Alemg cobra providências para delegacias superlotadas
A Assembléia de Minas vai cobrar do governo do
Estado solução para o problema da superlotação nas delegacias de
polícia. Durante reunião da Comissão de Segurança Pública nesta
terça-feira (19/8/2003), foram aprovados dois requerimentos com essa
finalidade. Um deles, do deputado Alberto Bejani (PL),
vice-presidente da comissão, pede que seja agendada uma visita dos
integrantes da comissão ao governador Aécio Neves, para discutir o
problema da superlotação. Outro, do deputado Sargento Rodrigues
(PDT), presidente, solicita uma visita da comissão às Delegacias de
Tóxicos e de Furtos e Roubos, além do Departamento de Investigações
da Polícia Civil, no dia 16 de setembro.
A visita está marcada para essa data porque,
segundo o titular da Delegacia de Furtos e Roubos, Marcelo Machado,
o governo do Estado prometeu para o dia 15 de setembro o início do
remanejamento dos presos condenados que cumprem pena irregularmente
nas delegacias. De acordo com Machado, a transferência desses presos
vem sendo postergada há dois meses. Era para ter sido iniciada em
junho e foi sendo adiada, o que tem provocado tensão entre os
presos. "Para pôr fim à greve de fome que os presos fizeram na
semana passada, firmamos um pacto e garantimos que a transferência
seria iniciada no mês que vem. Eles já avisaram que, se não houver
transferência, os 'irmãozinhos' serão sacrificados", disse.
Machado apresentou os números que dão idéia do
tamanho da panela de pressão que se tornou a Delegacia de Furtos e
Roubos, localizada no Barro Preto. Ao todo são 520 detentos,
contingente que não existe em nenhuma penitenciária do Estado,
segundo ele. Desse total, 300 já foram julgados e deveriam estar
cumprindo pena em penitenciárias. Algumas celas da delegacia, com
capacidade para seis pessoas, chegam a abrigar até 48 detentos. Cada
um deles tem apenas 26 centímetros quadrados de espaço. "É um
verdadeiro caos. Com a superlotação, iniciou-se uma onda de
assassinatos cometidos pelos próprios detentos", disse. Segundo
Machado, apenas neste ano, 16 detentos foram assassinados pelos
colegas de cela na Furtos e Roubos. No ano passado, a delegacia
registrou dez homicídios cometidos pelos presos.
Revezamento para dormir
Na Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes, que fica
na Gameleira, a situação não é muito diferente. Lá, as sete celas,
de 20 metros quadrados cada, abrigam 203 detentos. "Os presos têm
que fazer revezamento para dormir", revelou o titular da delegacia,
Carlos Alberto Malheiros Fialho. Segundo ele, há um mês, os presos
fizeram uma rebelião, que só foi controlada com a promessa de
transferência dos condenados para penitenciárias. "Depois disso, as
celas têm que ficar trancadas o tempo todo, pois os detentos estão
ameaçando fazer como reféns policiais, advogados e promotores",
continuou.
Situação do DI - Nem o
Departamento de Investigações (DI), cuja carceragem masculina foi
desativada após inúmeras denúncias de desrespeito aos direitos
humanos, escapa do problema da superlotação. De acordo com o chefe
do DI, Eduardo Azevedo Pacheco, uma pequena cela, que deveria servir
apenas para triagem dos presos, abriga 83 detentos. Muitos são
obrigados a dormir ao relento, no pátio que fica ao lado da cela.
Além disso, a carceragem feminina do DI conta com 176 detentas.
"Algumas chegam a criar seus filhos lá dentro", revelou. Pacheco
informou também que, em todo o Estado, existem 74 mil mandados de
prisão a serem cumpridos, e toda semana são expedidos entre 300 e
350 novos mandados.
Apresentadas soluções para superlotação; deputados
lamentam ausência de autoridades
Diante da gravidade do problema da superlotação, o
delegado Eduardo Pacheco mostrou-se cético com a promessa de
transferência dos detentos em setembro. "Não acredito que haja tempo
suficiente para tirar esses 300 presos da Furtos e Roubos em menos
de um mês", disse. Para o delegado de Furtos e Roubos, Marcelo
Machado, o problema da superlotação poderia ser amenizado com a
criação de vagas nas atuais penitenciárias. Segundo ele, se em cada
cela fossem colocados dois presos, o número de vagas no sistema
poderia dobrar, o que poderia aliviar a superlotação nas delegacias.
O deputado Sargento Rodrigues, presidente da
comissão e autor do requerimento para realização da reunião, também
defendeu a ampliação das vagas nas penitenciárias já existentes. "Se
é desumano ter 48 presos em uma cela, por que temos uma cela de seis
metros quadrados para cada preso na Nelson Hungria?", questionou.
Ele também defendeu a melhoria das condições de trabalho dos
policiais civis e criticou a responsabilidade da Polícia Civil pela
guarda dos presos condenados. "O Estado paga os delegados para
trabalharem como carcereiros de luxo", afirmou. O deputado disse
ainda que ia encomendar à assessoria da comissão um parecer jurídico
e um laudo técnico para constatar as precárias condições de trabalho
dos policiais civis que fazem a guarda dos presos.
Ausência - O deputado
Alberto Bejani concordou com o presidente da comissão e cobrou do
governo do Estado a liberação de mais recursos destinados à
segurança pública. Já o deputado Célio Moreira (PL) defendeu o
método Apac, que, para ele, é mais eficiente que o atual modelo de
recuperação adotado nas penitenciárias mineiras. Todos os deputados
lamentaram as ausências do secretário de Estado de Defesa Social,
Lúcio Urbano; do subsecretário de Administração Penitenciária,
Agílio Monteiro; e do chefe de Polícia, Otto Teixeira. Nenhum dos
três enviou representante à reunião.
Projeto analisado quer evitar superlotação
Durante a reunião desta terça (19), os deputados
aprovaram ainda um parecer. O Projeto de Lei (PL) 370/2003, do
deputado Durval Ângelo (PT), que institui o sistema de número
fechado para as unidades prisionais, recebeu parecer favorável da
comissão. O objetivo do projeto é evitar a superlotação nas
penitenciárias, cadeias e delegacias. Pelo texto original, todos os
presos condenados que cumprem pena sob a guarda da Polícia Civil
deverão ser removidos para os estabelecimentos prisionais adequados.
Pela redação dada pelo substitutivo no
1, apresentado pelo relator do projeto na Comissão de Segurança
Pública, deputado Alberto Bejani, após atingida a capacidade máxima
estabelecida por decreto do Poder Executivo, cada unidade prisional
só pode receber novos detentos mediante ordem judicial. Além disso,
o substitutivo estabelece que, quando o sistema atingir sua
capacidade máxima, o Estado tem 180 dias para construir uma nova
unidade prisional ou adaptar um imóvel para abrigar os presos
excedentes.
Requerimentos - A comissão
aprovou ainda nove requerimentos. Um outro requerimento foi
rejeitado. Do deputado Leonardo Moreira (PL), o requerimento
1.052/2003 pedia que fosse enviado ofício à Chefia da Polícia Civil
para que o delegado Geraldo Magela de Carvalho continuasse sendo o
titular da regional de Teófilo Otoni. O deputado Rogério Correia
(PT) ponderou que, se o delegado já foi afastado do cargo, não cabe
à Assembléia pedir que ele continue exercendo a função.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente;
Alberto Bejani (PL), vice; Rogério Correia (PT), Célio Moreira (PL)
e Carlos Pimenta (PDT).
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