Comissão quer formular política estadual do futebol amador
Iniciativa foi defendida em audiência que discutiu problemas como desativação e infraestrutura precária de campos.
25/08/2015 - 15:56A formulação de uma Política Estadual de Apoio ao Futebol Amador foi o principal caminho apontado para dar novo fôlego ao esporte em audiência pública realizada nesta terça-feira (25/8/15) pela Comissão de Esporte, Lazer e Juventude da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O debate aconteceu atendendo a requerimento dos deputados Anselmo José Domingos (PTC) e Geraldo Pimenta (PCdoB), respectivamente presidente e vice da comissão.
Entre os principais problemas apontados por atletas, dirigentes, árbitros e fãs do esporte estão a desativação de campos em virtude da especulação imobiliária, a precária infraestrutura daqueles espaços ainda em funcionamento e a falta de apoio dos órgãos públicos e da iniciativa privada para o funcionamento de escolinhas e a organização das competições.
“O futebol é um patrimônio brasileiro e suas origens, nos campos de várzea, precisam ser protegidas e incentivadas. Esta comissão tem recebido inúmeras demandas, e a principal delas é a preservação dos locais de prática esportiva, cada vez mais ameaçados pela especulação imobiliária. Os que ainda funcionam estão cada vez mais precários”, denunciou o deputado Geraldo Pimenta. “Sempre é bom lembrar que a prática esportiva faz bem à saúde e, no caso do futebol amador, que é o mais democrático dos esportes, além de contribuir para que tenhamos menos pessoas doentes nos hospitais, ainda ajuda na formação de nossa juventude e na diminuição da violência urbana”, completou o parlamentar.
Para resolver esse e outros problemas, a Comissão de Esporte vai se empenhar, a partir de agora, em articular todos os segmentos envolvidos e formular uma política estadual do setor, a ser aprovada na ALMG. De acordo com o deputado Geraldo Pimenta, a organização de um ciclo de debates e a realização de uma série de audiências públicas pelo interior em torno do tema vão embasar a iniciativa.
“A comissão vai perseguir esse objetivo. De imediato, não podemos perder mais campos. Muitas vezes, mais do que ajudar o futebol amador, o poder público também tem que parar de atrapalhar”, criticou o deputado Anselmo José Domingos. Ele lembrou ainda outras ações positivas da comissão, como a lei que liberou a volta do consumo de álcool nos estádios. “Esse era um preconceito contra o futebol”, criticou.
O deputado Fábio Avelar Oliveira (PTdoB), como atleta amador e incentivador do esporte, lembrou ainda a importância da volta das partidas preliminares nos jogos profissionais como um incentivo decisivo ao futebol amador, tema que vem sendo debatido pela comissão. “Participar de um jogo assim é um sonho de quem pratica o esporte de forma amadora”, apontou.
Já o deputado Roberto Andrade (PTN) defendeu que, além de maior apoio do poder público, ele deve ser mais forte para as entidades que oferecem as escolas de futebol para crianças e adolescentes.
FMF - O vice-presidente da Federação Mineira de Futebol (FMF), Ernani Marcos do Carmo, informou que, atualmente, a entidade tem cerca de 300 ligas de futebol amador filiadas, sendo urgente uma maior articulação entre todas as pessoas vinculadas à atividade para que suas demandas sejam atendidas. “É bom ver todos unidos aqui em prol do futebol amador, mas a verdade é que ele ainda representa um sacrifício para quem o leva nas costas. As ligas ainda vivem do esforço dos seus presidentes”, lamentou.
O supervisor de Futebol Amador da FMF, Sérgio Henrique Romanelli, lembrou que Belo Horizonte tem apenas um campo de futebol amador gramado, o do Pitangui, clube tradicional, que é dotado de grama sintética. Levantamento recente da FMF apontou que cerca de 95% dos campos em atividade atualmente na Capital estão em terrenos pertencentes à Prefeitura e todos, sem exceção, precisam de alguma melhoria. “A Federação encara o futebol amador como instrumento de cidadania. Temos em Belo Horizonte 150 clubes organizados em três divisões e destinamos anualmente R$ 900 mil à modalidade. Arcamos com todos os custos e precisamos de mais apoio”, cobrou.
Já o presidente da Comissão de Arbitragem da FMF, o ex-árbitro Giulliano Bozzano, chamou a atenção para a necessidade de oferecer mais segurança aos árbitros. “Temos déficit de árbitros porque poucos ainda têm coragem de trabalhar em um campo de futebol amador. Eles são agredidos em um campeonato, o atleta é suspenso, mas reencontra o infrator em outra competição, que vai à forra. É preciso integrar a justiça desportiva no âmbito amador”, defendeu.
Governo quer reformar campos com ajuda de recursos federais
O assessor da Superintendência de Gestão de Estruturas Esportivas da Secretaria de Estado de Esportes, Diego Otávio Portilho Jardim, confirmou que, por limitações orçamentárias, não é possível atender a todos os pleitos do futebol amador. “Mas temos implementado algumas ações e estamos abertos a sugestões para melhorar nossa atuação”, ponderou.
Segundo ele, já foram cadastrados 145 campos na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e nas maiores cidades do interior do Estado. Destes, 42 devem ser selecionados para receber investimentos da ordem de R$ 20 milhões, sendo R$ 18 milhões de um programa do Governo Federal e o restante em recursos do Estado. “Também estamos tentando a reativação da parceria com a Cemig para bancar a iluminação de novos campos e buscamos o apoio de empresas como a Ambev, que também tem um programa com o mesmo fim”, destacou.
O gerente de Esporte de Rendimento da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Belo Horizonte, Sidney Jairo Zabeu, afirmou que um maior incentivo ao esporte amador merece uma reflexão aprofundada. “Esse tipo de política deve ser de Estado, e não vinculada a partidos ou políticos. O futebol praticado em campos de terra foi o ponto de partida das cinco estrelas que hoje estampamos no peito da camisa da seleção. O fato é que o orçamento em todas as esferas de governo vem diminuindo a cada ano, e o esporte é uma das primeiras áreas a sofrer com esses cortes. Por isso, os envolvidos com o futebol amador têm que se unir e mostrar sua força para mudar essa realidade”, avaliou.
Na mesma linha, o vereador de Belo Horizonte Juliano Lopes, ex-árbitro de futebol amador, disse que todas as suas iniciativas na Câmara Municipal para aumentar os investimentos no futebol amador foram frustradas devido a restrições orçamentárias. “A Secretaria Municipal de Esporte deveria ter um orçamento próprio para a manutenção dos campos de várzea, mas isso fica a cargo das Regionais. Com poucas áreas de lazer, temos jogos de manhã, à tarde, à noite e até de madrugada, se o campo tiver iluminação. A grama natural não aguenta. Temos que copiar a ideia de São Paulo, que já tem mais de 100 campos com grama sintética”, disse.
O capitão Carlos Eduardo Lopes, diretor adjunto de Apoio Operacional da Polícia Militar, apontou que a corporação também quer contribuir para o fortalecimento do futebol amador, já que o esporte é, na visão da PM, uma ferramenta eficaz para fortalecer o caráter dos cidadãos e promover o desenvolvimento da sociedade.
Por fim, o presidente da Associação Mineira de Desenvolvimento Humano (AMDH), Fernando Lúcio Correa, destacou que, muitas vezes, falta maior capacitação do gestor esportivo para obter os recursos já disponíveis. Ele é dirigente de uma entidade que atua em Betim (RMBH) na formação de jovens atletas, utilizando-se para isso de recursos federais da Lei de Incentivo ao Esporte. “Futebol é um negócio e não podemos ser ingênuos quanto a isso. Há toda uma economia girando ao seu redor. Precisamos conseguir vender essa ideia e, no futebol amador, não é diferente”, exemplificou.
Requerimentos - Na mesma reunião, a Comissão de Esporte aprovou dois requerimentos de audiências públicas. Os deputados Roberto Andrade e Anselmo José Domingos pretendem debater alternativas para diminuir o consumo de álcool entre adolescentes. Já o deputado Geraldo Pimenta quer discutir, de forma regionalizada, um diagnóstico e as perspectivas do futebol amador.