ICMS e meio ambiente originaram projetos importantes em
2008
Dar mais segurança aos consumidores, viabilizar o
desenvolvimento minimizando os impactos sobre o meio ambiente e
promover uma distribuição mais igualitária da receita de ICMS entre
os municípios foram algumas das metas alcançadas pela Assembléia
Legislativa de Minas Gerais com os projetos de lei aprovados em
2008. O encerramento dos trabalhos ocorreu nesta sexta-feira
(19/12/08), com a votação do Orçamento do Estado para o próximo
ano.
Exemplos de normas que resultaram dos debates e
votações no Parlamento, em busca desses objetivos, são as novas
regras para funcionamento de administradoras de cartão de crédito e
para medição do consumo de água em condomínios, bem como para o
abate do pequizeiro, já transformadas em leis; além de alterações na
Lei Robin Hood, que trata da distribuição do ICMS; de mudanças na
lei que criou a Estação Ecológica do Cercadinho, a fim de viabilizar
a construção de uma alça viária para desafogar o trânsito da Região
Centro-Sul da Capital; e da criação da Agência de Desenvolvimento da
Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), todas três votadas em
dezembro e ainda sujeitas à sanção do governador.
A tramitação do Projeto de Lei (PL) 637/07, do
deputado Dinis Pinheiro (PSDB), que determina uma nova distribuição
da receita do ICMS pertencente aos municípios, foi concluída em
dezembro. Com a aprovação do projeto, que altera a Lei Robin
Hood, cerca de R$ 9 milhões da arrecadação desse tributo poderão
ser redistribuídos, o que significa 2,10% do valor total repassado
aos municípios. As novas regras valerão integralmente a partir de
2011. O projeto representa o esforço do Parlamento em levar à
sociedade a discussão das matérias em tramitação, buscando construir
um texto de consenso. Nesse sentido, foi realizado, em 2007, o Fórum
Técnico ICMS Solidário, que percorreu as diversas regiões do
Estado, com ampla participação de prefeitos e lideranças.
Ao fazer um balanço dos trabalhos, o presidente da
ALMG, deputado Alberto Pinto Coelho (PP), ressaltou que são os
debates que engrandecem a atuação parlamentar. "As atividades não
podem ser avaliadas apenas do ponto de vista da quantidade das leis,
por mais importantes que elas sejam, mas é preciso considerar
sobretudo a qualidade e profundidade dos temas discutidos", disse.
Ele lembrou que os debates nem sempre geram proposições, mas podem
propiciar avanços na atuação dos outros Poderes e das instituições
públicas.
Funcionalismo público terá reajuste; planejamento
participativo é destaque
Na reta final dos trabalhos, foram aprovados vários
projetos concedendo reajustes para o funcionalismo público estadual,
entre eles para servidores do Tribunal de Justiça e para diferentes
carreiras do Executivo. Outros projetos votados pelo Plenário em
2008 que beneficiaram os servidores já foram transformados em lei,
como os que reajustaram os salários do pessoal do Ministério
Público, da Assembléia e do Tribunal de Contas. A Lei 17.600, que
disciplina o Acordo de Resultados e o Prêmio por Produtividade no
Executivo, instituiu novas regras para esses dois instrumentos de
gestão administrativa e teve seu formato final após várias reuniões
do grupo de trabalho integrado por consultores da ALMG, técnicos do
governo e entidades sindicais.
Planejamento participativo - Nesta sexta-feira (19), o Plenário aprovou os PLs 2.785/08 e
2.786/08, do governador, que revisa a lei do Plano Plurianual de
Ação Governamental (PPAG) 2008-2011 e que contém o Orçamento do
Estado para 2009, respectivamente. O destaque na análise dessas
proposições ficou por conta da participação popular. Desde 2003, a
Assembléia promove, em parceria com o governo, o debate sobre o
orçamento público, reunindo sugestões da sociedade para aperfeiçoar
essas duas peças do planejamento estatal. Em 2008, foram
apresentadas mais de 450 propostas populares à revisão do PPAG,
plano que mostra onde e como o governo investirá o dinheiro. A
partir da análise dessas propostas, foram formuladas 138 emendas ao
projeto de revisão do PPAG e 51 ao Orçamento, todas
incorporadas.
O Plenário em números - O
Plenário da Assembléia aprovou 69 proposições em redação final; 17
em 2º turno; 22 em 1º turno e 3 em turno único. Também foram
transformadas em leis 104 proposições. Treze vetos foram apreciados.
Os deputados realizaram 284 reuniões, entre ordinárias,
extraordinárias, especiais e solenes.
Cartão de crédito, consumo de água, pequizeiro,
Mata do Cercadinho e RMBH
Entre as normas na área de defesa do consumidor
aprovadas em 2008 está a que determina a divulgação de dados, como
endereço completo da sede ou da filial e razão social, na
correspondência que as administradoras de cartão de crédito enviam
ao consumidor (Lei 17.759, originada de projeto do deputado Jayro
Lessa, do DEM); e a que determina que a Copasa fará a medição
individualizada no consumo dos edifícios, a partir de requerimento
do síndico ou responsável (Lei 17.506, originada de projeto dos
deputados Fábio Avelar, do PSC, e Adalclever Lopes, do PMDB).
Outro exemplo é a Lei 17.682, originada de projeto
do deputado Doutor Viana (DEM), que admitiu o abate do pequizeiro
apenas quando necessário à execução de obras ou projetos de
relevante interesse social, mediante autorização do poder público.
Até então, o pequizeiro era considerado imune de corte. A lei prevê
compromisso formal do empreendedor de plantar 25 mudas catalogadas e
identificadas da mesma espécie, por árvore a ser abatida. O projeto
foi apresentado para resolver um impasse. A fábrica de bebidas Ambev
estava para instalar uma unidade em Sete Lagoas (Região Central do
Estado). A obra não pôde ser iniciada porque existiam no terreno 400
pequizeiros, e o Ministério Público impediu que o empreendimento
fosse adiante.
Na tentativa de buscar o equilíbrio entre
desenvolvimento e meio ambiente, a ALMG aprovou em dezembro, após
ampla discussão, o Projeto de Lei (PL) 2.880/08, dos deputados
Adalclever Lopes e Gilberto Abramo, do PMDB, que altera a lei que
criou a Estação Ecológica do Cercadinho. A medida viabilizará obras
de ligação e acesso entre a BR-356 e a MG-030, facilitando o tráfego
para Nova Lima, Rio Acima, Raposos e distritos, bem como no sentido
inverso, em direção a Belo Horizonte. Para reduzir o impacto
ambiental, fica vedada a construção de empreendimentos imobiliários
no local e estruturas de apoio ao tráfego, como postos de gasolina,
restaurantes ou lojas de conveniência. A obra só terá licença de
operação após o plantio de vegetação para recuperar a área.
Outra proposição aprovada foi o Projeto de Lei
Complementar (PLC) 28/07, do governador, que cria a Agência RMBH,
que terá autonomia administrativa e financeira e ficará vinculada à
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana
(Sedru). O texto aprovado incorpora reivindicações da bancada do
PMDB e de vários prefeitos eleitos e reeleitos. Uma das alterações
diz respeito à questão das multas. Originalmente, o texto não
deixava claro que a agência não poderá aplicar multas nos municípios
em caso de descumprimento de alguma norma ou diretriz estabelecida
pelo conselho deliberativo. Isso foi corrigido durante a tramitação,
e a versão final determina que as multas só serão aplicadas às
pessoas físicas e jurídicas.
Incentivo à cultura, Bolsa Verde, inovação
tecnológica e acesso à Justiça
Outras leis sancionadas em 2008 foram:
* Incentivo à cultura: Lei
17.615, ex-PL 1.022/07, da deputada Elisa Costa, do PT: cria um
escalonamento de 3% a 10% de dedução do ICMS devido, conforme a
renda bruta anual da empresa, no caso do contribuinte que apoiar
financeiramente projeto cultural. Também inova ao organizar, em
câmaras setoriais, a comissão técnica encarregada da análise do
projeto cultural e ao criar um mecanismo de descentralização da
aplicação dos recursos, para fomentar a participação do interior.
Estabelecem-se percentuais diferenciados, do montante total de
recursos aprovados pela comissão técnica para captação, a serem
destinados a cada ano a projetos de empreendedores domiciliados no
interior. Para se chegar ao texto da lei, foram anos de discussão,
com a realização de audiências públicas da Comissão de Cultura e
reuniões com entidades do setor e governo.
* Inovação tecnológica:
Lei 17.348, ex-PL 30/07, do governador: estabelece medidas de
incentivo à pesquisa científica e tecnológica nas atividades
produtivas, a fim de conferir autonomia e competitividade ao Estado;
cria o Fundo de Incentivo à Inovação Tecnológica e estabelece
mecanismos de integração entre governo e iniciativa privada.
Diversas reuniões foram realizadas na busca do consenso sobre o
projeto, com a participação de parlamentares, consultores da ALMG e
técnicos do Executivo. Para se ter uma idéia da amplitude das
discussões, três substitutivos foram apresentados à matéria.
* Bolsa Verde: Lei 17.727,
ex-PL 952/07, do deputado Roberto Carvalho (PT): cria o primeiro
instrumento econômico de gestão ambiental do Estado. A lei prevê
benefício financeiro anual a ser concedido a produtores ou posseiros
rurais que promovam, conforme regulamento a ser editado pelo
Executivo, ações de recuperação, preservação e conservação da
biodiversidade ou de recursos hídricos em áreas de sua propriedade
ou posse.
O processo de elaboração da lei contou com a
participação dos órgãos ambientais, produtores rurais e movimento
ambientalista. A nova norma estimula um novo modelo de gestão
ambiental, não mais baseado em instrumentos de comando e controle,
mas em outros, como o pagamento por serviços ambientais. Na
avaliação da ALMG, a regulamentação da bolsa pela Secretaria de
Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad)
representará o aprendizado de como transformar um agente de
degradação em um parceiro na recuperação e preservação do meio
ambiente.
* Acesso à Justiça: Lei
Complementar 105 (ex-PLC 26/07, do Tribunal de Justiça): atualiza a
Lei Complementar 59, de 2001, que contém a organização e a divisão
judiciárias do Estado. Várias reuniões com a participação de juízes,
servidores e parlamentares foram realizadas para dar o formato final
ao projeto. Entre as mudanças aprovadas, destacam-se: a criação de
cargos de juiz, a fim de melhorar e agilizar o atendimento à
população; o aumento do número de desembargadores de 120 para 140; a
elevação do número de comarcas de entrância especial de 12 para 23;
a criação de quatro novas comarcas (Juatuba, Fronteira, Pains e
Carneirinho); e a obrigação de se instalar vara de execução criminal
nas comarcas onde houver penitenciária.
* Regras para desmanche de veículos: Lei 17.866, ex-PL 429/07, do deputado Leonardo Moreira
(DEM): dispõe sobre o controle do desmonte de veículos. A lei foi
promulgada pela Mesa da Assembléia em novembro após a derrubada do
veto total do governador à matéria. Segundo a Comissão de Segurança
Pública, a iniciativa vem em boa hora para coibir a venda de peças
roubadas e a recuperação de carros que não poderiam voltar à
circulação sem colocar em risco a população. Tem-se comprovado uma
conexão estreita entre o funcionamento de estabelecimentos de
desmonte de veículos e furtos e roubos de carros. Isso ficou
evidente para a comissão em audiência promovida em junho de 2007
sobre o tema. A nova lei traz instrumentos jurídicos que facilitarão
a atuação das polícias para autuar, investigar e até fechar
estabelecimentos clandestinos.
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