Desigualdades diminuíram, segundo pesquisador do Ipea,
mas pobres extremos ainda dependem dos programas de renda

A última década trouxe a ampliação de renda e a queda das desigualdades sociais e da pobreza entre os brasileiros, o que foi impulsionado pelo crescimento do País e a implementação de políticas sociais de transferência de renda. As conclusões foram apresentadas pelo diretor de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Jorge Abrahão de Castro, primeiro palestrante do Ciclo de Debates Estratégias para a Superação da Pobreza, que teve início da manhã desta quinta-feira (9/6/11) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

De acordo com dados apresentados pelo diretor, o número de brasileiros que se encontram na linha de extrema pobreza, os seja, que possuem renda per capta de até R$ 70, decresceu de 8,9%, em 2004, para 5,2%, em 2009. Ainda de acordo com Castro, embora a pobreza extrema em Minas Gerais e no Brasil tenha caído no mesmo ritmo, a média estadual, registrada em 2009, é melhor do que a nacional, chegando aos 3%.

Castro explicou que existem linhas diversificadas para mensurar a pobreza no País, mas, de acordo com o diretor, o governo federal pensou a questão com base na renda das pessoas.

Na avaliação do diretor do IPEA, a transferência de renda ainda é muito importante para a sobrevivência de grande parte da população de baixa renda. Segundo dados de 2009 mostrados por Castro, 57% das famílias que vivem na pobreza extrema dependem do programa federal Bolsa Família, recebendo um benefício médio de R$108 ao mês.

De acordo com o diretor, os dados apontam que, embora o programa tenha crescido, muitas famílias ainda não têm acesso ao benefício, que, segundo ele, ainda é muito baixo. Ao defender a política de transferência de renda, Castro afirmou que, na Europa, mais de 30% da renda das famílias vêm de transferência do Estado. No Brasil esse percentual estaria em torno de 25%.

O palestrante também defendeu a ideia de que investir em políticas sociais é central para o crescimento econômico do País, e afirmou que 1/4 da economia brasileira já gira em torno dessas políticas.

Informalidade - Ao falar sobre a composição da renda das famílias extremamente pobres, Castro alertou que uma parcela (52%) dos ganhos mensais advém do trabalho, que segundo ele é prioritariamente informal, uma vez que as pessoas não possuem carteira assinada. Ainda de acordo com o palestrante, 39% da renda dessas pessoas, que sobrevivem com uma média de R$38 per capta ao mês, é fruto de programas de transferência de renda.

Caracterização - "A pobreza, além de ter localidade, tem também cor", afirmou Castro ao falar sobre as características das pessoas que se inserem na faixa de pobreza extrema. De acordo com ele, a maior parte da população de baixa renda no País se encontra no campo, com maior incidência no Nordeste (50% dos casos). Por outro lado, Castro lembrou que a queda da pobreza extrema rural foi mais rápida do que a urbana. Ainda de acordo com o palestrante, 74% da população pobre do País é negra ou parda.

Em relação à faixa etária das pessoas que se encontram em pobreza extrema, o diretor do IPEA apontou que a grande incidência está entre as crianças de 0 a 14 anos (8,6%), e a menor entre os idosos (0,5%), o que, na opinião de Castro, é um reflexo das políticas públicas para essa faixa etária da população.

Na área de educação, os dados mostrados apontaram que, de 2004 para 2009, a média de anos de estudos entre os extremamente pobres passou de 3,5 para 4,4 anos. No entanto, 42% dessas pessoas são consideradas analfabetas funcionais.