Tarifa de energia em Minas é uma das mais caras do mundo

Ainda que fossem cortados os impostos sobre a conta de luz, a tarifa praticada em Minas continuaria entre as mais car...

23/06/2009 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Tarifa de energia em Minas é uma das mais caras do mundo

Ainda que fossem cortados os impostos sobre a conta de luz, a tarifa praticada em Minas continuaria entre as mais caras do mundo. Foi o que afirmou o promotor de Justiça de Defesa do Consumidor, José Antônio Baeta de Melo Cançado, em audiência pública realizada nesta terça-feira (23/6/09) pela Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Durante os debates, foram defendidas propostas como redução de impostos sobre a energia e mais transparência sobre taxas e contribuições embutidas nas contas de luz. Mas segundo o promotor, levantamento feito em 2007 mostra que, sem tirar os impostos, a tarifa praticada pela Cemig era a mais alta do Brasil e só perderia no mundo para quatro regiões do Japão, cujas tarifas eram mais elevadas por questões climáticas e geográficas.

Retirando-se os impostos, a tarifa da Cemig só não seria mais cara do que a de países que usam na geração de energia fontes não renováveis, como o carvão, disse o promotor. Para José Antônio Baeta, não há motivos para o Brasil praticar tarifas elevadas em relação a outros países, já que sua matriz de geração de energia é centrada na água, um bem renovável e gratuito.

No entendimento do promotor, esse cenário traduz os paradoxos existentes hoje no País quanto à definição da tarifa social, objeto de lei federal em vigor para dar descontos na conta de luz a pessoas com renda baixa e consumo menor. "É preciso uma pressão popular para descobrir o que está errado nesse modelo energético", defendeu José Antônio Baeta. Ele alertou que alguém vai pagar por essa redução, e que se esse custo for repassado, acabará retornando de outra forma às classes mais pobres.

Deputado defende universalização e redução de tarifa

Autor do requerimento da audiência, o deputado Padre João (PT) disse que a implantação da tarifa social em Minas já poderia estar contribuindo para aliviar a conta das famílias de baixa renda, mas disse ser importante não perder de vista também a universalização da distribuição de energia. "Mais de 100 mil famílias mineiras ainda não têm acesso à energia elétrica, um serviço que é essencial", frisou.

O tema gerou um debate longo e intenso na comissão, reunindo diversos parlamentares, representantes da Cemig e de trabalhadores, além de movimentos populares pela redução da tarifa, que lotaram o Auditório da ALMG carregando faixas e cartazes.

Já o deputado Lafayette de Andrada (PSDB) argumentou que a Cemig cumpre a tarifa definida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e que o preço da energia em Minas sofreria impactos das dificuldades de cabeamento existentes no Estado, que concentra o maior número de municípios do País. Minas, acrescentou, teria 400 mil quilômetros de fios esticados, contra 42 mil no Estado do Rio de Janeiro.

O parlamentar frisou que o único imposto estadual incidente sobre a energia elétrica é o ICMS, e mesmo assim com isenção dada pelo Governo do Estado para aqueles que têm consumo de até 90 kW/mês. Já os impostos e contribuições federais chegam a dez, comparou o deputado, criticando a forma de cobrança pouco transparente ao citar que incidem sobre a conta de luz itens sem relação com o serviço, como Contribuição Social sobre o Lucro Líquido e CCC, ou Conta de Consumo de Combustível.

O deputado Weliton Prado (PT), contudo, destacou que, apesar da isenção do ICMS em Minas, esse imposto estaria entre os mais altos do País, chegando a 42% da tarifa de energia. Ele afirmou ainda que, além da tarifa alta, o consumidor também está enfrentando problemas na qualidade da rede da Cemig, com quedas constantes no fornecimento. O parlamentar acrescentou que nos últimos 12 anos a tarifa da Cemig sofreu aumento de 500%, e questionou gastos da Cemig que acabam entrando na planilha de custos que a empresa envia à Aneel para obter reajustes, como a recente licitação suspensa pela Justiça para que a Cemig alugasse 1.193 veículos. "Isso custaria mais do que comprar os veículos", frisou.

Adelmo Carneiro Leão (PT) endossou as críticas e também condenou a exigência de que o consumidor, ao solicitar e pagar serviços de extensão de rede, assine termo de doação das instalações feitas à Cemig, o que no seu entendimento beneficia os investidores privados. Os ganhos dos acionistas privados em detrimento de tarifas mais baixas também foram citados pelo deputado Irani Barbosa (PSDB), que destacou ainda o fato de a Cemig cobrar taxa de iluminação pública baseada na média de 12 horas por dia quando forneceria apenas energia para 11 horas e vinte minutos.

Caixa preta - O deputado Domingos Sávio (PSDB) defendeu uma análise isenta e ampla da questão. "É preciso abrir essa caixa preta para identificar o que encarece a conta", afirmou. "O Governo Federal quer implantar a tarifa social mas não pôs recursos no Orçamento e não teve o cuidado de retirar impostos", continuou.

O deputado Walter Tosta (PMN) registrou que não adianta sacrificar só o Estado, devendo ser discutida uma forma de o Governo Federal também contribuir para reduzir a tarifa de energia. Também presente, o deputado federal Elismar Prado (PT-MG), da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados, frisou que tarifa de energia elétrica tem que ser vista como questão de Estado, e não de governo ou partido político.

Movimentos defendem tarifa social

Membro da Assembleia Popular Metropolitana, Bruno Abreu Gomes disse que os consumidores representados pelo movimento popular não querem saber se o culpado é o Governo do Estado ou o Governo Federal. "Queremos é uma conta mais barata", afirmou. Segundo ele, pesquisa feita em 2007 pela Federação dos Comerciários apurou que 27% do orçamento familiar são para pagar uma conta de luz que ninguém entende como funciona ou como é cobrada. "A saída individual acaba sendo o gato, pois temos a terceira maior conta de luz residencial do mundo".

Bruno disse que 100kW de energia elétrica custam R$ 70,00 para o consumidor residencial, enquanto há grandes empresas pagando R$ 3,30. "Esta é outra contradição. As empresas são livres e podem negociar a compra, enquanto nós somos consumidores cativos", reclamou.

Sobre a tarifa social, objeto da Lei Federal 10.438, de 2002, cuja concessão depende de o consumidor declarar que está inscrito em programa social do governo, Bruno informou que foram entregues à Cemig 10 mil declarações de moradores que poderiam ser beneficiados, mas elas não foram aceitas pela empresa. Segundo ele, a lei não exigia que as famílias fossem inscritas no programa Bolsa Família, como definiu posteriormente a Aneel.

Impostos federais sobre a luz se comparam aos de cigarro, diz Cemig

O superintendente de Planejamento Corporativo e Tarifas da Cemig, Emílio Castelar Pires Pereira, creditou os valores altos da tarifa de energia à elevada tributação por parte do Governo Federal. O valor adicionado ao serviço por impostos é de 62%, informou ele, dizendo que essa carga de impostos é semelhante à que incide sobre o cigarro.

Emílio Castelar disse ainda que a empresa não faz as leis nem define quem pode comprar energia, atuando diretamente apenas com a distribuição, sem interferir na geração e na transmissão de energia. "Esse é o modelo definido", frisou ele. Ainda sobre a carga tributária, argumentou que os impostos são propostos pelo governo e aprovados pelo Legislativo.

Apesar das críticas aos valores, o custo da distribuição do megawatt/hora, segundo ele, caiu de R$ 88,8, em 2003, para R$ 67,45, em 2008, tendo 25% de redução. Para reduzir mais a conta, frisou, tem que haver um esforço para reduzir os impostos pagos.

Também participou do debate o superintendente de Relações Institucionais e Assuntos Regulatórios da Cemig, Gilberto Gomes Lacerda, explicando que a tarifa social é dividida em duas subclasses, calculadas nos últimos 12 meses móveis. Vale para clientes residenciais e com abastecimento em circuito monofásico, conforme a lei federal. Consumidores de até 79 kWh são automaticamente enquadrados na tarifa social baixa renda. Para aqueles que consomem de 80 a 220 kWh, deve ser comprovada inscrição em programas sociais, como Bolsa Família.

A Aneel, explicou ainda, regulamenta o modo de certificação para a tarifa social, tendo fixado o modelo de autodeclaração. Segundo Gilberto Lacerda, a Cemig vinha recebendo modelos fora do exigido pela Aneel, tendo recebido e devolvido mil declarações, acompanhadas de modelo certo para uso pelo consumidor. Destas, 500 respostas foram dadas, mas nem todas estavam dentro das exigências mesmo após esse procedimento, disse o superintendente da empresa.

Crítica - Coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens, Soniamara Maranho considerou uma "vergonha" a Cemig devolver as autodeclarações, alegando que o modelo é simples, precisa de nome, CPF, endereço e garantias, quando é o caso. Ela defendeu energia gratuita para trabalhadores desempregados, fim de subsídios para grandes empresas e melhoria no atendimento da Cemig, citando problemas no atendimento telefônico que deixam o usuário esperando ou sem resposta.

Isenção em Minas não atende família padrão, diz sindicato

O coordenador do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética do Estado de Minas Gerais (Sindieletro), Wilian Vagner Moreira, destacou que mais de 70% da Cemig estão nas mãos de acionistas privados e que o crescimento da empresa tem sido alardeado pelo Governo do Estado como importante para a população quando na verdade tem beneficiado o empresariado e os acionistas. Ele denunciou que a cada 45 dias morre um trabalhador do setor, em virtude da terceirização adotada pela empresa.

Ele frisou que a Aneel não define o reajuste da tarifa, apenas o percentual máximo. A Cemig, segundo o sindicalista, não adota aumento menor por ter alterado seu estatuto vedando abrir mão de receita. Na revisão tarifária de 2008, a Cemig solicitou 32% de reajuste, conseguindo 4,7% graças à mobilização popular, acrescentou o sindicalista. Wilian também criticou a isenção do ICMS no Estado para quem tem consumo mensal de até 90 kW. "Esse consumo não atende ao padrão médio de consumo da família brasileira, que é de 162 kW", frisou, defendendo ainda alíquota progressiva.

Requerimento - Foi aprovado requerimento do deputado Weliton Prado para envio de cópia das notas taquigráficas da reunião à CPI das Tarifas de Energia Elétrica da Câmara dos Deputados.

Presenças - Deputados Adalclever Lopes (PMDB), presidente; Gil Pereira (PP), Leonardo Moreira (DEM), Walter Tosta (PMN), Tiago Ulisses (PV), Padre João (PT), Lafayette de Andrada (PSDB), Domingos Sávio (PSDB), Weliton Prado (PT), Adelmo Carneiro Leão (PT), Irani Barbosa (PSDB) e Sebastião Costa (PPS).

 

 

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