Pobreza não se resume à privação material, pondera pesquisadora

Painel: "|O cáter multifcetado da pobreza: destituição econômica e aspectos de direitos humanos e cidadania"

Outro enfoque em relação à superação da pobreza foi apresentado pela doutora em Sociologia e Política pela UFMG, pesquisadora e professora da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro, Carla Bronzo Ladeira Carneiro. Para ela, os aspectos menos tangíveis da pobreza, envolvendo as dimensões psicosociais, e suas implicações para a formulação de políticas públicas devem ser considerados. A pesquisadora afirma que o enfoque da renda é necessário e importante, mas não é suficiente para caracterizar a pobreza, principalmente a crônica, e nem para enfrentá-la.

Com base em uma pesquisa feita com 608 famílias em Belo Horizonte, Carla Bronzo apresentou alguns pontos. Em primeiro lugar, ela pondera que é necessário mensurar os efeitos dos programas de assistência social no âmbito do protagonismo das famílias, considerando a subjetividade e o sofrimento. "Além dos números da pobreza, estamos falando de pessoas com desejos, sonhos e projetos", ponderou. No entanto, ressaltou que é necessário enfrentar a pobreza existente além da caridade ou compaixão, mas com compromisso efetivo com a cidadania e com os direitos sociais.

Outros aspectos levantados pela pesquisadora são a vulnerabilidade das dimensões psicosociais, em como a pobreza é entendida e compreendida, e o impacto que isso gera nas estratégias de enfrentamento e no público mensurado. "A definição da pobreza é motor para seleção de políticas", disse. "A mesma renda em uma família é diferente em outra, depende das condições envolvidas", completa. Para Carla Bronzo, se a pobreza se resumisse apenas à privação material bastaria apenas transferir renda para essas pessoas, sem considerar os fatores que se sobrepõem à renda, como exclusão social, privações múltiplas, infraestrutura social, dimensão territorial, entre outras.

Carla Bronzo explica ainda a diferença entre dois conceitos adotados, o primeiro no Brasil e o segundo em alguns países europeus. O conceito de pobreza absoluta considera apenas a renda e o da pobreza relativa observa também aspectos como acesso a bens e serviços, as oportunidades e a privação de capacidades. "Se analisarmos sob o aspecto da pobreza relativa, teríamos de 60% a 70% da população brasileira nesse quadro", afirma Carla Bronzo.

A professora também destacou as atitudes de passividade, de baixa autoestima, resignação e dependência como os pobres são vistos pelos não pobres. Afirmou ainda que as relações entre pobres e não pobres "geralmente são assimétricas, favorecem a dependência e/ou estigmatização e reforçam atitudes de passividade e resignação". Também observou que esses aspectos vão transformando as pessoas. "As pessoas aprendem a ser pobres e as políticas públicas não sabem como lidar com isso, como se altera a desesperança, o fatalismo", ressaltou.

O desafio, para ela, é como tirar as pessoas dessa condição e colocá-las numa condição de cidadania, de protagonismo, de poder. Outra ação apontada pela pesquisadora é a necessidade de criar políticas preventivas que devem ser desenvolvidas antes que o indivíduo dependa de uma programa de renda para sobreviver. E, principalmente, combinar garantia de renda com promoção social.

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