Participantes de encontro em JF pedem valorização de
professores
A capacitação e a valorização dos profissionais da
educação, com a implantação do piso nacional para os servidores da
categoria e o aumento do percentual orçamentário investido na área.
Essas foram algumas das principais propostas apresentadas pela Zona
da Mata para enfrentar a violência nas escolas. O primeiro encontro
de interiorização do Fórum Técnico Segurança nas Escolas - por
uma cultura de paz, realizado pela Assembleia Legislativa de
Minas Gerais reuniu cerca de 450 pessoas de 40 municípios da região,
em Juiz de Fora, nesta terça-feira (21/6/11).
O fórum realizará ainda quatro reuniões em outras
regiões do Estado e, entre os dias 5 e 7 de outubro, será encerrado
em Belo Horizonte, com a votação das propostas apresentadas em todo
o Estado.
Três grupos de trabalho discutiram a violência na
escola e apresentaram dez propostas cada para serem encaminhadas
para a etapa final do fórum, em Belo Horizonte. Os temas discutidos
pelos grupos foram Violência no ambiente escolar (Grupo 1);
Integração de ações e programas (Grupo 2) e Prevenção e combate à
violência escolar (Grupo 3).
Os grupos sugeriram, entre outras ações, a criação
de uma escola de pais, em atendimento ao artigo 129 do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) ou voluntária; a incorporação de
conteúdos voltados à prevenção da violência nos currículos escolares
e a criação de uma rede de atendimento multidisciplinar dentro da
escola, com a participação de psicólogos, assistentes sociais e,
ainda a valorização dos conselhos tutelares.
A implantação do piso nacional também foi
reivindicada por servidores da educação que estão em greve e fizeram
uma manifestação durante a abertura do fórum, interrompendo as falas
dos deputados por alguns instantes.
Pesquisa revela sensação de insegurança entre
professores e alunos
Os alunos de Juiz de Fora se sentem mais vítimas da
violência escolar que os professore. Essa é uma das conclusões de
uma pesquisa desenvolvida pelo Centro de Pesquisas Sociais da UFJF,
realizada no 2º semestre de 2009, abordando os temas juventude e
escola. Os resultados do estudo foram apresentados pela sociológa e
pesquisadora da UFJF, Janaina Sara Lawall, que expôs sobre o tema
Panorama da violência no ambiente escolar, no fórum.
A pesquisa ouviu professores, estudantes e outros
representantes da sociedade por meio de pesquisa quantitativa. De
acordo com a pesquisa, na percepção do jovem, a escola é mais
violenta que na percepção do professor.
Alguns dados foram apontados como preocupantes pela
pesquisadora, como o esgarçamento das relações, a quebra de
hierarquia e a ausência de autoridade no ambiente escolar.
A pesquisa também aponta que os alunos revelam
terem sido mais agredidos que os professores, no percentual de 11,8%
contra 7%. No entanto, segundo Janaina Lawall afirmou, o aluno não
desqualifica a violência sofrida pelo professor, confirmando as
ocorrências.
Os alunos citam o "constrangimento", entendido por
eles como ofensa e agressão verbal, sobretudo, como a agressão mais
importante (70%) sofrida por eles. "A violência eclode na escola,
mas não tem sua origem apenas no ambiente escolar", afirmou a
socióloga.
A pesquisa ainda revelou que a visão negativa que
se tem do jovem hoje contribui para a postura desregrada e violenta.
"Nesse sentido, embora a reação violenta seja espantosa, é
esperada", avaliou. O jovem, segundo ela explicou, é quem tem a pior
imagem de si mesmo. Isso deixa transparecer, de acordo com a
pesquisadora, o deslocamento e a exclusão individual do grupo, ou
seja, o jovem pesquisado não se sente pertencente a categoria
juventude.
Janaina Lawall disse que a pesquisa poderia levar a
pensar que a escola é um lugar sombrio, mas há outros resultados que
desmentem isso. O levantamento revelou que os entrevistados enxergam
a escola como espaço importante, agradável e acolhedor além de
identificarem o espaço como positivo para o aprendizado.
A pesquisadora destacou o aumento da sensação de
insegurança e a colocação do jovem como principal protagonista dos
atos criminosos na atualidade, apontados pela pesquisa. "Não dá para
tratar o jovem como predisposto à delinquência, isso já é um
preconceito contra a juventude. Se fosse assim, a escola não seria
escola, seria prisão", concluiu.
Experiências - Em um
segundo painel, "Experiências na prevenção e no combate à violência
escolar", a coordenadora do Programa Escola Viva Comunidade Ativa da
Secretaria de Estado de Educação, Maria Cristina Pinheiro,
apresentou os resultados do programa.
O programa nasceu em 2003 e foi pensado,
inicialmente, para atender a uma centena de escolas de Belo
Horizonte e Região Metropolitana que passavam por um momento de caos
e desorganização, a começar pelos problemas de estrutura física.
O objetivo do programa era então preparar as
escolas para atender as necessidades educativas das crianças e
jovens mais afetados pelos fenômenos da violência e da exclusão
social.
Hoje, segundo a expositora, o projeto está presente
em 501 escolas de 36 regionais de ensino, 107 delas, na capital. A
interiorização do projeto começou em 2006, com um enfoque mais
preventivo, de acordo com Maria Cristina Pinheiro.
O Escola Viva propõe melhorias na estrutura física
escolar; na relação com as comunidades (escola aberta nos finais de
semana, ações voluntárias, novas parcerias); e na proposta
pedagógica (alunos em tempo integral na escola, capacitação de
diretores, professores, projetos/programas com parceria).
Entre os principais resultados alcançados estão a
diminuição do número de ocorrências nocivas no ambiente escolar
(pichações, vandalismo, arrombamentos, furtos, agressões e ameaças),
conforme dados da PM; a melhoria da qualidade das relações internas
da escola com a qualidade. 45% das escolas abertas no fim de semana,
até o ano passado; a revitalização e reorganização dos espaços
físicos; e a melhoria do desempenho escolar dos alunos.
Medidas socioeducativas - Para tratar do
tema Escola na medida socioeducativa, a base para as novas
conquistas, o diretor-geral do Centro Socioeducativo de Juiz de
Fora, Alexandre Correa Rocha falou da implantação da medida na
cidade.
Segundo ele, a medida é recente em Juiz de Fora,
mas foram dados avanços grandes e a passos largos desde sua
implantação na Escola Clorinto Burnier. A escola, segundo ele, conta
com boa estrutura física e profissional para atendimento do
adolescente em conflito com a lei. "Lá, os professores não sabem nem
qual o ato infracional os adolescentes cometeram, eles os enxergam
como alunos", afirmou.
Os adolescentes também são envolvidos em atividades
culturais, artísticas e profissionalizantes por meio de parcerias
firmadas com outras entidades. "Nossa missão é apresentar ao
adolescente novas perspectivas de vida e a possibilidade de
transformação a partir do conhecimento", concluiu.
Deputados ressaltam importância do fórum frente ao
desafio da violência
Na abertura dos trabalhos, os deputados e
autoridades presentes ressaltaram a importância do debate e das
contribuições para a transformação que se espera no ambiente
escolar.
O deputado João Leite (PSDB), presidente da
Comissão de Segurança Pública, que presidiu os trabalhos pela manhã,
afirmou que o aumento da violência no ambiente escolar é
preocupante. E provocou: "Em eventos esportivos, onde há 500, 600
pessoas, há um aparato policial acompanhando. Nas escolas, onde há
até 3 mil crianças, não há policiais".
Ele ainda leu mensagem do presidente da Assembleia
Legislativa, deputado Dinis Pinheiro (PSDB), em que o parlamentar
ressalta que a violência, cada vez mais frequente nas escolas, é um
reflexo do momento do que vive em sociedade. "Nesse contexto,
julgamos oportuna a consideração de que, se a escola reproduz, e em
alguns aspectos, pode até amplificar a violência que ocorre no meio
social, ela pode também contribuir para revertê-la, para construir
uma cultura de convivência harmônica e respeitosa entre as pessoas",
afirmou o presidente.
A importância das contribuições da sociedade com
propostas para a transformação dessa realidade foi destacada também
pelo presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia,
deputado Bosco (PTdoB). Ele concorda que o problema da violência nas
escolas extrapola os limites físicos das instituições de ensino e
está relacionado a questões sociais.
O deputado Wilson Batista (PSL), presidente da
Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, defendeu
a busca de oportunidades, sobretudo para as pessoas vulneráveis.
"Gasta-se cerca de R$ 2 mil por mês com o preso, enquanto o
investimento na área social chega a R$ 400 por mês no aluno",
comparou.
O deputado ainda lamentou que o preconceito contra
as pessoas com deficiência esteja tão presente no ambiente escolar.
A mobilização das três esferas de Poder e da
sociedade é a chave para se alcançar a segurança pública, segundo
alertou a deputada Maria Tereza Lara (PT). Ela ainda defendeu a
implantação das medidas socioeducativas estipuladas pelo Estatuto da
Crianças e do Adolescente (ECA) como essenciais para o combate à
violência
Na opinião do deputado Bruno Siqueira (PMDB), não é
possível promover segurança sem educação. "Precisamos discutir e
elaborar propostas que possam ser realmente postas em prática",
afirmou.
O deputado André Quintão (PT), presidente da
Comissão de Participação Popular, defendeu o aprofundamento do
debate para que se chegue a um diagnóstico adequado da situação das
escolas. Ele falou da importância do acompanhamento social das
famílias onde há crianças e jovens em situação de vulnerabilidade.
O parlamentar também destacou a importância da
valorização dos profissionais da comunidade escolar e, ainda, o
diálogo aberto da escola com as outras redes de proteção existentes
na comunidade.
No mesmo sentido, o deputado Carlin Moura (PCdoB)
ressaltou que não se pode perder o foco de que a segurança nas
escolas passa necessariamente pelas condições dos trabalhadores em
educação. "Se a escola trata dos conflitos sociais, precisa ter os
profissionais adequados para administrar os conflitos que existem no
ambiente", argumentou.
O investimento financeiro em educação, com a
garantia de aplicação do mínimo constitucional de 25%, com aumento
da oferta de vagas e a descentralização das políticas de ensino,
foram algumas das contribuições apresentadas pela presidente do
Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-Ute), Beatriz
Cerqueira.
Ela afirmou que a média de escolaridade dos
mineiros é de 6,2 anos e que há um déficit de 1,5 milhão de vagas
para os jovens. "Esses são números oficiais, não é discurso de
sindicalista. São dados com quais temos que lidar", afirmou.
A representante dos servidores da Educação também
denunciou as agressões sofridas pelos professores em sala de aula.
Para ela, essa questão, assim como os baixos salários recebidos pela
categoria, é um problema da sociedade. "Se o profissional não é bem
remunerado, não é o melhor profissional que vai cuidar de nossos
filhos e sim aqueles que não puderam ingressar em outras redes",
avaliou.
Fica Vivo - Para o
subsecretário de Atendimento às Medidas Socioeducativas da
Secretaria de Estado de Defesa Social, Ronaldo Araújo Pedron, as
ações que seriam responsáveis pelo êxito do Programa Fica Vivo
também deveriam nortear o combate à violência nas escolas. Essas
medidas seriam a associação da segurança à repressão qualificada e à
instrumentalização da comunidade para a mediação de conflitos.
"Nessa perspectiva, a escola deve ser refundada
como espaço de desconstrução e reconstrução. É preciso retomar a
escola como espaço de encontros", afirmou.
O desejo da estudante Roberta da Silva, aluna do
Centro Educacional de referência Herval da Cruz Braz é que haja paz,
diálogo, união e amizade nas escolas. "Hoje as brigas nas escolas
são por motivos bobos, por disputas de gangues", contou a menina que
sonha em ser professora ou policial para poder ajudar as pessoas a
terem oportunidades melhores.
O papel dos pais como primeiros educadores dos
filhos, responsáveis por transmitir a eles valores morais, dando
exemplo de caráter e dignidade, foi lembrado pela juíza da Vara da
Infância e da Juventude de Juiz de Fora, Maria Cecília Gollner
Stephan. "É na família que as crianças e jovens aprendem os limites
e as regras sociais, que são aperfeiçoadas pela escola",
afirmou.
Segundo a juíza, a escola deve preparar o aluno
para o exercício da cidadania e, por isso, também no ambiente
escolar há regras e limites.
Teatro e eleição de representantes - Ao final
dos trabalhos, foram escolhidos 12 delegados e seus suplentes para
representarem a região na etapa final o fórum em,Belo
Horizonte.
Os alunos da Escola Estadual Cônego Martins
Monteiro, de Matias Barbosa, apresentaram um esquete teatral sobre o
tema do fórum.
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