Bom Despacho pede ações contra crimes no campo
Dificuldades na cadeia produtiva do leite também foram discutidas em audiência pública realizada no município.
20/06/2016 - 19:18Mesmo tendo um quadro melhor que cidades vizinhas do Centro-Oeste de Minas, o município de Bom Despacho enfrenta o avanço da violência no campo, com furtos não apenas de gado, mas de maquinário e de defensivos caros. Além disso, os produtores rurais vivem um momento de alta nos preços dos insumos, superior ao aumento do preço do leite, o que tem levado a dificuldades nos negócios. Os dois temas foram debatidos na cidade, nesta segunda-feira (20/6/16), pela Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
O combate à criminalidade no campo no Estado tem sido prejudicado, segundo policiais, pela falta de efetivo e pela redução dos investimentos em segurança. De acordo com o delegado de Bom Despacho, Thales Gontijo de Queiroz Cançado Junior, o número de policiais civis do município é o mesmo de 16 anos atrás.
“Em 2014, o Executivo destinou R$ 33,3 milhões para investimentos em segurança. Em 2015, foram apenas 4,3 milhões, com 86% de queda. A Polícia Militar também recebeu quase R$ 100 milhões a menos”, afirmou o delegado, citando dados estaduais. Ele defendeu a criação de uma polícia especializada em crimes praticados na área rural.
O tenente Aelson José Oliveira, do 7º Batalhão da Polícia Militar, detalhou que a PM tem cinco patrulhas rurais para 19 municípios da região, mas poucas funcionam de forma efetiva, justamente pela falta de pessoal. O melhor resultado, de acordo com Aelson, é observado em Bom Despacho, onde a população do campo está voltando a ter a sensação de segurança.
“O foco do trabalho está na prevenção, com a mudança de comportamento do produtor”, ressaltou o tenente. Ele informou que as orientações vão desde a redução dos estoques de insumos até o cuidado com o a casa e com o maquinário, que deve ser guardado.
Parlamentares - O debate foi solicitado pelos deputados Fabiano Tolentino (PPS), presidente da comissão; Emidinho Madeira (PSB), vice; Inácio Franco (PV), Nozinho (PDT), Rogério Correia (PT) e Antônio Carlos Arantes (PSDB).
Fabiano Tolentino citou que o presidente de uma cooperativa de agricultores em Divinópolis (Centro-Oeste) foi morto durante um roubo em sua fazenda e defendeu que os produtores possam se armar para fazer a defesa das propriedades. “O homem do campo está desprotegido. Hoje o roubo é de carga fechada, de carreta”, concordou Inácio Franco.
Os parlamentares criticaram a redução dos investimentos em segurança e a falta de apoio por parte dos governos federal e do Estado, sobretudo em função da importância do setor agropecuário para a economia.
Tolentino salientou que a comissão está discutindo o tema em várias cidades e anunciou para o mês de agosto um debate conjunto com a Comissão de Segurança Pública da ALMG para cobrar ações do Executivo de Minas e propor a criação de uma polícia especializada contra crimes do campo.
Cadeia produtiva do leite vive dificuldades
Participantes da audiência cobraram da União ações para a cadeia do leite que possam minimizar a influência da China nessa commoditie e, ainda, evitar que o produto vindo da Argentina ou do Uruguai “invada” o Brasil.
Reivindicaram também um controle maior dos estoques de insumos para evitar a grande oscilação de preços. Na justificativa, lembraram a importância desse setor produtivo para o Estado. Em Bom Despacho, por exemplo, o orçamento da cooperativa de produtores se assemelha ao da própria prefeitura, conforme citou o presidente da Câmara Municipal, Fernando Becker Lamounier.
“Quando a produção é boa, os preços são ruins. Quando o ano é ruim para o produtor, ele perde a semente e o adubo, o preço sobe e ele não tem o produto para entregar”, sintetizou também o prefeito de Bom Despacho, Fernando José Castro Cabral.
O deputado Fábio Avelar Oliveira (PTdoB) completou que o preço do litro de leite aumentou para R$ 1,40, podendo chegar a R$ 1,50. Mas a alta dos insumos, sobretudo do milho, foi maior. “Quem tira leite é um sofredor”, resumiu.
Outros números dessa realidade foram dados pelo assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária (Faemg), Wallison Lara Fonseca. Segundo ele, diante do aumento vertiginoso da exportação de milho, o preço médio do produto em Minas teve elevação de 210% entre janeiro e maio deste ano, em relação ao mesmo período de 2015. “O preço do leite está 14,2% maior, mas o custo de produção subiu 26%. A conta não fecha”, aponta. Ele também citou aumento de 50% na importação de leite e a falta do produto nos supermercados de São Paulo. “O mercado é globalizado”, lembrou.
Antônio Carlos Arantes (PSDB) lembrou que o milho, assim como o feijão – que está com preços altos – já estão nas mãos de atravessadores e das trades (atacadistas), e não mais com os produtores. “O setor urbano acha que produtor tem vida fácil, que é chorão. Mas quando a gente olha a situação do Brasil, nem dá para entender como o setor agropecuário ainda está de pé e como sustenta o País”, afirmou.
Para Arantes, os pequenos produtores de leite vão acabar saindo do mercado e farão falta para a cadeia. Em estados do Sul do País, segundo ele, governos estaduais estão fazendo isenções tributárias para a agricultura, enquanto, em Minas, o governo aumenta impostos.
Assessoria – A assistência técnica para os produtores foi outro ponto de discussão. Fernando Lamounier frisou que quem produz pouco realmente não ficará no mercado. “Mas para produzir muito, é necessário investir em genética e tecnologia”, contrapôs, cobrando apoio dos governos para os produtores.
“Estamos perdendo para cidades vizinhas, que têm política mais agressiva nessa área”, acrescentou Fernando, referindo-se à prefeitura local. Representantes das federações dos agricultores e dos trabalhadores também defenderam maior assistência técnica. E Wallison Fonsea mencionou o programa “Balde Cheio”, da Faemg, que dispõe de 200 técnicos em 320 municípios mineiros.
O professor Vinícius Teixeira Leite, da Faculdade Alis, de Bom Despacho, citou a importância de se investir na diversificação da pauta de produtos na região, partindo para a fruticultura, horticultura e piscicultura. Já o engenheiro agrônomo da Emater criticou as exigências para os pequenos laticínios, que são as mesmas das grandes indústrias. “Temos uma pequena queijaria em Bom Despacho que já teve que investir mais de R$ 140 mil para atender às normas”, exemplificou.
Na fase de debates, produtores se queixaram da situação, se disseram desmotivados, e alguns chegaram a mencionar que já não dormem nas fazendas por medo da violência.