Comissão deverá requerer documentos sobre massacre de Ipatinga

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais votará requerimentos para solicitação de doc...

28/10/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Comissão deverá requerer documentos sobre massacre de Ipatinga

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais votará requerimentos para solicitação de documentos sobre o massacre de trabalhadores da Usiminas ocorrido em Ipatinga, em 1963. Os requerimentos foram apresentados durante reunião com convidados realizada pela comissão nesta quarta-feira (28/10/09), a requerimento de seu presidente, deputado Durval Ângelo (PT), com o objetivo de discutir as conclusões do livro "Não foi por acaso", do jornalista e professor Marcelo de Freitas. Recém-lançada, a obra traz uma extensa investigação sobre o massacre de 1963 e revela novos indícios de que o número de mortos supera a lista oficial.

Marcelo de Freitas comprovou o desaparecimento de Gesulino França de Souza e Fábio Rodrigues de Souza, pai e filho, que estavam no local do conflito, na Usiminas, no dia 7 de outubro de 2009, quando ocorreu o massacre. Os dois não estão na lista oficial de oito mortos. Além disso, o livro mostra indícios de um número ainda maior de desaparecidos, tais como uma encomenda de 32 caixões feita pela empresa e a existência de uma lista de 59 trabalhadores demitidos por não terem retornado ao serviço após o massacre.

No requerimento elaborado para ser enviado à empresa, o deputado Durval Ângelo solicita cópias dos documentos sobre a compra dos caixões e da lista de demissões. Ele também defendeu que a campanha federal de busca de desaparecidos do regime militar passe a incluir as vítimas de Ipatinga. Isso porque, apesar do episódio ter ocorrido antes do golpe militar de 1964, ele considera que se tratou de um ato preparatório de tudo que as forças militares promoveram um ano depois. "O Brasil não se reconciliou com seu passado. Será que isso não tem gerado a impunidade atual que vivemos?", questionou.

O massacre de Ipatinga foi resultado de um conflito entre trabalhadores da Usiminas e policiais militares. O autor do livro explica que os trabalhadores já estavam envolvidos num clima de insatisfação quanto a suas condições trabalho, moradia, transporte e alimentação. Na noite de 6 de outubro de 1963, durante a saída do turno das 22 horas, depois de uma confusão na portaria, um dos metalúrgicos foi preso por um policial militar.

A notícia da prisão teria causado tumulto em um dos alojamentos onde dormiam os trabalhadores, o que resultou na prisão de centenas de pessoas durante a madrugada. No dia seguinte, funcionários se aglomeraram em frente ao portão de entrada da Usiminas e, como forma de protesto, se recusaram a trabalhar, enquanto diretores da empresa e representantes dos metalúrgicos se reuniam no escritório central da companhia para entrarem em acordo. Enquanto a reunião acontecia, os policiais atiraram contra os manifestantes. As balas perdidas mataram até mesmo uma criança que estava a um quilômetro do local do confronto.

Sobrevivente conta detalhes do confronto

Com a voz embargada, Jurandir Persichinni relatou durante a reunião da comissão detalhes do massacre que testemunhou à epoca. "Eu afirmo que foram 44 mortos", disse o sobrevivente do massacre. Ele também saldou o monsenhor Avelino Marques, na época pároco de Ipatinga, que intercedeu pelos manifestantes no dia do confronto. Monsenhor Marques participou da reunião na Assembleia Legislativa, nesta quarta, e também relatou suas lembranças do episódio.

A deputada Rosângela Reis (PV), que construiu sua carreira política em Ipatinga, recorda que a sombra do massacre de 1963 por muitos anos gerou medo e silêncio na região. "É importante trazer da história não apenas o lado bom", defendeu.

Já o vereador Agnaldo Giovani Bicalho, de Ipatinga, apresentou na Assembleia o requerimento aprovado nesta terça (27/10/09) pela Câmara de Vereadores daquele município, em que se pede à Usiminas que permita a consulta pública aos seus arquivos sobre os acontecimentos daquele outubro de 1963. Ele censurou a empresa pela recusa em abrir seus arquivos e pela ausência em todos os eventos dedicados a discutir o massacre. "A Usiminas pode não ser culpada, mas ela se omitiu e continua sempre se omitindo", afirmou o vereador.

Presenças - Deputado Durval Ângelo (PT), presidente da comissão; e deputada Rosângela Reis (PV).

 

 

 

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