Direitos Humanos cobra solução de crimes em Ouro Preto

O caso da estudante Aline Silveira Soares, morta há três anos no cemitério da Igreja das Mercês, em Ouro Preto, duran...

13/12/2004 - 01:00
 

Direitos Humanos cobra solução de crimes em Ouro Preto

O caso da estudante Aline Silveira Soares, morta há três anos no cemitério da Igreja das Mercês, em Ouro Preto, durante rituais bizarros que podem incluir o jogo conhecido como RPG, parece estar perto de um desfecho. A promotora de Justiça Luíza Helena Fonseca anunciou, em reunião da Comissão de Direitos Humanos realizada na tarde desta segunda-feira (13/12/04) na Câmara Municipal de Ouro Preto, que vem recebendo testemunhos capazes de elucidar os fatos e permitir que o caso vá a julgamento.

Luíza Helena considerou robustas as provas obtidas recentemente, quando uma capina e escavações no terreno baldio adjacente ao cemitério encontraram trajes rituais e peças que podem ter sido usadas no crime. O assassinato de Aline Soares foi cometido durante a Festa do Doze, em 12 de outubro de 2001. Trata-se de uma comemoração que mobiliza os 3 mil estudantes universitários que moram nas 200 "repúblicas" de Ouro Preto. Os suspeitos são estudantes aficcionados no RPG (Role Playing Game), um jogo em que cada um interpreta um papel conforme sorteio. Entre esses papéis, pode haver o de carrasco e o de vítima.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, Durval Ângelo (PT), revelou que foi há um ano a Ouro Preto para pressionar as autoridades com relação ao caso Aline e incentivar a sociedade a romper o que chama de "ciclo da impunidade". Para o deputado, o silêncio acoberta os culpados, mas não garante a paz social. "Dos crimes violentos, 80% só se resolvem com a participação da sociedade. Os ouropretanos precisam se lembrar da frase do profeta Isaías, segundo o qual a paz é fruto da justiça", disse Durval Ângelo, exortando a comunidade a fazer denúncia anônima do que souber sobre este e outros homicídios.

Advogada de direitos humanos brutalmente assassinada

Outro crime que chocou a opinião pública da cidade ocorreu há três semanas, com o assassinato à queima-roupa da advogada de direitos humanos Walmary Moreira da Silva, que estava montando um dossiê sobre iniqüidades e perversões nas creches de Ouro Preto, segundo denunciou a médica Sílvia Martinez, presidente da ONG Regard. Walmary estava em rixa com o Conselho Tutelar de Menores, para o qual foi eleita por 27 instituições, e no qual só tomou posse mediante liminar judicial.

Kerley Fernandes, conselheiro tutelar que convivia mais estreitamente com a vítima, relatou que a admirava pela coragem, e que lhe aconselhava a diminuir seus enfrentamentos, mas que ela sempre se recusava. Vários depoentes confirmaram o caráter belicoso, polêmico e agressivo da advogada, mas ressaltaram sua combatividade pelas causas justas. Kerley Fernandes, no entanto, assegurou que as brigas dela dentro do Conselho Tutelar eram sempre por questões menores, e que nenhuma delas justificaria um assassinato.

O delegado de Polícia Darcy Alberto da Silva, que assumiu oito delegacias em Ouro Preto há um ano, revelou que o inquérito da morte da advogada já está no segundo volume, com apenas três semanas, e que não vai mais rápido por absoluta falta de condições de trabalho: "Não temos veículo, nem equipe, nem telefone. Os recursos que conseguimos em nossa regional são insatisfatórios para resolvermos este e outros crimes", afirmou.

O delegado enumerou seis homicídios ocorridos em Ouro Preto durante 2004, sem incluir cadáveres não identificados encontrados no município e tentativas de homicídio. A cidade, segundo outros depoimentos, está se tornando violenta, e há "um complô de silêncio e impunidade". Durval Ângelo ofereceu ajuda junto ao Chefe de Polícia Civil, Otto Teixeira, para melhorar as condições de trabalho da Delegacia de Ouro Preto.

 

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