Os participantes analisaram e aperfeiçoaram as propostas apresentadas por seis grupos de trabalho e as organizaram por ordem de importância
Deputados e participantes, após a entrega do documento final com as propostas

Seminário propõe Plano Estadual de Segurança Hídrica

Plenária final do Seminário Águas de Minas produz documento com 72 propostas em defesa dos recursos hídricos.

02/10/2015 - 20:16 - Atualizado em 05/10/2015 - 11:19

A necessidade de regulamentação do reuso da água e de criação de um Plano Estadual de Segurança Hídrica foram destacados na plenária final do Seminário Águas de Minas III - Desafios da Crise Hídrica e a Construção da Sustentabilidade. Nessa etapa conclusiva do evento, realizada no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta sexta-feira (2/10/15), os participantes analisaram e aperfeiçoaram as 72 propostas apresentadas pelos seis grupos de trabalho e as organizaram, em cada tema, por ordem de importância. Algumas propostas foram aglutinadas com outras, conforme a pertinência entre elas, e outras foram acrescentadas.

Na oportunidade, os delegados do evento - representantes de comitês de bacias hidrográficas, órgãos públicos e entidades da sociedade civil do Estado -  também elegeram uma comissão de representação, composta por 11 membros: dois do setor técnico e de instituições de pesquisa; dois do setor produtivo; três de sindicatos de trabalhadores e movimentos socioambientais; três representantes de comitês de bacia e três do poder público estadual.

Além disso, concluíram a redação do documento final contendo as propostas aprovadas, que foi entregue simbolicamente aos deputados Doutor Jean Freire (PT) e Iran Barbosa (PMDB), da Comissão Extraordinária das Águas.

Aglutinadas em seis temas - Crise hídrica; Gestão de recursos hídricos; Fomento, custeio, receitas e destinação; Saneamento e saúde; Atividade minerária, indústria e energia; Agricultura, pecuária e piscicultura -, as proposições foram analisadas, aperfeiçoadas e priorizadas. Em cada tema, foram privilegiadas seis proposições. Os coordenadores de cada um dos grupos fizeram a apresentação dos seus relatórios, explicitando os pontos primordiais dos debates e esclarecendo a motivação na escolha das prioridades.

Reuso da água universalização do saneamento básico

Em relação à crise hídrica, um dos destaques do documento final é a necessidade de regulamentar a questão do reuso da água, com fiscalização, controle de qualidade, incentivos fiscais e formulação de políticas públicas sobre o tema. Ainda no mesmo tema, ênfase na elaboração do Plano Estadual de Segurança Hídrica. No que tange à gestão desses recursos, a proposta mais premente é a de universalizar o projeto Produtor de Água, a fim de ampliar as reservas hídricas e a qualidade da água.

O grupo responsável pelas propostas sobre fomento, custeio e destinação de receitas ressaltou a necessidade de revisão da Lei 15.910, de 2005, que trata do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado (Fhidro). A proposta é de que sejam destinados ao Fhidro 100% dos recursos da compensação paga pelas hidrelétricas; e que 20% desse montante seja para os atingidos por barragens e hidrelétricas; e outros 20% aplicados nos municípios com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da média estadual e naqueles localizados em áreas suscetíveis à desertificação.

Além disso, é abalizada a necessidade de regulamentação da Lei 12.503, de 1997, de forma a garantir que as concessionárias promovam, com recursos próprios, a recuperação das nascentes e matas ciliares nas bacias onde exploram os recursos.

Sobre saneamento e saúde, foco na proposta de garantia de recursos para universalizar o saneamento básico, com monitoramento e fiscalização. Nesse tema, também recebeu atenção especial a sugestão de implantar, dentro de dois anos, a Vigilância em Saúde Ambiental em todos os municípios do Estado, além da Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano; e a Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Contaminantes.

Dentro das propostas sobre atividade minerária, indústria e energia, foi sugerida a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para avaliar os processos de licenciamento ambiental no Estado, bem como a proibição da concessão de outorgas de uso da água e da instalação de novos minerodutos, com revisão das autorizações daqueles já instalados. Também foi privilegiada a sugestão criar um Sistema de Informação Integrado de acesso irrestrito, gerido pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e alimentado por organizações públicas e privadas.

A priorização da agricultura familiar e a efetivação de um Sistema Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) estão entre as prioridades relacionadas ao tema agricultura, pecuária e psicultura. Esse sistema visa a fortalecer a Empresa Mineira Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e o poder dos municípios, contando com entidades não-governamentais, para difundir e apoiar a adoção de políticas sustentáveis de produção agropastoril. No mesmo tema, destaque para a proposta de que sejam concedidos financiamentos e subsídios para sistemas de irrigação de alta eficiência, a fim de estimular pequenos e médios produtores rurais para o uso mais racional da água.

Deputados destacam aprimoramento da democracia

O coordenador dos trabalhos, deputado Doutor Jean Freire, o deputado Rogério Correia e os deputados federais Adelmo Carneiro Leão e Padre João (os quatro do PT) destacaram o Seminário Águas de Minas como um valioso instrumento de aprimoramento da democracia participativa, ressaltando a importância de que todo processo democrático seja respeitado e aprofundado.

Lembrando as dificuldades enfrentadas pelas comunidades do semiárido mineiro, o deputado Rogério Correia ainda destacou riscos decorrentes do agronegócio e da atividade mineradora no Noroeste do Estado e no Vale do Jequinhonha. Nesse sentido, ele lembrou uma audiência que requereu, em Buritis (Noroeste), para tratar do uso abusivo que o agronegócio estaria fazendo de barragens em nascentes. Segundo ele, isso estaria impendido o acesso a cursos d´água para agricultores familiares e moradores de assentamentos da região.

O parlamentar também denunciou minerodutos, que estariam desviando água da Usina de Irapé. Sobre a mesma questão, criticou um decreto do governo Anastasia, que teria desapropriado áreas para a construção de novos minerodutos, mesmo antes de haver a aprovação desses empreendimentos.

Os deputados federais Adelmo Carneiro Leão e Padre João também criticaram o uso abusivo dos recursos hídricos pelo agronegócio e a atividade mineradora, que deixaria em segundo plano o que destacaram como uso primordial da água: o consumo humano.

“Essa situação ofende a natureza e a dignidade humana, além de influenciar a crise hídrica em toda a sua extensão. É preciso respeito, sustentabilidade e valores humanitários. Esses recursos naturais devem atender aos interesses da sociedade como um todo, e não apenas desses grupos. Precisamos juntos construir ações em favor do pleno desenvolvimento humano, que criem condições para a sustentabilidade de todos”, alertou Adelmo Leão.

“É necessário rediscutir o código da mineração, que é de 1941 e dá primazia à mineração em detrimento do uso humano dos recursos hídricos. Precisamos de uma política específica voltada para a água, que estabeleça uma relação mais humanizada com esse recurso natural essencial à vida”, avaliou Padre João.