Expositores defendem saída pedagógica para conflitos nas
escolas
A busca de uma solução pedagógica para a violência
que ocorre no ambiente escolar foi defendida pela professora de
Antropologia Urbana, Comunicação e Educação da PUCMinas, Sandra de
Fátima Pereira Tosta. Ela fez uma exposição sobre o tema "Segurança
nas escolas: por uma cultura de paz", durante o encontro regional do
fórum técnico sobre o mesmo tema, em Contagem, nesta segunda-feira
(22/8/11).
De acordo com a expositora, que é mestre em
Educação e doutora em Antropologia Social, a violência escolar é,
antes de tudo, uma questão pedagógica, porque diz respeito à
formação do cidadão. Ela argumentou que há muita confusão entre
violência, que seria a negação da possibilidade de diálogo e da ação
do outro, e indisciplina, entendida como desordem, como atitudes que
desfavorecem o clima de aprendizagem. "A ação precisa ser pedagógica
e não policial", afirmou. Para ela, a ajuda policial é essencial nos
momentos de crise, mas os professores não podem abrir mão de seu
papel de educadores.
Bullying - A pesquisadora também provocou a
reflexão da plateia sobre o bullying. "Será que qualquer
gozação deve ser considerada bullying? Em alguns casos, não
seriam estratégias dos alunos para criar uma identidade?",
questionou. Ela explicou que o bullying é o desejo consciente de vitimar
uma pessoa de forma repetida, recorrente, causando tensão.
Sandra Tosta acredita que, para entender melhor o
que se passa com os alunos e compreender seus comportamentos, os
professores precisam estar mais perto deles, conhecê-los e manter um
diálogo aberto com os estudantes.
A pesquisadora também defendeu a valorização do
profissional da educação. Ela considera que não dá para pensar em
violência no ambiente escolar sem pensar no profissional da área. E
apontou o abandono dos cursos de formação para a carreira de
professor, o não acolhimento e o adoecimento dos profissionais,
sinais da violência sofrida por eles. "É difícil encontrar
profissional que tenha autoestima tão baixa quanto a do professor",
observou.
Experiências de combate à criminalidade
O Projeto Mediar, da Polícia Civil, foi apresentado
por sua gerente, a antropóloga e investigadora de Polícia, Adriana
Maria da Costa. A mediação, no âmbito da Polícia Civil, teve início
como um projeto piloto na delegacia do bairro da Floresta, em Belo
Horizonte, após a constatação da recorrência de alguns casos. Hoje,
o Projeto Mediar está em todas as delegacias de Belo Horizonte e já
começa a ser implantado na região metropolitana.
Segundo a gerente do Mediar, foram feitos 3.182
atendimentos em 2010 e 1.356 em 2011. No ano passado, houve 23
reincidências (conflitos não resolvidos pela mediação). Antes da
implantação do projeto, a média era de cinco reincidências para cada
caso.
Adriana Costa defendeu que as ocorrências nas
escolas sejam tratadas como conflitos e que se busque a conciliação
para resolvê-los. "Na conciliação não há autor e vítima e, sim,
demandante e demandado", comparou.
Ela continuou dizendo que a mediação não é o única
ou a melhor alternativa para o ambiente escolar, mas é uma
alternativa para a solução dos problemas das escolas dentro da
própria escola. Ela acredita que professores e alunos devem ser
capacitados para atuar como mediadores.
Projetos em Contagem - O
coordenador de Prevenção à Criminalidade da Secretaria de Estado de
Defesa Social, Talles Andrade de Souza, também acredita que o Estado
precisa oferecer outras possibilidades de atuação na área da
segurança, além da repressão. "O que se propõe é ampliar a visão
meramente repressiva e inserir novos paradigmas sobre o papel das
políticas públicas na redução da criminalidade e no enfrentamento do
fenômeno social da violência", explicou.
No encontro regional, ele apresentou experiências
bem-sucedidas implantadas em Contagem. Uma delas é o Projeto
Movimento, executado pelo Programa Mediação de Conflitos em parceria
com a Escola Municipal Maria do Carmo Orechio, em 2008. O projeto,
voltado para os alunos da Educação de Jovens e Adultos, tinha o
objetivo de contribuir para a redução da violência de gênero. Foram
utilizadas aulas de dança de salão como um pano de fundo para as
discussões sobre afetividade, gênero, direitos e garantias
fundamentais, prevenção à criminalidade, resolução pacífica de
conflitos e relações familiares.
Outra experiência foi o Projeto Graffiti, realizado
em parceria com a Escola Municipal Professora Ana Guedes Vieira. A
ação buscava mobilizar os líderes de classe da 5ª à 8ª séries, para
criar soluções para a invasão da escola durante o período das aulas.
O muro era frequentemente depredado e, pelo buraco aberto, entravam
os invasores.
Como uma possível solução, foi proposto pelos
alunos que se grafitasse o muro com mensagens de paz e respeito, e,
assim, evitar a depredação, e ao mesmo tempo as invasões. "Mais
importante que o resultado, a ação em si foi o processo de
construção de uma alternativa envolvendo os alunos", afirmou Talles
de Souza.
A técnica da mediação de conflitos também foi
implantada em parceria com as escolas da região de Nova Contagem, no
Projeto Mediadores Mirins.
Presença - Também
participou dessa mesa de trabalhos, coordenada pela deputada Maria
Tereza Lara (PT), a psicóloga, mestre e doutoranda em Saúde da
Criança e do Adolescente pela UFMG, Soraia Pinto
Sena.
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