violência, fenômenos parecidos, mas com natureza diferenciada. Segundo o professor, a indisciplina seria menos grave que a violência, a qual surge por não se combater preventivamente o primeiro fenômeno.

A resposta a esses problemas se daria, de acordo com Luciano Silva, por meio de um ambiente escolar organizado, disciplinado, seguro e voltado para a aprendizagem e boa convivência, para combater a violência; e através da prevenção de comportamentos perturbadores menos graves e menos visíveis, que constituem os atos de indisciplina. “Combater problemas menos graves é a chave para combater os mais sérios. Ninguém resolve assaltar um banco da noite para o dia”, receitou, lembrando que, quanto mais o ambiente é indisciplinado, menor é o rendimento escolar, como mostram as pesquisas.

Por fim, ele postula que nenhuma política nessa área dará certo sem a adoção de ações que zelem pela integridade, autoridade e respeitabilidade do professor, por meio da melhoria gradativa do salário, maior tempo de descanso e planejamento e tempo para investimento na relação com o aluno e na resolução de conflitos. E nesse trabalho, é fundamental, na visão de Luciano Silva, aumentar a responsabilização também dos estudantes e seus pais.

Projeto trabalha valores humanos

Emocionada, a professora e coordenadora do Movimento Viva e Deixe Viver, Maria Beatriz Costa Pereira, afirmou que se sentia gratificada por ter a oportunidade de divulgar seu projeto “Viva e Deixe Viver” a toda Minas Gerais, por meio da ALMG. Ela contou que, depois de décadas trabalhando em escolas públicas em bairros pobres, com a morte trágica de sua filha em um acidente de carro, decidiu dar maior sentido a sua vida idealizando esse projeto.

Maria Beatriz disse que o nome do projeto vem de uma música de Padre Zezinho e tem o ser humano como centro. O objetivo é trabalhar valores importantes a serem cultivados pelo homem (tendo como referência o livro “Pequeno tratado das Grandes Virtudes”, de André Comte-Sponville), como compaixão, gratidão, perseverança, honestidade, justiça, coragem, disciplina, fé, prudência, tendo ao centro o amor.

Segundo a professora, seu trabalho é voluntário e ela vai a escolas que a convidam para ministrar palestras envolvendo as virtudes, permeadas por temáticas mais gerais. Desde 2002, quando começou o projeto, a cada ano, o “Viva e Deixe Viver” foca um tema, tendo trabalhado desde então, assuntos como convivência, felicidade, meio ambiente, perdão, caridade, entre outros.

Ela deixou um recado aos professores presentes: “muitos dizem a mim, Beatriz, você enlouqueceu? Eu respondo que sim, porque sou uma pessoa sonhadora. Acho que o dia em que o educador deixar de sonhar ele deve largar essa profissão. Vocês estão a fim de amar o filho dos outros? Se não, vão vender roupa, que dá muito mais dinheiro”, finalizou.

Proerd já atingiu 2 milhões de pessoas

O capitão da PMMG e coordenador do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), Hudson Matos Ferraz, destacou que o programa atingiu, desde que começou, cerca de 2 milhões de pessoas, atuando com 712 instrutores em quase 4 mil escolas de 546 municípios mineiros. Com o desenvolvimento do projeto, disse o capitão, foram estabelecidos cinco currículos para diferentes faixas etárias: crianças de até 5 anos, de 6 a 10 anos, de 10 a 15 anos, estudantes com 16 ou mais anos e um último para os pais desses alunos. Ele acrescentou que um policial treinado para ministrar o Proerd faz o curso em um semestre e está apto a zelar pela segurança de até mil crianças numa escola.

O capitão Hudson valorizou outros programas desenvolvidos pela PM na área educacional, como o “Jovens construindo a cidadania” e a Patrulha Escolar. No primeiro, que consiste em um projeto de polícia comunitária com a participação do jovem estudante, já foram treinados 341 educadores e assistidas 61 mil pessoas. Já a Patrulha Escolar, diz o militar, está presente em 167 cidades, sendo que em 28 delas já foram criados conselhos de segurança pública escolares, outra bandeira defendida pela PMMG.

Formadores de opinião - Em sua apresentação, o doutorando em Direito e delegado regional da Polícia Civil, Jéferson Botelho Pereira, detalhou as ações do Projeto Capacitar, voltado para a multiplicação de formadores de opinião, na maioria, professores das redes municipal e estadual de Governador Valadares. Desenvolvida pela Polícia Civil, em parceria com a Superintendência Regional de Ensino, a iniciativa tem como objetivo capacitar esses profissionais para identificar alunos em situação de risco social.

Como parte das atividades, o grupo vem participando de um ciclo de palestras no qual são abordados assuntos como exploração de menores, combate às drogas, violência doméstica e bullying. Na próxima etapa, prevista para novembro, as atividades se voltarão para a discussão dos crimes praticados na Internet.