Sistema político e financiamento público são incógnitas na reforma

Os pontos mais polêmicos da reforma política - o sistema de votação e o financiamento de campanha - foram focos dos q...

28/03/2011 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Sistema político e financiamento público são incógnitas na reforma

Os pontos mais polêmicos da reforma política - o sistema de votação e o financiamento de campanha - foram focos dos questionamentos feitos aos dois convidados da Comissão Extraordinária de Acompanhamento da Reforma Política da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, os deputados federais Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Newton Cardoso (PMDB-MG). Nesta segunda-feira (28/3/11), os dois falaram sobre os trabalhos da comissão da reforma na Câmara dos Deputados, da qual são integrantes.

O consenso, segundo os dois, é de que a reforma não sofrerá adiamento, por se tratar de um desejo de toda a sociedade e não desse ou daquele partido. E que o financiamento deve ser público, como forma de coibir a influência do poder econômico; e que o atual sistema de votação, assentado no voto proporcional para o parlamento, está com seus dias contados.

As diferenças partidárias começam na defesa do sistema eleitoral. Enquanto o deputado Eduardo Azeredo afirmou que seu partido, o PSDB, ainda não tem uma posição fechada, mesmo inclinando-se pelo sistema do voto distrital misto, Newton Cardoso, a exemplo de seu partido, o PMDB, defendeu abertamente o sistema do distritão, ou voto majoritário.

O primeiro modelo, o distrital misto, combina dois modelos, o voto aberto em candidatos e na lista partidária. Nele, os estados e municípios são divididos em distritos, geograficamente. O eleitor vota duas vezes: o primeiro voto é na lista partidária, aquela organizada pelos partidos. E o segundo voto é para o candidato do distrito. O modelo é adotado na Alemanha, México, Itália, Venezuela, Bolívia, Hungria, entre outros.

Já no distritão, ou distrital majoritário, o candidato que obtiver a maioria dos votos é o eleito, anulando as distorções do atual modelo, baseado no quociente eleitoral. Esse modelo reduz drasticamente o número de parlamentares, já que o País seria dividido em pequenas regiões ou distritos, cada um deles com direito de eleger somente um representante. O modelo é adotado no Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Índia, entre outros.

Azeredo discorreu sobre outros sistemas em discussão tanto no Senado como na Câmara: o proporcional com lista fechada, o sistema proporcional (usado atualmente) e o proporcional com lista aberta. Tanto ele como Newton Cardoso falaram sobre outros pontos da reforma política que já têm mais ou menos consenso no Senado e na Câmara de Deputados: a obrigatoriedade do voto, um só suplente para senador, a proibição de candidatura avulsa (como já é atualmente), a fidelidade partidária, o fim das coligações e a cláusula de barreira (também chamada de cláusula de desempenho, que impõe aos partidos políticos alguns pontos, como a exigência de alcançarem um percentual mínimo de votos para funcionarem como tal). Eduardo Azeredo disse ainda que já se discute, com certa simpatia, o fim da reeleição e o mandato de cinco anos para o executivo.

Financiamento público dependerá do sistema de votação

Os dois ex-governadores mineiros concordaram com a necessidade de financiamento público das campanhas, como forma de barrar a corrupção, coibir os abusos e acabar com as desigualdades. E mesmo salientando que o financiamento público já existe em certa medida, com a gratuidade do horário eleitoral obrigatório e os fundos partidários, os dois destacaram que a definição do sistema de votação será determinante para sua aplicação integral.

Se continuar o modelo de financiamento atual, Azeredo disse que só haverá milionários e representantes de classe na política brasileira. E mesmo lembrando a argumentação daqueles que são contrários ao financiamento público de que estes recursos poderiam ser utilizados em investimentos sociais, o deputado federal garante que ele é inevitável. "A democracia tem seu custo, tem seu preço", disse.

Ele disse ainda que o financiamento público se adapta melhor ao sistema de lista fechada, porque o dinheiro vai para o partido. "Mas neste sistema o problema é a impossibilidade de renovação. Na lista, a renovação é quase impossível e o caciquismo é um risco", disse.

Os dois lamentaram que a reforma não esteja sendo conduzida por uma comissão mista do Senado e Câmara, mas com duas comissões diferentes, o que irá dificultar mais o consenso. Mas garantiram que ela sai ainda este ano, com a apresentação de uma proposta de emenda à Constituição para ser votada nas duas casas legislativas. Newton Cardoso prometeu intermediar a vinda da comissão da Câmara para participar de um debate na ALMG.

Deputados destacam papel da Assembleia

O papel da Assembleia na reforma política foi lembrado por 11 parlamentares que participaram da audiência. Todos manifestaram o desejo de que a reforma realmente atenda aos anseios da sociedade e que o Legislativo mineiro contribua com propostas concretas. Para o coordenador da comissão extraordinária, deputado Carlos Mosconi (PSDB), a ALMG não poderia estar ausente neste momento tão significativo da vida política nacional. E garantiu que as propostas mineiras serão levadas ao Congresso.

O deputado Fábio Cheren (PSL) adiantou que prepara estudo, junto com geógrafos, sobre a divisão de Minas em distritos, para o caso de implantação do voto distrital misto, enquanto Vanderlei Miranda (PMDB), defendeu o sistema majoritário, o distritão. E pediu que fosse incluída na discussão a possibilidade de unificação completa das eleições, acabando com os pleitos a cada dois anos, "como forma de diminuir o custo da eleição no Brasil". A deputada Luzia Ferreira (PPS), mostrou seu temor de que os prazos não sejam cumpridos e que os partidos envolvidos não apresentem propostas próprias, a exemplo de seu partido, que irá encaminhar uma proposta partidária para a reforma.

Já Rogério Correia (PT), que também teme o não cumprimento da reforma, sugeriu que os pontos não acordados pelas duas comissões fossem tema de plebiscito, "para que a população possa participar mais efetivamente". Já Romeu Queiroz (PSB) lembrou a necessidade de definir a questão das coligações partidárias. Gustavo Valadares (DEM) elogiou o sistema distritão, afirmando que nele, o partido não perderá prestígio, como argumentam os contrários ao modelo, o mesmo sendo enfatizado nos comentários de Pompílio Canavez (PT).

Adalclever Lopes (PMDB) enfatizou a necessidade de abrir-se uma janela para os parlamentares de pequenas legendas migrarem para outras maiores, em caso de retorno da cláusula de barreira, sem ferir a fidelidade partidária. Entre outros pontos, Antônio Júlio (PMDB) defendeu a necessidade de se discutir a Justiça eleitoral.

Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB), coordenador; Antônio Júlio (PMDB), Romeu Queiroz (PSB), Rogério Correia (PT), Pompílio Canavez (PT), Gustavo Valadares (DEM), Adalclever Lopes (PMDB), Luiz Henrique (PSDB), Vanderlei Miranda (PMDB), Fábio Cheren (PSL) e a deputada Luiza Ferreira (PPS). Também esteve presente, no início, o deputado federal Weliton Prado (PT).

 

 

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