Detetive evita incriminar delegado de Ibirité
Em depoimento à CPI do Sistema Prisional, nesta
terça-feira (28/5/2002), o detetive de Polícia Paulo Roberto Murta
Jardim, da Delegacia de Ibirité, não sustentou as acusações feitas
pelo carcereiro Marcelo Barros Romualdo contra o delegado Marco
Aurélio dos Anjos, em outra reunião da mesma CPI. Romualdo havia
dito aos deputados que Paulo Roberto teria testemunhado a soltura do
preso Daniel Renan no dia 7 de setembro de 2000, data em que o
condenado, com outros bandidos, realizou três assaltos e um
assassinato em Congonhas. Paulo Roberto, que foi contraditório em
outros pontos do seu depoimento, evitou incriminar o delegado.
O episódio dos crimes de Daniel Renan ficou famoso
ao ser dramatizado no programa "Linha Direta" da Rede Globo, em
janeiro último. O detetive Paulo Roberto afirmou que não viu o
detento ser solto pelo delegado e negou também ter ouvido o delegado
exigir as chaves da cela ao carcereiro. "Presenciei apenas uma parte
da discussão entre os dois, em que o carcereiro dizia que aquilo não
era bom para a segurança da cadeia e o delegado respondia que era
ele quem tinha o poder", relatou o depoente. Paulo Roberto disse que
se retirou do local da discussão por entender que não deveria opinar
sobre o assunto. Disse, ainda, que só ficou sabendo da libertação do
preso alguns dias depois, quando deu plantão na Delegacia.
OMISSÕES, NEGLIGÊNCIA E LIBERALIDADE
O deputado Irani Barbosa (PSD) considerou omissa a
atitude do detetive Paulo Roberto em relação ao fato ocorrido e
desqualificou a atuação profissional do policial. Para ele, Paulo
Roberto tinha obrigação de interferir na discussão e denunciar a
suposta ação do delegado Marco Aurélio. O deputado disse acreditar
que o detetive faz parte da "quadrilha formada por policiais civis"
por julgar que ele foi conivente com a situação.
Os deputados estão investigando se há um esquema de
facilitação de fugas na cadeia de Ibirité, mas até agora comprovaram
apenas episódios de inaceitável negligência e excesso de
liberalidade por parte dos delegados. No início de maio,
confrontaram na CPI os delegados Marco Aurélio dos Anjos e Wilson
Luiz Dias Gouveia, que trocaram acusações sobre a liberação
irregular de sentenciados. Marco Aurélio admitiu que autorizou a
saída de Daniel Renan em duas ocasiões, por razões humanitárias, mas
negou que o tenha feito na data dos crimes. Wilson Gouveia, diretor
do presídio, assegurou que jamais soltou preso sem autorização
judicial. Invocou o testemunho do carcereiro Marcelo Romualdo para
confirmar os desmandos do delegado Marco Aurélio.
PRESOS LAVAM VIATURAS NA RUA
Segundo o detetive Paulo Roberto, é comum nas
cadeias do País a liberação de alguns presos, apelidados de "canas
mole", para prestação de serviços internos, como faxina e limpeza de
viaturas. O deputado Irani Barbosa alertou o detetive para o fato de
que nem todas as delegacias possuem pátios para estacionamento das
viaturas e indagou onde esse tipo de trabalho era feito em
delegacias menores, como a de Ibirité. O detetive informou que, na
Delegacia de Ibirité, a limpeza das viaturas era feita nas calçadas,
fora da prisão, e que o detento Daniel Renan realizava esse tipo de
serviço, tendo acesso também ao gabinete do delegado Marco
Aurélio.
Para o deputado Alberto Bejani (PFL), a
Corregedoria da Polícia Civil não está desempenhando corretamente a
sua função, já que o delegado e os supostos responsáveis pela
soltura do preso não foram punidos pelo crime, atuando ainda como
policiais. O parlamentar lamentou a situação atual da Polícia Civil
de Minas Gerais que, segundo ele, já foi referência nacional.
"Existe uma Polícia frágil em Minas Gerais", concluiu o
deputado.
|