Exploração de eucalipto em Buenópolis pode ser suspensa

A Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vai propor a interrupção do...

19/06/2007 - 00:00
 

Exploração de eucalipto em Buenópolis pode ser suspensa

A Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais vai propor a interrupção do plantio de eucalipto no entorno do Parque Estadual da Serra do Cabral, na região Central do Estado, até que as questões legais que envolvem a autorização para o empreendimento sejam revistas por órgãos ambientais. Durante a audiência pública realizada nesta terça-feira (19/6/07), em Buenópolis, deputados apresentaram requerimento com esse objetivo, que vai ser votado na próxima reunião da comissão.

A solicitação é para que as informações colhidas na audiência pública sejam encaminhadas ao diretor do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Humberto Candeias, e ao secretário de Estado do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho. Também recomendou-se que as autorizações para funcionamento e exploração florestal dadas à Fazenda Vitória, responsável pelo empreendimento, não sejam renovadas até que as denúncias de irregularidades sejam apuradas. Todas as autorizações vencem em 28 de junho.

Durante a reunião, a promotora de Justiça Luciana Imaculada de Paula, coordenadora da Promotoria de Defesa dos Rios das Velhas e Paraopeba, informou que o Ministério Público também recomendará ao secretário a suspensão da autorização ambiental para funcionamento da empresa e sua convocação para a licença ambiental. A decisão do Ministério Público se baseia em laudo do seu corpo técnico, que apontou ser a localização do empreendimento uma área de recarga hídrica em topo de morro. "Causa um desconforto a dispensa de licenciamento pelo IEF", disse ela.

A vistoria do Ministério Público apontou também a possibilidade de ocorrência de sítios arqueológicos na área da fazenda. Segundo Luciana de Paula, três promotores públicos estão atuando no caso, marcado pela "inobservância de normas federais no processo de autorização", declarou.

Criação

A Fazenda Vitória é uma propriedade de 5.820 hectares em torno do Parque da Serra do Cabral, criado em 2005, mas ainda não implantado. Os empreendedores conseguiram, junto ao Sistema Estadual do Meio Ambiente, autorização para monocultura de eucalipto em três áreas que somam 400 hectares, com a dispensa de licenciamento ambiental. A alegação de ambientalistas e moradores, no entanto, é que a monocultura está em topo de morro, em área de amortecimento do parque. Em função disso, deveriam ser observadas resoluções do Conama que exigem estudo de impacto ambiental e a preservação de uma faixa de 10 quilômetros no entorno do parque, até a elaboração do seu plano de manejo.

Durante o debate em Buenópolis, a arqueóloga Cristiane Lopes de Machado acrescentou que, em caso de ocorrência de sítio arqueológico, é preciso realizar pesquisa e levantamentos antes de implantar o empreendimento. O diretor de licenciamento do IEF, Osmam Gomes de Araújo, argumentou que a área a ser cultivada é muito pequena em relação à área total da empresa, e que foi exigido dos empreendedores a averbação de 20% para reserva legal, além de 50 hectares englobados na área do parque. "O parque ainda não possui plano de manejo. Logo, não há zona de amortecimento definida. Nesse caso, o IEF tem poder para resolver a questão", afirmou ele. Araújo enfatizou que o órgão cumpriu as determinações legais.

Representando os empreendedores, Rodrigo Lima acrescentou que os 400 hectares utilizados foram autorizados em função da ausência de vegetação. "São plantas rasteiras e não se trata de topo de morro, mas de chapada", argumentou. Lima disse ainda que a área da fazenda está sendo estudada, e as zonas de nascentes e sítios arqueológicos, mapeados. "Cumprimos tudo que foi exigido", afirmou ele. A promotora Luciana de Paula lembrou, porém, que todos os mapeamentos deveriam ser feitos antes do empreendimento, conforme prevê a legislação. "Em meio ambiente, vale o princípio da precaução. A certeza da viabilidade do empreendimento só viria com esses estudos", defendeu. Ela reiterou que o IEF não poderia arbitrar sobre a questão, desconsiderando as normas federais.

A superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), Maria Dalci Ricas, acrescentou que o parque foi criado depois de muita luta, e que a atividade precisaria ser melhor discutida nas câmaras técnicas do Copam. "Questionamos a autorização ad referendum (com dispensa do licenciamento ambiental), que é só para casos de extrema urgência. Nós encontramos um muro de silêncio no IEF", criticou. Representantes da Polícia Ambiental e ainda o prefeito José Alves informaram que a fiscalização se baseou nas licenças concedidas pelo IEF.

Empregos

O assunto é polêmico, uma vez que o empreendimento chega com promessa de geração de empregos. Buenópolis tem como principais atividades econômicas a pecuária e a produção de cachaça. "Em outubro de 2005, quando o parque foi criado, a promessa era de que o ecoturismo compensaria a perda de renda de quem vivia do local, coletando sempre-vivas ou cristais. Mas o eucalipto altera a paisagem, pode assorear nascentes, e degrada o parque", argumentou o produtor rural Daltro Menezes. Ele questionou a rapidez com que as licenças foram concedidas, ao passo que sua denúncia sobre irregularidades ao IEF ficou sem resposta.

O temor de alguns moradores é que o caso abra precedentes para novas monoculturas na região. Em visita ao parque, é possível verificar que a descaracterização temida pelos moradores já ocorreu. Boa parte das terras já está sulcada, ou mesmo plantada.

Deputados defendem modificação na legislação

Os deputados presentes na audiência pública deixaram o local com dúvidas sobre os procedimentos adotados para autorizar o cultivo de eucalipto na Fazenda Vitória. O deputado Fábio Avelar (PSC), vice-presidente da comissão, apontou inclusive o que considera um vácuo na legislação, que permite o fracionamento de áreas no momento da licença. "Na autorização, deveria constar o que será feito no restante da área. Vamos discutir isso mais profundamente", declarou o parlamentar. O deputado Almir Paraca (PT) também defendeu uma legislação mais sistêmica, que evite a repetição desses erros. "No caso de Buenópolis, espero que haja um reposicionamento, contemplando as considerações aqui colocadas", defendeu.

O deputado João Leite (PSDB) manifestou sua preocupação com as notícias de que outros empreendimentos, inclusive de cana-de-açúcar, teriam interesse em se implantar no entorno do parque. "O Poder Legislativo vai até o povo, e estamos interessados nesses casos", afirmou. Já Célio Moreira (PSDB) lembrou que o poder de fiscalizar é uma função do Legislativo.

Aeroporto - O prefeito de Buenópolis, José Alves, disse que no caso de incêndio no parque, é difícil o combate, uma vez que o campo de aviação da cidade não é asfaltado. O município faz limite com o Parque Nacional das Sempre-Vivas. O deputado Célio Moreira informou que o pedido de asfaltamento do aeroporto já foi enviado ao governador. Após a audiência, os deputados visitaram o casarão doado pela prefeitura para ser a sede do parque.

Presenças - Deputados Fábio Avelar (PSC), vice-presidente; Célio Moreira (PSDB), João Leite (PSDB) e Almir Paraca (PT); além de autoridades e representantes citados, fizeram parte da mesa o presidente da Câmara Municipal de Buenópolis, Adão Santana; o promotor de Justiça de Buenópolis, José Leonil; o comandante do Grupamento de Meio Ambiente, sargento José Afreu de Queiroz; gerente administrativo da Associação Mineira de Silvicultura, Dárcio Calai; e o gerente de Implantação de Áreas Protegidas do IEF, Silvério Seabra da Rocha.

 

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