Especialistas dizem que violência na escola é problema de
todos
Gestores estaduais e municipais, educadores,
especialistas, autoridades, alunos, pais e cidadãos foram unânimes
ao afirmar que a questão da segurança nas escolas é de
responsabilidade de todos. A conclusão se deu após os debates do
último encontro regional do Fórum Técnico Segurança nas Escolas -
por uma cultura de paz, realizado em Teófilo Otoni (Vale do
Mucuri), nesta quinta-feira (1º/9/11). O evento, promovido pela
Assembleia Legislativa de Minas Gerais, tem como objetivos levantar
problemas enfrentados por alunos e educadores decorrentes da
violência dentro e fora do ambiente escolar e discutir a elaboração
de políticas públicas relacionadas à questão. O fórum teve etapas
regionais em Janaúba (Norte), Varginha (Sul), Contagem (Centro) e
Araxá (Triângulo), e a etapa final será em Belo Horizonte, entre 4 e
6 de outubro.
De acordo com o presidente da Comissão de Educação,
Ciência e Tecnologia, deputado Bosco (PTdoB), a violência dentro e
fora do ambiente escolar acontece em todas as regiões do Estado,
portanto não é um desafio a ser enfrentado apenas por educadores,
pais e alunos. "É uma questão social. Temos que fazer uma ação
conjunta para propormos políticas públicas para que as escolas
possam cumprir seu verdadeiro papel, que é formar seres humanos",
destacou.
O presidente da ALMG, deputado Dinis Pinheiro
(PSDB), também afirmou, por meio de mensagem lida no evento, que as
famílias e as instituições públicas devem fazer parte do processo.
Para ele, a missão da escola de promoção da boa convivência e da
formação de cidadãos vem sendo comprometida por atos de violência.
"A escola pode contribuir para mudar esta realidade, pois é o espaço
mais aprimorado para estimular a juventude a exercer seus direitos e
deveres, mas o problema é de todos", afirmou na nota.
O deputado Neilando Pimenta (PHS) reforçou as
palavras dos colegas parlamentares ao dizer que é importante criar
um ambiente sadio e seguro, com a valorização dos professores e
qualificação das escolas.
Gestores querem valorização dos educadores
A prefeita de Teófilo Otoni, Maria José Haueisen,
acredita que a educação é o pilar de um País desenvolvido. Para ela,
é preciso identificar quem são os promotores da violência nas
escolas. "Recebemos alunos de todos meios e classes sociais.
Crianças que convivem num ambiente familiar violento, e levam este
comportamento para dentro de sala de aula. Os professores precisam
ser valorizados e capacitados para compreender esses alunos e tornar
a escola mais agradável e segura", salientou. O presidente da Câmara
Municipal, Northon Neiva Diamantino, acrescentou às palavras da
prefeita que é preciso, ainda, desenvolver políticas públicas para o
segmento.
O presidente do Sindicato dos Professores de Minas
Gerais, Gilson Luiz Pires, acredita que a violência é um processo
cultural. "Está em casa, na mídia e, com isso, na escola", disse.
Dessa forma, ele alega que é necessário abandonar o conceito de
coerção como solução, e estabelecer um processo contínuo de
democratização no ambiente estudantil, além de melhorar a
remuneração dos profissionais.
O presidente da União dos Estudantes de Teófilo
Otoni, Felipe Lemos, lembrou que os educadores atuam como mestres e,
muitas vezes, até como pais. Ele entende que o problema da violência
nas escolas é reflexo do que acontece nas famílias e na sociedade.
"Os professores são fundamentais neste processo, portanto devem ser
devidamente valorizados", completou.
Medo - O diretor da Escola
Estadual Ione Lewik, Abraão Scopel, disse que as escolas, hoje, não
podem viver sem muros. Segundo ele, os educadores são reféns do
medo, porque não há políticas públicas para a segurança nas escolas.
Ele acredita que os alunos causadores da violência não são
assistidos como deveriam e os professores são mal remunerados.
Estado destaca programas
A diretora da Superintendência Regional de Ensino
de Teófilo Otoni, Maria da Conceição Fernandes, que representou a
Secretaria de Estado de Educação, disse que o Poder Executivo tem
tentado mudar e desestimular a violência. Isso, segundo ela, tem
sido feito por meio de projetos como o "Escola Viva, Comunidade
Ativa", que prepara as escolas para receber os alunos e, com isso,
efetivar o projeto educativo.
O comandante da 15ª Região da Polícia Militar,
coronel José Geraldo Lima, destacou as ações de prevenção da
corporação tais como o "Programa Educacional de Resistência às
Drogas" (Proerd), que combate o acesso às drogas na escola; o "Jovem
com Cidadania" (JCC); e o "Polícia de Proteção Integrada" (POPI),
que é desenvolvido em Teófilo Otoni. "O Estado tem trabalhado para
solucionar o problema e tem obtido bons resultados", disse.
Parceria - O delegado de
Polícia Civil Jaílson Ferreira Pacheco acredita que é preciso
rediscutir o papel da escola na sociedade. Para ele, é importante
que as instituições de defesa social sejam parceiras neste processo.
"As polícias devem trabalhar em conjunto com os órgãos de educação
para que se melhore o ambiente escolar. Afinal, a violência nas
escolas gera violência fora das escolas", afirmou.
Teófilo Otoni tem projeto modelo
O coronel da Reserva e ex-comandante da 15ª Região
da Polícia Militar, Sandro Lúcio Fonseca, foi o expositor do painel
"Experiências na prevenção e no combate à violência escolar". Em sua
participação, ele falou sobre o projeto "Polícia de Proteção
Integral à Criança" (POPI), desenvolvido e realizado há seis anos na
região de Teófilo Otoni.
Considerado modelo no Estado, o POPI desenvolve
ações como a implantação de conselhos de segurança escolares,
policiamentos comunitários distritais escolares, núcleos
multidisciplinares de acompanhamento socioeconômico e criminal,
escolas especiais para o atendimento à criança e adolescente
infrator, campanhas de interação e integração das escolas e seus
ambientes e campanhas de escola solidária. O projeto é um serviço
oferecido pela Polícia Militar a crianças e adolescentes, tendo como
referência o ambiente escolar. Suas vertentes são cidadania,
atendimento e prevenção, e ele atualmente abrange 60 municípios.
Segundo o expositor, em Minas Gerais, cerca de 15%
dos presos são menores de idade, e em Teófilo Otoni os números
chegam a 18%. "Isso significa que o Estado deveria dar um tratamento
prioritário à questão e não está dando", alertou. Ele lembrou que,
na região, antes da implantação do projeto, o efetivo policial era
de apenas três homens, e a violência nas escolas era considerada um
problema pedagógico. Hoje, o efetivo é de 45 homens. Uma pesquisa
feita pela corporação mostra que, depois do POPI, a sensação de
segurança aumentou na comunidade e as ocorrências diminuíram.
Críticas - Ao final, o
coronel destacou os pontos críticos da questão da falta de segurança
nas escolas. Para ele, os órgãos públicos responsáveis pela defesa
social podem fazer mais do que fazem; a Polícia Militar é o órgão
que mais pode oferecer; as medidas adotadas atualmente são
ineficazes; a intervenção deveria ser preventiva, portanto antes do
primeiro ato infracional; e é necessário criar instituições
educacionais especiais com modelos diferentes do da internação.
Diálogo democrático é apontado como caminho
O mestre em Sociologia pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) e professor do Departamento Interdisciplinar de
Ciências Básicas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha
e Mucuri (UFVJM), Rodrigo Ednilson de Jesus, foi o expositor do
painel "Segurança nas Escolas - por uma cultura de paz".
Para ele, a mídia destaca apenas a violência
causada pelos estudantes. Com isso, leva a opinião pública a
interpretar que a solução passa pelo aumento do policiamento nas
escolas e a instalação de detectores de metal e câmeras de
segurança. "Outras situações de violência ficam intocadas. A falta
de diálogo democrático entre professores, alunos e instituição
escolar, a segregação, a discriminação, o bulliyng e a
intolerância não são trazidos ao debate", lamentou.
Segundo o professor, favorecer uma cultura de paz
nas escolas não se limita à eliminação da violência física. Ele
acredita que a criação de espaços democráticos que ensinem aos
estudantes como conviver com as diferenças e ações que promovam o
protagonismo juvenil são importantes. "Devemos trocar muros por
cercas, para que a comunidade se aproxime da escola. Precisamos
substituir a repressão por meios que facilitem a convivência entre
as pessoas", finalizou.
Presenças - Deputados Bosco
(PTdoB), presidente da Comissão de Educação, e Neilando Pimenta
(PHS).
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