Relação entre tráfico e homicídios preocupa
Uberlândia
A estreita ligação entre o tráfico de drogas e os
homicídios é, atualmente, a maior preocupação das autoridades
policiais de Uberlândia. A afirmativa é compartilhada pelo delegado
Gilmar Souza de Freitas e pelo tenente-coronel Dilmar Fernandes
Crovatto, respectivamente chefe e comandante militar da 9ª Região
Integrada de Segurança Pública (Risp), que envolve 18 municípios do
Triângulo Mineiro. O tema foi debatido nesta terça-feira (2/3/10) em
Uberlândia, durante audiência da Comissão de Segurança Pública da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O requerimento para a
realização da reunião foi dos deputados João Leite (PSDB),
presidente da comissão, Tenente Lúcio (PDT), Rômulo Veneroso (PV) e
da deputada Maria Tereza Lara (PT).
Segundo Freitas, 78% dos homicídios praticados na
região têm relação direta com o tráfico. "Só neste ano já foram
apreendidos 110 quilos de drogas na região", afirmou. Apesar de
alarmados com o aumento de 17,4% na taxa de homicídios nos dois
primeiros meses de 2010 (18 assassinatos em janeiro e nove em
fevereiro), os comandantes policiais estão otimistas com os dados de
longo prazo registrados desde que houve a integração das polícias,
em 2005. Segundo estatísticas apresentadas pelo tenente-coronel
Crovatto, desde aquele ano os números vêm caindo sistematicamente,
contrariando a tendência de subida verificada até 2004.
Em 2005, por exemplo, foram registradas 48.951
ocorrências criminais na região. Já no ano passado esse número caiu
para 37.152, informou o chefe militar. A quantidade de crimes
violentos (homicídios, sequestros, estupros, entre outros) também
passou de 9.113 para 3.753 no mesmo período, retornando a níveis
registrados em 1999. Essa conquista foi obtida, segundo ele, apesar
do aumento constante da população. Em 2009, a população de
Uberlândia era estimada em 634 mil pessoas.
Ainda de acordo com Crovatto, o investimento na
segurança pública promovido pelo Estado foi um dos maiores
responsáveis pela redução dos índices de criminalidade. Ele informou
que entre 2006 e 2009 a região recebeu 245 viaturas policiais e 984
homens ingressaram na Polícia Militar. Segundo o tenente-coronel, no
período foram investidos mais de R$ 50 milhões na segurança pública
de Uberlândia e região.
Valorização do servidor é cobrada
Nas galerias, porém, representantes de policiais
civis e militares portavam faixas e cartazes denunciando os baixos
salários dos servidores. O deputado Weliton Prado (PT) disse que a
promessa de piso salarial de R$ 2.500 para os policiais, segundo ele
feita pelo governador, não foi cumprida até hoje. "E se não aumentar
o salário até abril, este ano não haverá aumento, porque é ano
eleitoral", lembrou o parlamentar. Ele questionou ainda o fato de o
Governo do Estado ter se recusado a assinar um convênio para a
implantação, em Minas, de um novo sistema de identificação de
impressões digitais, já utilizado pela Polícia Civil em quase todos
os demais Estados, com exceção de São Paulo. Um requerimento pedindo
explicações ao governo foi apresentado e deverá ser votado na
próxima reunião da comissão, nesta quarta-feira (3).
Em sua fala, o deputado Tenente Lúcio (PDT) pediu
maiores investimentos nas entidades que poderiam atuar na prevenção
da violência, como as igrejas, as associações de classe e de
caridade. Ele ainda cobrou das três esferas de governo (municipal,
estadual e federal) e da sociedade como um todo uma parceria mais
efetiva no sentido de encarar a questão da segurança pública com
mais seriedade ainda.
Já Luiz Humberto Carneiro (PSDB) disse que Minas
Gerais tem sido um modelo para o Brasil em termos de gestão da
segurança. Ele disse que o tráfico de drogas se dissemina
principalmente pelas rodovias brasileiras. E Minas, como tem a maior
malha rodoviária do País, precisa intensificar a fiscalização.
Segundo Carneiro, os 700 policiais rodoviários federais que atuam no
Estado são insuficientes para dar conta do trabalho. "Precisamos de
no mínimo 3 mil homens", avaliou o deputado. João Leite (PSDB)
concordou com as ponderações do colega e ressaltou a importância das
visitas da comissão a todos os cantos do Estado para ouvir as
autoridades policiais e a comunidade.
A deputada Maria Tereza Lara (PT) também defendeu
um trabalho preventivo. Citando que o serial killer acusado
de matar cinco mulheres no bairro Industrial, em Contagem, era
torturado pelo pai quando criança, ela ressaltou a importância do
amor familiar para evitar a criação de psicopatas no futuro. Maria
Tereza também defendeu o fim da superlotação nas cadeias e a
implantação de projetos profissionalizantes nos presídios.
Outros participantes da reunião também deram suas
sugestões para melhorar a questão no Estado. O defensor público
Evaldo Gonçalves da Cunha pediu aumento no número de defensores na
região. Segundo ele, os 16 profissionais atendem a nada menos do que
90% dos processos que tramitam nas varas criminais da região de
Uberlândia. O diretor do fórum da cidade, Joemilson Lopes, sugeriu
que a Polícia Militar seja isenta de pagar impostos sobre o
combustível utilizado pelas viaturas. Ele alertou ainda para o fato
de que há 1.500 mandados de prisão emitidos pela Justiça e que, se
todos forem cumpridos, haverá um colapso no sistema prisional, que
já está superlotado.
Para o promotor de Justiça da comarca de
Uberlândia, Breno Linhares Lintz, é inaceitável que Juiz de Fora, na
Zona da Mata, tenha um efetivo de policiais civis três vezes maior
que Uberlândia, sendo que a população daquela cidade é menor em 50
mil pessoas. Devido a esse tratamento "desigual", ele defendeu a
criação do Estado do Triângulo.
Presenças - Deputados João
Leite (PSDB), presidente da comissão; Tenente Lúcio (PDT), Luiz
Humberto Carneiro (PSDB), Weliton Prado (PT) e deputada Maria Tereza
Lara (PT).
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